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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Não havia necessidade

João Gonçalves 22 Mai 15

 

O Estado, nas pessoas do seu Venerando Chefe e do Senhor Primeiro-Ministro, inaugura hoje uma coisa em forma de imenso trambolho a que se dá piedosamente o nome de Museu dos Coches. Como uma desgraça nunca vem só, a TVI antecipou-a no seu "jornal da noite" de ontem ocorrido lá. E o "jornal" também não escapou ao infortúnio e ao mau gosto. Pelo meio até apareceu o equívoco da Ajuda, Barreto Xavier, para uns rápidos minutinhos de trivialidades à altura dos intervenientes. Terá, porém, escapado ao apresentador que o Museu original foi fundado pela notável mulher do não menos notável Rei D. Carlos? Obcecado em mostrar o transporte onde o Rei circulava  quando o mataram, o apresentador - e o pior interlocutor que Marcelo jamais teve nos cem anos que leva de estúdios de televisão - decidiu terminar o exercício a ler o "testamento do Buiça" não fosse dar-se o caso de esquecermos que vivemos numa República. Apesar de ser republicano, a futilidade do momento "pedagógico" incomodou-me. Não havia necessidade.

O enviado especial enquanto cabotino

João Gonçalves 26 Jan 15

 

Não vi a "cobertura" das eleições gregas na RTP mas parece que o "escritor" Rodrigues dos Santos, para lá enviado, perpetrou além da chinela. Percebe-se assim aquela imaginação transbordante, tão cabotina quanto prolixa no que rende nas "grandes superfícies", do "sonhar em fazer sopa de peixe com leite das mamas", entre outros delírios que, no fundo, resumem a sua extraordinária "fúria divina": “estão a passar-se coisas de grande gravidade” e "tem de haver uma explicação para estes comportamentos". Ou talvez não e, aí, o melhor é despejar-lhe os milhares de exemplares da sua profícua tijoleira pela cabeça abaixo e acabar com quaisquer dúvidas.

A voz do ungido

João Gonçalves 4 Set 14

 

Não sei por que carga de água recebi um mail da campanha do dr. Costa. Um conhecido meu também e supõe que é por estar inscrito num site de busca de empregos. Seria interessante saber quantos mailings a campanha do dr. Costa - para o PS, sublinhe-se, com o qual nem eu nem esse meu conhecido temos quaisquer relações - comprou ou quem os cedeu para aquela específica utilização. Para mim, como se deve notar, o dr. Costa é "spam" e vai directamente para o "lixo". Para outros, como alguns e algumas jornalistas, é a "voz do ungido" que nos chega milagrosamente seja por que via for. Foi o caso, ontem à noite, da exibição politicamente pornográfica de uma jornalista-comentadora num canal de notícias. Melhor do que qualquer um ou uma dos seus inábeis porta-vozes, a jornalista-comentadora "defendeu" o seu há muito "ungido" com um argumentário "notável" do ponto de vista democrático. Em resumo: Costa tem o apoio de toda a gente que conta (ela própria deve estar incuída neste saco de gatos), dando o exemplo das vetustas luminárias Alegre, Sampaio, Santos e Jardim e de todos os antigos secretários gerais à excepção de Constâncio e Guterres; Seguro está, por consequência, "cercado" e não tinha nada de convocar "primárias"; mas já que as convocou, imagine-se o problema que criaria ao PS a sua vitória (sic). Lá concedeu que Costa ainda não foi muito "claro" sobre o que tenciona fazer se ganhar, depois, as legislativas mas isso não interessa nada. O que realmente "preocupa" a jornalista-comentadora é a hipótese - remota, claro, dado o referido "cerco" - de, ao arrepio do que está "previsto", o outro ganhar. Ou seja, as "primárias" só servem (e aí são "boas") se tiveram um único resultado, o "previsto" e desejado. Nunca pensei que esta jornalista-comentadora, em concreto, tivesse estagiado na Coreia do Norte. Vou sempre a tempo de aprender.

