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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

PAOLO EM MADRID

João Gonçalves 5 Jul 11



Tivemos divergências e concordâncias quando passámos pelo São Carlos ao mesmo tempo. Paolo Pinamonti, no entanto, foi o seu melhor director artístico da última década. O Teatro da Zarzuela de Madrid está de parabéns. O Paolo também.

Clip: Victoria de Los Angeles, El Niño Judio

NÃO FICA NADA

João Gonçalves 25 Set 08



Estou sempre a voltar ao São Carlos pelas piores razões. À beira de iniciar a temporada lírica com uma "herança" de Pinamonti - a segunda "jornada" de O Anel do Nibelungo, Siegfried, encenada por Graham Vick -, a direcção do Teatro tratou com os pés o maestro do coro, o italiano Giovanni Andreoli, que recusou o contrato de trabalho por seis meses proposto pela OPART e pelo director artístico Christoph Dammann, "heranças" de Mário Vieira de Carvalho. «Eu fiquei a conhecer a temporada deste ano pelos maquinistas do teatro. Eu, maestro do coro, não conhecia a programação», disse Andreoli ao Público. Dammann é objectivamente (já deu para ver) um mau director artístico do nosso único teatro lírico. E a OPART é uma péssima "solução" de gestão. O Augusto M. Seabra, aliás, explicou isto perfeitamente. Embora não haja praticamente ministro da Cultura desde Julho de 2000, conviria a José António Pinto Ribeiro colocar um termo a estas aberrações que acabam por custar muito dinheiro aos contribuintes, a maioria dos quais nunca pôs os pés em São Carlos e nem sequer sonha como é que aquilo "funciona". Tudo somado, este mandato da "esquerda moderna" em maioria absoluta é irrecomendável em matéria de cultura. O pouco que "mudou", mudou para pior. Não houve nada. Não fica nada.

O EMBUSTE - 2

João Gonçalves 23 Jul 08


A OPART "atacou" de novo. Desta vez para "apresentar" a temporada de ópera. Apanhei o resumo da coisa por uma jornalista da Antena 1, no carro. "Muito economês e pouca música", disse ela. O presidente da OPART falou em números - de espectadores, de récitas, de concertos, de outros espectáculos -, da crónica falta de dinheiro e da sua aparente habilidade para "contornar" os "recursos" a menos. Na reportagem ouviu-se o director artístico, o alemão Dammann, a murmurar umas vacuidades e o dito presidente a "justificar" o fracasso de Das Märchen, de Emmanuel Nunes. Retive a continuação da tetralogia de Wagner, iniciada por Pinamonti, e uma coisa qualquer encenada por Maria Emília Correia. Também retive que não esteve presente ninguém do ministério de Pinto Ribeiro, designadamente a sua secretária de Estado que, por acaso, foi da direcção do Teatro noutra encarnação. Uma vez que o presidente aprecia - e só lhe fica bem - falar tanto em números, convinha que esclarecesse, por exemplo, os valores reservados para o funcionamento do São Carlos (sobretudo despesas com pessoal e outros "quadros") por comparação com os afectos à produção artística, aquilo que verdadeiramente justifica o único equipamento cultural destinado especificamente ao teatro lírico. Os contribuintes, pode ter a certeza, ficar-lhe-iam tão gratos como surpreendidos.

LER OS OUTROS

João Gonçalves 15 Dez 07

Ainda sobre o lamentável Rigoletto em cena no São Carlos - e sobre o São Carlos e a "estratégia" Mário Vieira de Carvalho para a ópera -, vários textos do Augusto M. Seabra no seu Letra de Forma.

SHAKESPEARE NO SÃO CARLOS

João Gonçalves 1 Jun 07


Venho da estreia de Macbeth no São Carlos, ainda da "colheita" Pinamonti. Assisti, nos intervalos, ao babujar dos novos "directores". Lá estava o comissário Vieira de Carvalho e, entre outros, o engº João Paes que trouxe Renato Bruson ao papel titular noutra encarnação. Este é um espectáculo limpo, entre boas, razoáveis e excelentes prestações canoras e orquestrais. Deixo ao crítico - muito atento, venerando e obrigado - a "crítica". Ignoro de onde provém aquela população recreativa que enchia o Teatro. Parece que gostaram, porém não tenho a certeza se perceberam. Shakespeare é um dos grandes meteorologistas da alma humana. E Macbeth é simplesmente uma tragédia contemporânea. Toda a hubris do poder, da ambição, do oportunismo e da rapacidade que faz mover sociedades "democráticas" como a nossa, está concentrada naqueles quatro actos. "Life's but a walking shadow, a poor player that struts and frets his hour upon the stage and then is heard no more: it is a tale told by an idiot, full of sound and fury, signifying nothing." Sempre certeiro, este Shakespeare.

