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portugal dos pequeninos

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Um inimigo familiar

João Gonçalves 23 Jul 13



«O Papa Bento XVI, um velho professor de Teologia Dogmática, insistiu em relembrar os fundamentos da doutrina e em reconstituir, na medida do possível, uma tradição ignorada e, agora, crescentemente desprezada. Não chegou longe, impedido pela indiferença geral e pela resistência interna e externa, que pouco a pouco o isolou. Quando saiu, o seu pontificado estava sem destino. O Papa Francisco resolveu seguir outro caminho.(...) Este Papa também não se interessa muito por batalhas teológicas, o que lhe interessa é reconquistar as massas, perdidas no ateísmo e na heresia, para o catolicismo: e a sua vocação para o espectáculo irá com certeza mudar a face da Igreja. Mas sem nenhuma concessão no essencial. O Papa Francisco acredita no Diabo e acredita que o Diabo está por detrás das desordens de que os verdadeiros crentes sofreram a partir de Pio XII. E, além disso, o Pai da Mentira é um inimigo familiar.»

 

Vasco Pulido Valente

Um forte entre fracos

João Gonçalves 20 Jun 13

 

Saudei vivamente, em 2005 a eleição de Joseph Ratzinger como sucessor de Pedro. Acompanhei de perto, neste blogue, o seu pontificado. Divulguei o que me pareceu essencial da mensagem de Bento XVI. A Igreja não é um ajuntamento de prosélitos mais ou menos "optimistas" sobre o tempo  apalhaçado e vazio que corre. Pelo contrário, a Igreja não existe para agradar à maioria ou para perpetrar espectáculos de rua - existe para confirmar os seus seguidores na fé mesmo (ou sobretudo) que isso implique "viver" em minoria ou em absoluta solidão. Numa circunstância ou na outra, subsiste a comunhão espiritual que institui, como sempre instituiu, a Igreja sem qualquer necessidade de esta se parecer com um conjunto pop "globalizado". É esse o cerne da fortaleza erguida a partir da pedra que Jesus apontou a Pedro. A Sua Igreja não se confunde com uma stand up comedy. Bento XVI nunca cedeu ao populismo. A sua altiva timidez, o seu rigor teológico e filosófico, a sua fidelidade à razão eram porventura incompatíveis com o "festim nu" de uma sociedade sem rumo à vista. Deus comanda a esperança contra toda a esperança, na expressão feliz de João Paulo II, mas Ratzinger nunca alimentou ilusões ou ambiguidades em relação à natureza humana. Retirou-se do mundo quando sentiu que servia melhor a Igreja oculto dele. Não foi, como muitos tolos julgaram então, um sinal de fraqueza. Representou, antes, um sinal de uma força enorme. Oxalá o Papa Francisco consiga, um dia, estar à altura desse extraordinário sinal.

«O populismo católico»

João Gonçalves 31 Mar 13



«Coisa estranhíssima num país católico, ou que se diz católico, quase ninguém discutiu a política do novo Papa, já mais do que evidente. E essa política é importantíssima para a América e para a Europa, onde a Igreja passa pela sua mais grave crise de sempre. A maioria dos católicos aproveita da Igreja o que lhe convém e rejeita o resto. A doutrina ortodoxa foi substituída por uma mistura de crenças, variável e muitas vezes contraditória, que se adapta melhor ao estilo de vida ocidental, não incomoda os crentes no dia-a-dia e sobretudo não impõe a mais leve proibição ao que eles querem pensar ou fazer. Um católico pode hoje, por exemplo, aprovar os contraceptivos, como pode ser a favor da homossexualidade e do casamento homossexual, sem qualquer dor ou distúrbio de consciência. Nestas matérias, o Vaticano passa por uma instituição obsoleta e anquilosada, cuja intransigência se não deve levar muito a sério. O Papa Bento XVI, um velho professor de Teologia Dogmática, insistiu em relembrar os fundamentos da doutrina e em reconstituir, na medida do possível, uma tradição ignorada e, agora, crescentemente desprezada. Não chegou longe, impedido pela indiferença geral e pela resistência interna e externa, que pouco a pouco o isolou. Quando saiu, o seu pontificado estava sem destino. O Papa Francisco resolveu seguir outro caminho. Sendo - como o seu nome indica - um franciscano, pensa manifestamente em reconstruir a Igreja de baixo para cima. Daí a insistência na humildade, no amor à Criação, na fraternidade humana e na pobreza relativa a que ele mesmo conseguiu chegar: não aceitou os sapatos da convenção, recusou o apartamento (suponho que magnífico) que era o dos papas desde o princípio do século XX e escolheu para ele uma hospedaria de padres num canto do Vaticano. Outros gestos como estes não tardarão a vir com o propósito transparente de surpreender e mobilizar o "povo de Deus". O franciscanismo foi na sua origem um movimento popular, que pretendia reconduzir a Igreja à sua pureza primitiva. Este Papa também não se interessa muito por batalhas teológicas, o que lhe interessa é reconquistar as massas, perdidas no ateísmo e na heresia, para o catolicismo: e a sua vocação para o espectáculo irá com certeza mudar a face da Igreja. Mas sem nenhuma concessão no essencial. O Papa Francisco acredita no Diabo e acredita que o Diabo está por detrás das desordens de que os verdadeiros crentes sofreram a partir de Pio XII. E, além disso, o Pai da Mentira é um inimigo familiar.»