Os "videntes televisivos" e a democracia

João Gonçalves 14 Ago 14

 

Vistos por Manuel Maria Carrilho. «O espaço público português está minado por excentricidades que a Europa não tolera, mas a que Portugal parece resignado. Como se tivesse perdido sensibilidade em relação ao seu carácter democraticamente devastador. Porque é na informação e no comentário que se constroem e destroem os factos, os projectos e os protagonistas políticos, decisivos para a vitalidade e qualidade da nossa vida colectiva. O seu poder é portanto imenso, e a sua responsabilidade devia ser do mesmo gabarito - mas não é! (...) André Macedo acerta em cheio quando diz que "a cama do poder mudou-se para o quarto poder". Mas também podia ter lembrado Stuart Mill, que escreveu que a democracia é sempre um combate contra os "interesses sinistros" que desprezam o bem público. E que o combate continua.»

"Passe-o na televisão", já dizia Salazar

João Gonçalves 8 Jun 14

 

 

«Como Seguro, Costa fez carreira no PS: não há outra maneira. É também um profissional da política e, portanto, não pode estar longe do aparelho. Mas o partido não lhe chega. Como Sócrates, de quem foi indefectível, às maçadas do aparelho prefere outro meio de chegar ao poder: os media. Tem uma relação ambivalente com o jornalismo: despreza-o, mas bezunta-o de graxa, tende a tentar controlá-lo (como Sócrates), enquanto jura pela liberdade de informação. Enquanto para Seguro o poder se alcança pelo trabalho da formiga, para Costa conquista-se pelo canto da cigarra. Enquanto Seguro não dá nada por adquirido e age timoratamente para que o país lhe entregue o poder, Costa, na esteira de Soares, acha-se um predestinado a quem o país deve o poder: acorda uma terça-feira, depois das Europeias, e anuncia que o PS e o governo são para ele. É um Messias de promessas vagas (um ‘governo forte’), um "Napoleão para as Esquerdas", na expressão de João Gonçalves no blogue Portugal dos Pequeninos. Napoleão não quis receber a coroa de imperador das mãos do papa e colocou-a ele mesmo na sua cabeça. Para Seguro, é uma injustiça que lhe tirem o partido que conquistou; para Costa, é uma injustiça que não lhe dêem o poder para que se acha talhado. Enfrentam-se agora o percurso de aparelho, de Seguro, e o percurso mediático-messiânico, de Costa. O primeiro leva a melhor no partido, o segundo leva a melhor nos media — os jornalistas também sofrem do atávico e reaccionário desejo de Chefe — e, por causa dos media, também nas sondagens. No combate dos próximos meses, Seguro gritará "o meu reino por um canal de TV" e Costa berrará "o meu reino por umas federações do PS"

 

Eduardo Cintra Torres,  CM

Um ano de embuste

João Gonçalves 12 Mai 14

 

