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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

SETENTA ANOS

João Gonçalves 21 Nov 11


«E a coragem? -É dizer o que se pensa. Se não disser o que pensa, não é interessante. As pessoas vão à procura de uma diferença. Não se trata de fazer uma diferença. Há uns tontaços a fazer isso pelos jornais. Ninguém os leva a sério. O grande problema de se tentar ser original — não estou a falar dos que são mesmo — inventar coisas para ser diferente e depois ter um mínimo de coerência. As coisas têm de ligar umas com as outras. Não têm que inventar discordâncias para se fazerem originais. Mas também não devem fazer o contrário. E o contacto com aqueles sobre que se escreve? - Não vejo por que é que um colunista deva ser capado politicamente. O que acho é que não se pode ser as duas coisas ao mesmo tempo. Sempre que estive dentro de alguma coisa, parei — tanto durante o Sá Carneiro, como durante o MASP. Não escrevi. Nem isso era possível com nenhum dos dois. Deixei de escrever em 1979, um ano antes de estar no Governo. Mas quando voltou teve de escrever sobre pessoas com quem tinha estado. Isto é uma máquina de acumulação de inimigos? - Definitivamente não. Há um tempo de irritação, que as pessoas têm, mas aquelas que têm algum carácter, liberdade de espírito, 15 dias, dois meses depois, digerem e não pensam mais nisso. Até acham graça.»

Vasco Pulido Valente em entrevista a Pedro Lomba, Público

TENTAR PERCEBER

João Gonçalves 26 Jun 11


As minhas cercanias vão ficar mais pobres. Vasco Pulido Valente muda da Quinta da Luz para a Avenida de Paris, a casa de infância restaurada. Estou a olhar para os livros dele, numa estante à minha frente, dos poucos que estão por ordem em função do autor. Devo-lhes sempre - e ao Vasco, quase diariamente, há mais de trinta anos - qualquer coisa.

Depois do livro da foto - o livro é de 1974 mas esta edição tem um prefácio de 2010 (era dispensável aquela coisa na capa da "edição do centenário da República") -, praticamente não se escreveu mais nada acerca do "5 de Outubro". Ou escreveu-se e não interessa. A ler, ou a reler, por estes dias.

«A República foi feita pela chamada "geração de 90" (1890), a chamada "geração do Ultimatum", educada pelo "caso Dreyfus" e, depois, pela radicalização da República Francesa de Waldeck-Rousseau, de Combes e do "Bloc des Gauches" (que, de resto, só acabou em 1909). Estes beneméritos (Afonso Costa, António José d"Almeida, França Borges e outros companheiros de caminho) escolheram deliberadamente a violência para liquidar a Monarquia. O Mundo, órgão oficioso do jacobinismo indígena, explicava: "Partidos como o republicano precisam de violência", porque sem violência e "uma perseguição acintosa e clamorosa" não se cria "o ambiente indispensável à conquista do poder". Na fase final (1903-1910), o republicanismo, no seu princípio e na sua natureza, não passou da violência, que a vitória do "5 de Outubro" generalizou a todo o país. Não admira que a República nunca se tenha conseguido consolidar. De facto, nunca chegou a ser um regime. Era um "estado de coisas", regularmente interrompido por golpes militares, insurreições de massa e uma verdadeira guerra civil. Em pouco mais de 15 anos morreu muita gente: em combate, executada na praça pública pelo "povo" em fúria ou assassinada por quadrilhas partidárias, como em 1921 o primeiro-ministro António Granjo, pela quadrilha do "Dente de Ouro". O número de presos políticos, que raramente ficou por menos de um milhar, subiu em alguns momentos a mais de 3000. Como dizia Salazar, "simultânea ou sucessivamente" meio Portugal acabou por ir parar às democráticas cadeias da República, a maior parte das vezes sem saber porquê. E , em 2010, a questão é esta: como é possível pedir aos partidos de uma democracia liberal que festejem uma ditadura terrorista em que reinavam "carbonários", vigilantes de vário género e pêlo e a "formiga branca" do jacobinismo? Como é possível pedir a uma cultura política assente nos "direitos do homem e do cidadão" que preste homenagem oficial a uma cultura política que perseguia sem escrúpulos uma vasta e indeterminada multidão de "suspeitos" (anarquistas, anarco-sindicalistas, monárquicos, moderados e por aí fora)? Como é possível ao Estado da tolerância e da aceitação do "outro" mostrar agora o seu respeito por uma ideologia cuja essência era a erradicação do catolicismo? E, principalmente, como é possível ignorar que a Monarquia, apesar da sua decadência e da sua inoperância, fora um regime bem mais livre e legalista do que a grosseira cópia do pior radicalismo francês, que o "5 de Outubro" trouxe a Portugal? (Adaptação do prefácio à 6.ª edição do meu livro O Poder e o Povo).»
Vasco Pulido Valente, Público

JOCOSO E SARCÁSTICO

João Gonçalves 21 Dez 09


Mais uma pequena e simbólica vitória da liberdade de expressão sobre o pretenso delito de opinião, de vez em quando inventado pela língua de pau em vigor para sobreviver no seu inner circle. «Palavras jocosas e sarcásticas não têm potencialidade para difamar.»