 

Vasco Pulido Valente, Público


Nota: Vários leitores "indignaram-se" por VPV se ter referido a Francisco como franciscano e não como discípulo de Santo Inácio. Não sei se é um lapso mas isso só o próprio pode esclarecer. Para além disso, "franciscano" também pode querer dizer o que VPV escreve a seguir, isto é, "a insistência na humildade, no amor à Criação, na fraternidade humana e na pobreza relativa". E não tanto a pertença à respectiva ordem. Mas, para usar um novo uso filológico e substantivo facultado recentemente pelo serviço público de televisão, o que aqui importa é a "narrativa" e menos os detalhes. Não é o que toda a gente aplaude?

A jubilosa certeza

João Gonçalves 28 Fev 13

 

 



«O «sempre» é também um «para sempre»: não haverá mais um regresso à vida privada. E a minha decisão de renunciar ao exercício activo do ministério não revoga isto; não volto à vida privada, a uma vida de viagens, encontros, recepções, conferências, etc. Não abandono a cruz, mas permaneço de forma nova junto do Senhor Crucificado. Deixo de trazer a potestade do ofício em prol do governo da Igreja, mas no serviço da oração permaneço, por assim dizer, no recinto de São Pedro. Nisto, ser-me-á de grande exemplo São Bento, cujo nome adoptei como Papa. Ele mostrou-nos o caminho para uma vida, que, activa ou passiva, está votada totalmente à obra de Deus. Agradeço a todos e cada um ainda pelo respeito e compreensão com que acolhestes esta decisão tão importante. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja, através da oração e da reflexão, com aquela dedicação ao Senhor e à sua Esposa que procurei diariamente viver até agora, e quero viver sempre. Peço que me recordeis diante de Deus, e sobretudo que rezeis pelos Cardeais, chamados a uma tarefa tão relevante, e pelo novo Sucessor do Apóstolo Pedro. Que o Senhor o acompanhe com a luz e a força do seu Espírito! Invocamos a materna intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja, pedindo-Lhe que acompanhe cada um de nós e toda a comunidade eclesial; a Ela nos entregamos, com profunda confiança. Queridos amigos! Deus guia a sua Igreja; sempre a sustenta mesmo e sobretudo nos momentos difíceis. Nunca percamos esta visão de fé, que é a única visão verdadeira do caminho da Igreja e do mundo. No nosso coração, no coração de cada um de vós, habite sempre a jubilosa certeza de que o Senhor está ao nosso lado, não nos abandona, está perto de nós e nos envolve com o seu amor.»