«Neste ano, o que aconteceu? “Todos [os documentos legais] do lado do governo estão concluídos”, disse quinta-feira Maduro entrevistado na RTP que tutela. E estão. A lei da TV e rádio está alterada. Mas falta o parlamento aprová-la. Os estatutos e modelo de governança da RTP estão alterados. Mas falta o parlamento aprovar a lei. “Há uma orientação estratégica clara para a RTP”, disse. Pois há, nas lei de papel. Ao invés do que o ministro defende, a RTP acentua uma estratégia comercial agressiva. O cargo de “director-geral” inventado pela RTP é ilegal, e o ministro sabe-o. Nada fez, apesar de legalista. O dossier TDT está na mesma. Quer canais públicos internacionais fortes, mas submetendo os conteúdos a privados através de “parcerias”. Calou-se perante o silenciamento da RTP Internacional nos EUA por capricho autoritário da administração. Defende a “desgovernamentalização da RTP”, mas, sendo os que lá estão os mesmos que a governamentalizaram, o servilismo em potência apenas está hibernado. Para Açores e Madeira virão leis aliviando o desperdício pago pelos contribuintes do Continente, passando a ser os das regiões (e Europa) a pagar soluções semiprivadas ao serviço, como sempre, do poder regional. A RTP2 mudou no papel para o Porto, propaganda em que Maduro colaborou. O caso ilustra o “sistema” instalado: o director foi escolhido pelo seu “perfil” sistémico, agradando ao PSD a que esteve ou está ligado e ao PS que serviu quando na ERC. Escolhido o director, que é do “Norte”, está escolhido o “perfil” da RTP2: faz-se no Porto! Aí está ela, igual a sempre. Assim, após a reviravolta governamental, a RTP está na mesma pois o ministro assume que as suas leis resolvem. Mas não resolvem o carácter miasmático da empresa, sistémico, “pública” no pior sentido, medrosa, servil, alheada do serviço público.»

 

Eduardo Cintra Torres, Correio da Manhã

Não se constroem casas sobre a água

João Gonçalves 26 Mar 14

Boa noite e boa sorte, Mário.

A segunda parte

João Gonçalves 23 Mar 14

«Mário Crespo, agora de saída da SICN, criou o seu próprio estilo, o que é relevante no jornalismo, quer na forma quer no conteúdo. Gosta-se ou não, mas um estilo é mesmo assim. Não só acompanhou a agenda dos eventos relevantes, como trouxe temas novos e entrevistados fora da estafada lista de “conhecidos”, enriquecendo o debate público. Defendeu causas, o que não fica mal a um espaço jornalístico personalizado, destacando-o dos medrosos e sensaborões dos ecrãs. Sabe entrevistar, obtendo declarações que outros não conseguem (...). E, se na primeira parte do Jornal das 9 criou uma agenda própria, na segunda submeteu-se para além do razoável à partidarite parlamentar, com frente a frente desinteressantes e repetitivos de deputados papagueando posições das suas agremiações. Este aspecto é digno de nota. Os frente a frente com cabeças falantes dos partidos serviram como seguro de vida do programa. Parecia que, sem eles, o programa estaria sempre em risco. Tinha de ceder ao poder partidário para poder ter a primeira parte, mais livre e independente. O caso reflecte o que se passa na maioria dos canais: enchem os ecrãs com figurões dos partidos que pouco acrescentam ao debate público, em proporção com o tempo que lhe é dado; reproduzem posições partidárias, discutem palavras. Se os partidos têm decerto lugar nos espaços informativos e de debate, já o peso que lhes dá a maioria dos canais é exagerada para o que “produzem” em termos de informação e — a parte pior — resultam duma estratégia não expressa de os canais “estarem de bem” com o poder político em geral. O exagero da partidarite advém da fraqueza das empresas mediáticas e resulta numa limitação editorial. Por cada político sem nada para dizer fica por ouvir alguém que acrescentaria informação, conhecimento e opinião.»

 

Eduardo Cintra Torres, CM

Louvor e simplificação de Mário Crespo

João Gonçalves 21 Mar 14

 