SÃO CARLOS, CINCO ANOS DEPOIS

João Gonçalves 28 Mai 07


Faz hoje cinco anos entrei pela primeira vez no São Carlos como fugaz membro da sua direcção. Ia lá desde os concertos para jovens geridos por José Atalaya, com os meus pais, aos domingos de manhã. No liceu, assistia, das defuntas "torrinhas", ao que se passava lá em baixo. Corria para o Coliseu, às "récitas populares", cedinho para apanhar bom lugar na "geral", com uns binóculos de caça que o pai de uma colega emprestava. Ouvi Kraus, pela primeira vez, na varanda do Coliseu de pé. Sim, porque o Coliseu, quando era vivo, era indissociável do São Carlos. Nesse tempo o Coliseu tinha um bar, um inesquecível bar, a que o saudoso Manuel Rio de Carvalho dedicou um magnífico artigo no Jornal de Letras, algures nos anos oitenta. Os bingos e a remodelação mataram esse esprit. Depois veio a Zampieri, a fogosa Zampieri com o Don Carlo, Il Trovatore e a Aida. Veio e ficou por muitas e felizes récitas, desde Luisa Miller à Força do Destino, da Norma à Manon Lescaut. Ribeiro da Fonte falhou uma Semiramide com Marilyn Horne, mas a Horne veio em forma de concerto. Pizzi encenou o mais belo Rinaldo a que assisti, com Tereza Berganza. Nos últimos anos de vida, João de Freitas Branco regressara ao teatro onde tinha, em pleno "fascismo", acabado com a obrigatoriedade do "black tie". Depois da EP - com João Paes, Serra Formigal, Manuel Vaz, Luís Barbosa e Ribeiro da Fonte - chegou a Fundação, o primeiro e mais decisivo passo para o abismo. Seguiram-se o instituto público e dois directores artísticos, um nacional e Paolo Pinamonti. Amaral Lopes, em 2002, convidou-me para integrar o conselho directivo com Pinamonti e uma senhora cujo nome já esqueci. Percebi rapidamente, como José Figueiredo com Salazar (não é presunção, é uma realidade), que o São Carlos só podia ser dirigido em ditadura. Mantenho-o. O actual governo acabou com o instituto e com Pinamonti, e criou uma entidade pública empresarial para pastorear o teatro e a Companhia Nacional de Bailado. A temporada em curso - que prossegue esta semana com o Macbeth - é ainda da responsabilidade de Paolo Pinamonti. Do senhor alemão escolhido pelo comissário Vieira de Carvalho, pouco se sabe e ele, seguramente, pouco há-de querer saber. Os novos responsáveis pela gestão, oriundos do ISCTE e do INH, só terão sucesso se efectuarem uma profunda ruptura no funcionamento da casa, agora com a CNB incluída. Ruptura que passa por acabar com sinecuras inexplicáveis, com disparidades salariais incompreensíveis e com uma burocracia interna totalmente desajustada e macrocéfala. O teatro deve concentrar os seus esforços e o dinheiro dos contribuintes na valorização dos corpos artísticos - coro, orquestra e, agora, bailado -, simplificando e reduzindo ao mínimo a componente "administrativa", ou seja, não adicionando os "vícios" do teatro com os da CNB. Quando me demiti - uma coisa que me doeu como doença incurável - defendi, como continuo a defender, que o teatro necessita de ser fechado para para se "reformar". O "show must go on" a qualquer preço não serve, a prazo, os interesses do teatro e, em última instância, os do público que desconhece "da missa a metade". O São Carlos é apenas uma ilha no meio da desgraça e da miséria gerais. Será. Salazar, todavia, considerava-o a "sala de visitas" do país e por isso o protegeu. Este regime e os seus serventuários têm-se servido mais do São Carlos do que jamais o serviram a ele. Não temos outro. Convinha, mesmo a quem não sabe dar-se ao respeito, respeitá-lo.