Contra os Fariseus e os Saduceus

João Gonçalves 25 Fev 13

 

O Papa decidiu antecipar o conclave que irá escolher o seu sucessor. Fez bem. Com a "vociferante matilha do espectáculo" em acção, é preciso recuperar o Primado e o significado profundo das palavras de Jesus que consagram o mistério petrino (Mateus, 16):  «Os Fariseus e os Saduceus aproximaram-se de Jesus para o submeter à prova e pediram-lhe que lhes mostrasse um milagre do céu. Ele respondeu: "Quando vem a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado. E de manhã: Hoje haverá tormenta, porque o céu está de um vermelho sombrio. Hipócritas! Sabeis distinguir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Essa raça perversa e adúltera pede um milagre! Mas não lhe será dado outro sinal senão o de Jonas!" Depois, deixando-os, partiu. Ora, passando para a outra margem do lago, os discípulos tinham-se esquecido de levar pão. Jesus disse-lhes: "Guardai-vos com cuidado do fermento dos Fariseus e dos Saduceus." Eles pensavam: "É que não trouxemos pão..." Jesus, penetrando nos seus pensamentos, disse-lhes: "Homens de pouca fé! Por que julgais que vos falei por não terdes pão? Ainda não compreendeis? Nem vos lembrais dos cinco pães e dos cinco mil homens, e de quantos cestos recolhestes? Nem dos sete pães para os quatro mil homens e de quantos cestos enchestes? Por que não compreendeis que não é do pão que eu vos falava quando vos disse: Guardai-vos do fermento dos Fariseus e dos Saduceus?" Então entenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos Fariseus e dos Saduceus. Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: "No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?" Responderam: "Uns dizem que é João Baptista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas." Disse-lhes Jesus: "E vós quem dizeis que eu sou?" Simão Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!" Jesus então lhe disse: "Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus." Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo. Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia. Pedro então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: "Que Deus não permita isto, Senhor! Isto não te acontecerá!" Mas Jesus, voltando-se para ele, disse-lhe: "Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!" Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: "Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recuperá-la-á.»

A mesma dedicação, o mesmo amor

João Gonçalves 24 Fev 13

 

 



«Cari fratelli e sorelle! Grazie per il vostro affetto! Oggi, seconda domenica di Quaresima, abbiamo un Vangelo particolarmente bello, quello della Trasfigurazione del Signore. L’evangelista Luca pone in particolare risalto il fatto che Gesù si trasfigurò mentre pregava: la sua è un’esperienza profonda di rapporto con il Padre durante una sorta di ritiro spirituale che Gesù vive su un alto monte in compagnia di Pietro, Giacomo e Giovanni, i tre discepoli sempre presenti nei momenti della manifestazione divina del Maestro (Lc 5,10; 8,51; 9,28). Il Signore, che poco prima aveva preannunciato la sua morte e risurrezione (9,22), offre ai discepoli un anticipo della sua gloria. E anche nella Trasfigurazione, come nel battesimo, risuona la voce del Padre celeste: «Questi è il figlio mio, l’eletto; ascoltatelo!» (9,35). La presenza poi di Mosè ed Elia, che rappresentano la Legge e i Profeti dell’antica Alleanza, è quanto mai significativa: tutta la storia dell’Alleanza è orientata a Lui, il Cristo, che compie un nuovo «esodo» (9,31), non verso la terra promessa come al tempo di Mosè, ma verso il Cielo. L’intervento di Pietro: «Maestro, è bello per noi essere qui» (9,33) rappresenta il tentativo impossibile di fermare tale esperienza mistica. Commenta sant’Agostino: «[Pietro]…sul monte…aveva Cristo come cibo dell’anima. Perché avrebbe dovuto scendere per tornare alle fatiche e ai dolori, mentre lassù era pieno di sentimenti di santo amore verso Dio e che gli ispiravano perciò una santa condotta?» (Discorso 78,3: PL 38,491). Meditando questo brano del Vangelo, possiamo trarne un insegnamento molto importante. Innanzitutto, il primato della preghiera, senza la quale tutto l’impegno dell’apostolato e della carità si riduce ad attivismo. Nella Quaresima impariamo a dare il giusto tempo alla preghiera, personale e comunitaria, che dà respiro alla nostra vita spirituale. Inoltre, la preghiera non è un isolarsi dal mondo e dalle sue contraddizioni, come sul Tabor avrebbe voluto fare Pietro, ma l’orazione riconduce al cammino, all’azione. «L’esistenza cristiana – ho scritto nel Messaggio per questa Quaresima – consiste in un continuo salire il monte dell’incontro con Dio, per poi ridiscendere portando l’amore e la forza che ne derivano, in modo da servire i nostri fratelli e sorelle con lo stesso amore di Dio» (n. 3). Cari fratelli e sorelle, questa Parola di Dio la sento in modo particolare rivolta a me, in questo momento della mia vita. Grazie! Il Signore mi chiama a “salire sul monte”, a dedicarmi ancora di più alla preghiera e alla meditazione. Ma questo non significa abbandonare la Chiesa, anzi, se Dio mi chiede questo è proprio perché io possa continuare a servirla con la stessa dedizione e lo stesso amore con cui ho cercato di farlo fino ad ora, ma in un modo più adatto alla mia età e alle mie forze. Invochiamo l’intercessione della Vergine Maria: lei ci aiuti tutti a seguire sempre il Signore Gesù, nella preghiera e nella carità operosa.»