Mário Crespo vai deixar a SICN a meio da próxima semana. E, simultaneamente, solicitou a sua reforma. Ou a sua reforma "solicitou" o fim do contrato com a SIC, whatever. O espaço noticioso que ocupava aquela estação, entre as 21 e as 22 horas, desaparece. Polémico e iconoclasta, parcial e imparcial, irritante e provocador, rigoroso e contraditório, Crespo nunca deixou ninguém indiferente o que é, para mim, o melhor elogio que lhe devo fazer. O "Jornal das 9" não se limitou a papaguear trivialidades em língua de pau como se não houvesse pessoas, circunstâncias e contingências à nossa volta. "Dava luta" até a ele mesmo. Muitas vezes, neste meu "espaço de liberdade" como o Mário um dia o apelidou, critiquei-o sem piedade. Todavia isso não ensombrou por um segundo a - julgo poder afirmá-lo mutuamente - estima que acabou por forjar-se precisamente em nome dessa liberdade de espírito comum. Vão atacá-lo por ter dado "demasiada" voz e tempo à agora chamada "geração errada" quando, néscios, não percebem que as coisas só medram expostas pelo verso e reverso delas. Mário Crespo deixa, porém, a sua impressão digital na informação televisiva (dos jornais já tinha sido banido por ter ousado roçar o velhinho delito de opinião) o que tantos outros jamais conseguirão deixar. Porque não o faz a cor cinza. Pode ter a certeza, meu caro Mário, que nem Deus ou Dante o vomitarão. Só reservam esse gesto para os mornos.

O prof. Maduro devia dedicar-se em exclusivo ao que aparentemente domina: a Europa e os fundos. Foi encerrar o congresso das freguesias, onde o vaiaram, em que alguns dos presentes deixaram a sala para não ter de o ouvir. E merecia outra solene vaia pela entrevista que concedeu ao Público de domingo. Porventura realizada antes desta outra, surrealista, do presidente da RTP, todavia a coisa não deixa de parecer uma contenda floral entre duas pessoas que manifestamente não se entendem. Mesmo assim, o ministro deveria ter sido questionado (nem que fosse a posteriori) sobre os ditos do seu original tutelado que parece andar "à solta". Por exemplo, o que é que justifica que uma empresa pública, cujos "encaixes" financeiros engordam este ano 26 milhões de euros à conta da taxa do audiovisual (paga o consumidor de electricidade independentemente de "consumir" ou não RTP), gaste mais de 80 mil euros em sessões místicas de "motivação"? O ministro diz que é para pagar rescisões e canais internacionais. Será? Mas Poiares Maduro discorre abundantemente sobre o novo "modelo de gestão" assente na figura do "conselho geral independente" cuja composição já repousa misteriosamente na sua "cabeça". Se lermos com atenção, na verdade Maduro só consegue tornar ainda mais turva a sopa da gestão da RTP com as "explicações" que adianta. Porque uma coisa é certa. Com mais ou menos anacoretas a girar pelo dito "conselho", a tutela financeira permanece no Estado, mais propriamente nas Finanças, o que significa no governo - neste e nos que se lhe seguirão. Tudo, de uma maneira ou de outra (até as presumíveis "remunerações simbólicas" do "conselho geral"), a expensas directas ou indirectas dos contribuintes. Maduro nem sequer teve a delicadeza política, contrariamente ao que faz com o Parlamento, de incluir o Presidente da República no escrutínio dos membros do "conselho geral". Por outro lado, reforça esse supremo conselho de bonzos que é o de "opinião" da RTP, o que talvez se justifique por ter vivido demasiado tempo fora do Portugalório e não entender a "natureza" de coisas como aquela. Relvas fracassou mas Maduro parece empenhado em seguir o "guião" de Beckett: tenta outra vez e fracassa melhor. Estamos para ver que "conselho geral independente" sairá da cabeça do ministro enquanto Alberto da Ponte, "motivadinho da silva", se ri. Nunca menos, decerto, do que alguém que se sujeite a exercícios de contorcionismo circense. E quem começa em contorcionista, aparece a seguir a fazer de trapezista e, com um bocado de sorte, acaba em palhaço pobre. Porque - como escreve Cintra Torres no Correio da Manhã - o extraordinário presidente da RTP, que depende da tutela técnica de Maduro e da tutela financeira de Maria Luís Albuquerque, não esclareceu se é um dos que "não faz puto" «por não cumprir o plano que apregoou, não ter estratégia de gestão e de produção, por reconhecer que a RTP faz os conteúdos que diz que não fará (encher chouriços), por só viajar e fazer marketing.» Qual é a parte que o prof. Maduro não percebe?

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