ISSO AGORA NAO INTERESSA NADA

João Gonçalves 14 Abr 07

Um bom exemplo do que escrevi anteriormente reside na sublime escolha do Intendente Vieira de Carvalho - um resquìcio do "muro de Berlim" na Ajuda - para "assegurar" o funcionamento do nosso exclusivo teatro de opera enquanto Pinamonti sai e o homem de Colònia nao chega. Fica um engenheiro - mais um - à frente da coisa, reputado especialista internacional em musicologia, cortesia e croquetes, tudo qualidades exigìveis a um director de um teatro de òpera que se preze. Ana Pereira Caldas, da Companhia Nacional de Bailado é que o conhece bem, tal como o Tribunal de Contas, mas isso agora nao interessa nada, o lema "teresaguilhermino" do regime. O Sao Carlos é apenas um sintoma da "malaise socratique". Por mais que se espremam, jà nao vao a lado nenhum.
Nota: o teclado em uso é frances, com acentos para umas coisas e sem acentos para outras.

OPART, A INCÓGNITA CONVENIENTE

João Gonçalves 2 Abr 07


Lida a lei orgânica do Ministério da Professora Pires de Lima e do Intendente Vieira de Carvalho, fica-se sem saber ao que vem a OPART, a entidade pública empresarial que vai gerir – fundindo mas preservando as respectivas “autonomias artísticas” (o que é isto?) – o Teatro Nacional de São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado. Quanto à segunda, Ana Pereira Caldas, a directora, não se mostrou favorável à OPART, mas não foi até agora prejudicada por delito de opinião pelo Intendente Carvalho. Pelo contrário, Paolo Pinamonti, até ao final deste mês o director artístico do São Carlos, já foi sumariamente removido por carta. A OPART é um daqueles mistérios próprios de quem, possuindo uma estratégia de dirigismo político-cultural digno da Coreia do Norte – já que aprendido na defunta RDA – precisa de um instrumento adequado, de carácter administrativo-financeiro, para que a dita estratégia funcione. Os nomes contam pouco. Quaisquer serviçais do regime servem e o novo director artístico da única ópera de Lisboa tem o recado bem estudado. Mesmo que, neste momento, os contornos da OPART sejam uma incógnita conveniente e a “experiência Fragateiro”, no D. Maria (ensaio nº 1 da dita estratégia), esteja a soçobrar por todos os lados. Dammann, o homem que vai “preservar” a “autonomia artística” do São Carlos, vem de Colónia e Colónia não é propriamente um lugar indiferente em matéria de música contemporânea. Há dias, na Casa da Música, onde passava um trecho de Emmanuel Nunes, ministra, Intendente e o ilustre compositor fecharam-se num gabinete durante o intervalo e ninguém os viu na segunda parte. Nunes, é bom recordá-lo, tinha uma ópera encomendada por Pinamonti para o São Carlos. A instâncias dele, compositor, a entrega da encomenda foi sendo adiada. A dada altura, Emmanuel Nunes deu uma entrevista em que anuncia melhores tempos – para ele, naturalmente – para o São Carlos. Ou seja, Nunes antecipa a saída de Pinamonti antes de o Intendente a consumar. Pierre Boulez, o “patrão” do IRCAM a que pertence Nunes, consta estar farto do português. Mais. O português ensina em Colónia, onde existe o Studio der Neue Musik Köln. Em suma, Nunes “precisa” de um teatro de ópera. Ninguém é ninguém na música contemporânea sem estar ligado à “galáxia” IRCAM, ao referido Studio de Colónia, sem ser “compositor aprovado” no Instituto Internacional de Música de Darmstadt e sem ter obra aceite no Festival de Royan. O Intendente Carvalho sabe da poda. A OPART é apenas o proscénio.