 

Bento XVI, Angelus de 24.2.13, o último de Ratzinger enquanto Papa


Adenda: O inimitável frei B. Domingues, que perpetra no Público, parece feliz com a resignação de Bento XVI. Nem outra coisa seria de esperar deste "multiculturalista" cujas inclinações políticas, honra lhe seja feita, nunca escondeu desde os gloriosos tempos do "anti-fascismo" dos chamados católicos progressistas. Domingues aparentemente sonha com uma Igreja que possa reunir-se em secções partidárias ou em eventos filantrópico-culturais nos quais a Bíblia alterne, por exemplo, com Boaventura Sousa Santos. Que diabo (e o diabo aqui não aparece por acaso) quererá o frei dizer com "uma gestão mais democrática da Igreja"? Quando fala em "vítima de cegueira e de surdez ideológicas" não estará a contemplar as sombras da caverna que, há décadas e à conta do que sobretudo não saiu do Concílio Vaticano II, abriga de forma tão conspícua uma igreja pusilânime e fraca de espírito onde os Domingues se revêem com a "alegria" dos sacripantas?

Contra o proselitismo

João Gonçalves 18 Fev 13

 

Fátima Campos Ferreira juntou ontem à noite, na RTP1, meia dúzia de proficientes "teólogos" para discutir a resignação de Bento XVI e o futuro da Igreja. A católica, apostólica, romana, naturalmente. Mas o friso de "especialistas" ia desde um antigo ministro de Salazar a um imã muçulmano, passando por um rabino, um eurodeputado habituado à convivência diária com luteranos e protestantes (por questões laborais) e, last but not the least, o flamejante beato César das Neves. Não vi nada porque não presumo que se possa discutir a Igreja católica - e, sobretudo, Joseph Raztinger - com aquele deletério grupinho virado para o "multiculturalismo". Ora Ratzinger distinguiu-se no ministério petrino por duas coisas fundamentais. A primeira, por ter assegurado que a Igreja (repito, a católica, apostólica, romana) não fizesse proselitismo à conta de agradar aos "tempos" e à "ditadura das opiniões" dominantes. Desde 1970 que preferia uma Igreja mais pequena, consolidada na fé e na razão, a uma espécie de feira popular mediática onde "coubesse" tudo e o seu contrário. E a partir desta premissa, então, sim, dialogou sem temores reverenciais, ou preconceitos, com outras crenças. Depois garantiu que, para esse efeito, a  hierarquia e os servidores imediatos da Igreja não "acompanhavam" os "tempos" em matéria de corrupção moral e material. Nunca um Papa foi tão longe na denúncia e punição dos crimes praticados dentro da instituição. Ou deu publicamente conta do imenso vexame íntimo que isso lhe provocou. Há uma semana o Papa surpreendeu o mundo com o anúncio da sua resignação. Mas suspeito que ainda vai surpreender mais. Os diletantes convidados da F. C. Campos Ferreira é que, de certeza, já não surpreendem ninguém.