LEITURAS PARA O DIA DE REFLEXÃO - 5

João Gonçalves 26 Set 09


«Escrever é uma variante de pisar ovos. Os mestres do "correcto" vigiam, como nunca vigiaram os coronéis de Salazar. Até a sociedade portuguesa acordou de repente puritana. Cada cidadão, cada medíocre, cada engraçadinho pode esconder um polícia. Pior ainda: um delator e um explorador do escândalo. Os grandes crimes (como de resto os pequenos delitos) contra o corpo ou qualquer espécie de igualdade não se toleram, nem se desculpam. E, entretanto, o indivíduo morreu. Não fui feito para isto.»

Vasco Pulido Valente, Público (algures nestes quatro anos e meio)

NO TEU DESERTO, NO NOSSO DESERTO

João Gonçalves 3 Set 09


«Qualquer que seja o argumento invocado pela administração para suspender o Jornal Nacional de sexta-feira, este é um acto que não se pode praticar a um mês de eleições. Não se pode fazer uma coisa destas. Por isso, na sequência desta suspensão, entendi que não fazia sentido continuar. Se não sirvo para comentar à sexta-feira no Jornal Nacional, também não sirvo para comentar às quintas [na TVI24, com Rui Ramos e Villaverde Cabral]», disse Vasco Pulido Valente ao "i". Sousa Tavares já tinha permanecido na TVI, em 2004, aquando da saída de Marcelo. Nada de novo, portanto, do lado do escritor/comentador que lavou as mãozinhas do incidente.

O VASCO

João Gonçalves 14 Jul 09


O que agora mais me custa nas terríveis intermitências do sono é não encontrar o meu cão no silêncio da casa. Antes de o substituir por mais um comprimido, estive a ler a entrevista do Vasco Pulido Valente na revista com o mesmo nome. Uso o "do" porque, outro dia, ele proibiu-me de o tratar por professor (foi nessa qualidade que tropecei nele quando ainda tinha dezassete anos, na Católica) e exigiu "o" Vasco. Esta entrevista é das coisas mais notáveis que li dele, apesar das perguntas "pastosas" do entrevistador. O Vasco, entretanto, está para além de qualquer entrevistador. Estes anos - e outros tantos, de outros tempos e séculos, por causa da história - jamais serão devidamente entendidos sem se ler o Vasco. Sem se "ouvir" o Vasco. A vida dele é "tentar perceber" - e há melhor vida do que essa, por muito dolorosa que seja? - isto. Ainda não desistiu embora já não tenha paciência para "remastigar Portugal". Em poucas linhas, está lá tudo. Do génio - Eça - ao trash que é a designação que ele encontrou para este mundo em que quase tudo é quase já só sub-mundo: «a dimensão histórica das pessoas perdeu-se.» Umas páginas adiante, uma pequenina entrevista a um politólogo da moda, apresentado como "professor universitário e surfista", é elucidativa do que perdemos. Diz o Vasco que a sua voz é apenas uma "vozinha" que não dá para Verdi ou Wagner. Tomáramos nós ter esta "vozinha" do Vasco. Inconfundível e amarga, lúcida e sobriamente divertida, dada ao luxo da leitura e da escrita, bens escassos num tempo que é definitivamente da história. Vou-me deitar.

A HISTÓRIA DE PORTUGAL NUMA ENTREVISTA

João Gonçalves 31 Mai 09



Notável e serena reflexão sobre Portugal. De ontem e de hoje. O mesmo. O dos pequeninos. Nesta entrevista de António Ribeiro Ferreira a Vasco Pulido Valente. Aprendam, de um vez, "liberais" portugueses. «Não faz sentido ser liberal em Portugal. A gente vai libertar o quê? Onde estão os grandes empresários portugueses, como se estivesse aí uma multidão de empresários a querer livrar-se do Estado e das restrições que o Estado lhe impunha. Mas não está. O que está é um pequeno grupo de empresários que se quer encostar ao Estado. E depois um ou dois que são verdadeiramente independentes. Ou meia dúzia, ou se quiser uma dúzia (...). Ele esgotou as soluções que tinha e ele esgotou o crédito que tinha, sobretudo. Lembra-se do crédito que tinha há quatro anos? O homem inflexível, o reformador, o intransigente, o homem que não parava, o homem que ia mudar tudo e veja o estado em que está o País agora. Sem a reforma do Estado, com o défice muito pior do que tinha, a Justiça no estado em que está, não fez nada, não reformou nada, há o Magalhães e há o simplex e há assim umas coisas. Eu disse essa frase porque o crédito que ele tinha há quatro anos esgotou-se, ele esgotou-se como político, o crédito que ele tinha há quatro anos já não o tem e já não o torna a ter. Já ninguém vai reagir ao engenheiro José Sócrates como reagiu há quatro anos, com esperança, mesmo na direita. Em todo o PS e em grande parte do PSD e da direita. E isso acabou (...) Há tantas soluções possíveis. Falta discutir. Deixar de fazer disto um drama e discutir. Vamos ver como é que a gente resolve este problema. Calmamente. Tranquilamente vamos ver como. Ou então a gente diz assim: nós só podemos ser governados por um partido. De quatro em quatro anos temos de arranjar um partido. Uma ditadura de quatro anos se não o País não funciona. Não. Recuso isso..»

SOVA

João Gonçalves 24 Nov 07


Inclemente, a que Vasco Pulido Valente perpetra contra o recente calhamaço de Miguel Sousa Tavares, Rio das Flores, no Público de sábado. Detalhes que, decerto, escapam e não interessam nada ao «iliterado (a maioria dos leitores)» (sic) que fará do calhamaço de seiscentas e tal páginas o seu único livro de 2007. «Nada pior do que ler um livro mau, excepto escrever sobre um livro mau.»

Adenda: Na íntegra num comentário a este post.

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