Nota: Este texto está publicado no nº 3 da Revista Obscena (em pdf) e deve-se a um amável convite de Miguel-Pedro Quadrio e à amizade do Tiago Bartolomeu Costa. Quando foi escrito, Paolo Pinamonti já sabia que ia deixar a direcção artística do São Carlos, embora não soubesse que não teria o apoio de Mário Vieira de Carvalho para assegurar a transição até ao final de presente temporada, apesar da sua (a meu ver errada) disponibilidade. Carvalho que a garanta já que Pires de Lima, para este efeito e outros, não existe.

REQUIEM

João Gonçalves 31 Mar 07


Venho do CCB onde assisti ao Requiem de Verdi, interpretado pelo coro do Teatro Nacional de São Carlos e pela Orquestra Sinfónica Portuguesa. Bons solistas da "safra" Pinamonti que hoje termina. O ex-director artístico disponibilizou-se por carta- a meu ver mal, porque esta gente não merece consideração de maior - para assegurar a transição para o sr. Dammann e para os "boys and girls" que se seguem (porventura os mesmos ou idênticos o que vai dar ao mesmo). Naturalmente isso implicava novo contrato porque ninguém trabalha de borla. O prof. Carvalho chamou Pinamonti à Ajuda e, na presença de uma "testemunha idónea" porque ubíqua (vamos, em breve, com certeza ouvir falar dela), comunicou-lhe que não havia mais contratos. Mandou o serventuário embora já que, com este, o assunto tratar-se-á na devida altura. Com todos os seus defeitos e virtudes, Paolo Pinamonti não merecia esta "expulsão" digna do pior PC. É por isso que apreciei tanto uma ideia lida num jornal há uns tempos, justamente a propósito do "caso Pinamonti". Sair do PC é fácil. Tirar o PC de dentro dos que dele saem é que é impossível.

NOTÍCIAS DE ÓPERA

João Gonçalves 22 Mar 07


1. Vale a pena adquirir, às sextas-feiras, os "cd's" com óperas completas que acompanham a edição do Diário de Notícias. Uma excelente selecção.
2. Ainda a despedida de Paolo Pinamonti. Devo ser o único membro da direcção do São Carlos que saiu pelo seu próprio pé, demitindo-se - e não exactamente satisfeito por ter tido de voltar ao "jazigo de família" e não para qualquer sinecura - que tenciona estar presente no evento que a seguir se anuncia.

"Os signatários, exercendo ou tendo exercido a actividade de críticos musicais, seguiram com particular atenção ao longo de seis anos a programação do Teatro Nacional de São Carlos sob a direcção de Paolo Pinamonti. Como críticos, têm os signatários opiniões diferenciadas sobre as propostas artísticas dessa direcção e suas realizações. Mas nunca os signatários se haviam reunido como o fizeram para prestar o seu reconhecimento a Paolo Pinamonti, no momento em que vêem interrompida a continuidade de uma direcção que, face a repetidos constrangimentos orçamentais, tinha manifestado um esforço e uma imaginação continuadas em tentar responder às missões de um teatro nacional de ópera e aos níveis artísticos desejáveis. Mais entendem os signatários não só não serem compreensíveis os termos expeditos com que a tutela dispensou quem tanto tinha prestigiado o São Carlos, como observam com preocupação que um exercício de arbitrariedade política possa interromper a continuidade de trabalhos artísticos, para mais constatando que os responsáveis do Ministério da Cultura procederam ao contrário do disposto no programa do governo, no sentido da existência de "direcções artísticas menos dependentes da lógica de nomeação governamental". Nestas circunstâncias gravosas, entendem os signatários que é devida uma pública homenagem a Paolo Pinamonti, pelo que convidam todos os que se queiram associar para um jantar que terá lugar na próxima segunda-feira, dia 26, no Hotel Vila Galé Ópera (Travessa do Conde da Ponte, junto ao edifício da Orquestra Metropolitana de Lisboa), pelas 20h30. As inscrições e confirmações poderão ser feitas através do mail: bravopinamonti@gmail.com , ou por sms para 969534172 até ao próximo sábado, às 20h00. O pagamento, no valor de 26,5 euros, será efectuado à entrada.

Alexandre Delgado
Ana Rocha
Augusto M. Seabra
Bernardo Mariano
Cristina Fernandes
Henrique Silveira
João Paes
Jorge Calado
Maria Augusta Gonçalves
Rui Vieira Nery
Teresa Cascudo
Vanda de Sá"

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