Renegar o orgulho e o egoísmo

João Gonçalves 17 Fev 13

 

«Mercoledì scorso, con il tradizionale Rito delle Ceneri, siamo entrati nella Quaresima, tempo di conversione e di penitenza in preparazione alla Pasqua. La Chiesa, che è madre e maestra, chiama tutti i suoi membri a rinnovarsi nello spirito, a ri-orientarsi decisamente verso Dio, rinnegando l’orgoglio e l’egoismo per vivere nell’amore. In questo Anno della fede la Quaresima è un tempo favorevole per riscoprire la fede in Dio come criterio-base della nostra vita e della vita della Chiesa. Ciò comporta sempre una lotta, un combattimento spirituale, perché lo spirito del male naturalmente si oppone alla nostra santificazione e cerca di farci deviare dalla via di Dio. Per questo, nella prima domenica di Quaresima, viene proclamato ogni anno il Vangelo delle tentazioni di Gesù nel deserto. Gesù infatti, dopo aver ricevuto l’“investitura” come Messia – “Unto” di Spirito Santo – al battesimo nel Giordano, fu condotto dallo stesso Spirito nel deserto per essere tentato dal diavolo. Al momento di iniziare il suo ministero pubblico, Gesù dovette smascherare e respingere le false immagini di Messia che il tentatore gli proponeva. Ma queste tentazioni sono anche false immagini dell’uomo, che in ogni tempo insidiano la coscienza, travestendosi da proposte convenienti ed efficaci, addirittura buone. Gli evangelisti Matteo e Luca presentano tre tentazioni di Gesù, diversificandosi in parte solo per l’ordine. Il loro nucleo centrale consiste sempre nello strumentalizzare Dio per i propri interessi, dando più importanza al successo o ai beni materiali. Il tentatore è subdolo: non spinge direttamente verso il male, ma verso un falso bene, facendo credere che le vere realtà sono il potere e ciò che soddisfa i bisogni primari. In questo modo, Dio diventa secondario, si riduce a un mezzo, in definitiva diventa irreale, non conta più, svanisce. In ultima analisi, nelle tentazioni è in gioco la fede, perché è in gioco Dio. Nei momenti decisivi della vita, ma, a ben vedere, in ogni momento, siamo di fronte a un bivio: vogliamo seguire l’io o Dio? L’interesse individuale oppure il vero Bene, ciò che realmente è bene? Come ci insegnano i Padri della Chiesa, le tentazioni fanno parte della “discesa” di Gesù nella nostra condizione umana, nell’abisso del peccato e delle sue conseguenze. Una “discesa” che Gesù ha percorso sino alla fine, sino alla morte di croce e agli inferi dell’estrema lontananza da Dio. In questo modo, Egli è la mano che Dio ha teso all’uomo, alla pecorella smarrita, per riportarla in salvo. Come insegna sant’Agostino, Gesù ha preso da noi le tentazioni, per donare a noi la sua vittoria (cfr Enarr. in Psalmos, 60,3: PL 36, 724). Non abbiamo dunque paura di affrontare anche noi il combattimento contro lo spirito del male: l’importante è che lo facciamo con Lui, con Cristo, il Vincitore. E per stare con Lui rivolgiamoci alla Madre, Maria: invochiamola con fiducia filiale nell’ora della prova, e lei ci farà sentire la potente presenza del suo Figlio divino, per respingere le tentazioni con la Parola di Cristo, e così rimettere Dio al centro della nostra vita.»

 

Bento XVI, Vaticano, 17.2.13

Um legado de verdade

João Gonçalves 12 Fev 13

 

Nas últimas 24 horas, uma catrefada de videntes e anacoretas apareceu a glosar a renúncia papal em nome da "ditadura das opiniões". Contra ela insurgiu-se oportunamente Bento XVI: «não se vergar perante a ditadura das opiniões, mas antes agir a partir do conhecimento interior, ainda que isso traga aborrecimentos.» Também existe a vertente "apostas" com clara vantagem para o correcto político-religioso (um Papa mais "jovem", mais "aberto", mais "multicultural" e outros disparates afins). Infelizmente a nossa Igreja, na pessoa do porta-voz do Conselho Episcopal, mostrou-se atrapalhada no comentário e apressada nos "desejos". Valeu a fala quase sempre avisada de D. Jorge Ortiga que daria, aliás, um excelente sucessor de D. José Policarpo à frente dos destinos institucionais da Igreja doméstica. Neste contexto tagarela, fui reler o livro da foto que recomendo aos conspícuos "especialistas". Constança Cunha e Sá, na tvi24, talvez tenha sido a boa excepção a esta cacofonia ignorante, tal como Francisco José Viegas ou Armando Pereira no Correio da Manhã e Henrique Monteiro no Expresso online. Em resumo, há décadas que Ratzinger avisa a Igreja para se preparar a viver em ambiente minoritário, porventura mais a pensar no espírito do que no número embora o número pesasse na reflexão. Em Luz do Mundo, Bento XVI evidencia isso mesmo quando compara a "religiosidade"europeia (em declínio como a própria "ideia" de Europa) com a crescente adesão ao catolicismo fora da Europa. A Igreja deve ajudar a «encontrar novas palavras e novos meios para possibilitar ao homem a ruptura com a finitude» dentro da verdade, uma palavra-chave do magistério deste Papa. E a verdade comporta o escândalo da Cruz - «a Igreja, o cristão e sobretudo o Papa têm de ter consciência de que o testemunho que têm para oferecer vai ser escandaloso, não vai ser aceite, e que isso os vai remeter para a situação da testemunha, do Cristo sofredor» - uma vez que «a fé cristã constituiu-se como contraponto a um novo desenvolvimento social, de modo que passou a ter de se opor repetidamente a poderosas opiniões triunfantes» o que obriga a «suportar a hostilidade e oferecer resistência». E aqui, o Papa é muito claro, em 2010: «Tenho confiança em que o bom Deus me dará a força de que preciso para fazer o necessário. Mas também noto que as forças vão cedendo.» É em nome da verdade («é o valor número um») que afirma claramente que, se o consenso fosse total em torno do seu pontificado, «teria de me interrogar seriamente se estaria, realmente, a anunciar o Evangelho todo.» É em nome da verdade que sustenta que «a vontade política não consegue ser, em última instância, actuante se não existir em toda a humanidade - e principalmente nos sustentáculos do desenvolvimento e do progresso - uma nova e aprofundada consciência moral, uma disponibilidade para a renúncia que seja concreta e que se transforme, para o indivíduo, na medida de valor da sua vida.» É em nome da verdade que combate a "ditadura do relativismo", «uma religião negativa abstracta que se transforma em critério tirânico e que todos devemos seguir», a qual, por consequência, constitui um perigo, i.e., «o perigo é que a razão - a chamada razão ocidental - afirma que reconheceu agora o que é verdadeiro, e apresenta uma pretensão de totalidade que é hostil à liberdade» já que «ninguém é obrigado a ser cristão». Mas, continua o Papa, «ninguém deve ser tão-pouco obrigado a viver a "nova religião" determinada como única e obrigatória para toda a humanidade.» A afirmação de Deus sofredor é algo que não ataca ninguém. Pelo contrário, os «processos de destruição extraordinários que nasceram da arrogância e do tédio, bem como da falsa liberdade do mundo ocidental», sim. Por isso é fundamental «compreender o dramatismo da época e guardar nela a palavra de Deus como a palavra decisiva, dando simultaneamente ao cristianismo a simplicidade e a profundidade sem as quais não pode actuar.» O grande ensinamento de Ratzinger, o teólogo e o filósofo, reside em chegar à verdade pela razão, aquilo que fez com que passasse para primeiro plano do seu pontificado "a luta pela unidade entre a fé a a razão".  «Continua a ser a grande tarefa da Igreja unir a fé e a razão, o olhar para além do tangível e, ao mesmo tempo, a responsabilidade racional, pois elas foram-nos dadas por Deus. É isso que distingue o ser humano.» Finalmente, um olhar céptico e realista para dentro da própria Igreja, para a "condição humana" da Igreja, que fará parte indelével deste legado de verdade de Bento XVI. «O Mal pertencerá sempre ao mistério da Igreja. Se olharmos para tudo o que os homens, e nomeadamente o clero, fizeram na Igreja, temos aí verdadeiramente uma prova de que Ele fundou a Igreja e a sustém. Se ela apenas dependesse dos homens, há muito que já teria perecido.»

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