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"Os tempos são ligeiros e nós pesados porque nos sobram recordações". Agustina Bessa-Luís
João Gonçalves 14 Mar 16
Numa carta de Novembro de 1969, enviada de Moçambique a Marcello Caetano, Baltazar Rebelo de Sousa fala às tantas do seu filho mais velho. "O Marcelo Nuno é, na verdade, uma boa cabeça - e, nos infelizmente curtos contactos que com ele tenho, "actualiza-me" quanto ao pensamento da sua geração e até quanto aos sistemas de ideias que vão tendo voga". Marcelo Nuno tinha apenas vinte anos, todavia o pai resumiu perfeitamente o futuro presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa: uma boa cabeça, sem dúvida das mais brilhantes e estimulantes da sua geração, "racionalizada" pela história e disponível para a contingência. Marcelo apresentou-se candidato ao país praticamente sem um programa eleitoral escrito, ou um "manifesto", como era costume. É certo que existiram dois ou três discursos iniciais que o substituíram, mas o essencial que Marcelo procurou transmitir foi ele próprio. E a genuinidade não o traiu. Pelo contrário, o grande comunicador solitário intuiu o que o "povo" queria e, sobretudo, o que não queria, depois da tagarelice infindável do último trimestre de 2015. Chegou à chefia do Estado sem dever nada a ninguém e de mãos inteiramente livres. Conhece o regime por dentro e por fora, o que faz dele presentemente o homem político mais bem preparado para o cargo que ocupa: os partidos (o objecto da sua dissertação de doutoramento), a chamada "sociedade civil", a complexidade social, económica e cultural do contemporâneo português e mundial, o transe europeu, as pessoas. A realidade vai bater-lhe à porta conforme bateu à dos seus antecessores. O muito mundo que Marcelo adquiriu, nas suas luzes e imperfeições, é a mais-valia para um mandato previsivelmente difícil. O balanço entre o institucional e o informal, a dessacralização do poder sem beliscar a autoridade, a firmeza na liberdade de espírito, o sentido útil do Estado e a preservação da autonomia privada, a defesa intransigente do interesse público aqui e na Europa, são desafios fortes a que, confio, Marcelo Rebelo de Sousa responderá inteligentemente e com ponderação, em linha com o que afirmou no dia da sua tomada de posse. "O presidente da República é o presidente de todos. Sem promessas fáceis, ou programas que se sabe não pode cumprir, mas com determinação constante. Assumindo, em plenitude, os seus poderes e deveres. Sem querer ser mais do que a Constituição permite. Sem aceitar ser menos do que a Constituição impõe. Um servidor da causa pública".
João Gonçalves 25 Jan 16
Já devem ter sido escritas e proferidas todas as palavras acerca do desfecho do acto eleitoral do dia de ontem. As que faltam - mesmo as que não faltam mas cujos produtores precisam ler-se e ouvir-se a si próprios - hão-de aparecer. Não concordo, por exemplo, com o breve escrito de Vasco Pulido Valente no Público salvo quanto à Esquerda e à Direita: a primeira saiu desfeita e a segunda está paralisada. De resto, não creio que o Presidente-eleito seja neutro. É livre e independente mas não será neutro. Todos foram mais ou menos livres e independentes (Cavaco acabou por ser o mais tolhido) mas nenhum foi neutro. Marcelo é especialmente livre e independente porque é mesmo assim. Dito isto, o "balanço" de dia 24 é simples. A frase é de VPV a propósito de um outro Presidente em que coincidimos no apoio. Queríamos os dois a mesma coisa: ele queria ganhar e eu queria que ele ganhasse. Ponto final, parágrafo.
Foto: Mário Cruz/EPA/JN
João Gonçalves 21 Jan 16
Este artigo é descaradamente uma dupla declaração de interesses. Desde logo um apelo vigoroso ao voto no próximo domingo. A eleição do presidente da República por sufrágio universal, directo e secreto, pertence ao código genético desta democracia. O equilíbrio de poderes que a Constituição prevê não dispensa essa escolha apesar da circunstancial predominância parlamentarista e governamental. É, aliás, o único voto dirigido a uma só pessoa a qual, por isso, responde directamente perante o país sem intermediários. Mesmo que seja oriundo de partido, o presidente uma vez eleito tem de deixar o partido à porta. E os partidos, em geral, lá onde os eleitores os puseram e pela ordem que os puseram: na Assembleia da República e, indirectamente, no Governo. A indecisão, a abstenção ou a indiferença são sempre fretes prestados ao que não se quer. Não vale a pena, por omissão, desprestigiar ainda mais uma campanha que não esteve à altura do património político evidenciado pela escolha livre do presidente desde 1976. Votar, pois, e num candidato em concreto: Marcelo Rebelo de Sousa. Marcelo é inseparável da nossa paisagem democrática. Nos jornais, ainda antes do 25 de Abril no "Expresso", onde estava também encarregado de fintar a censura. Depois fundando, enquanto administrador, o "Semanário" dirigido por Vítor Cunha Rego. Na rádio e nas televisões, onde todos tivemos pelo menos uma ocasião furiosa de discordar fortemente dele. No Parlamento, onde foi deputado constituinte. No Governo, com a tutela dos assuntos parlamentares, onde pôde praticar o que aprendera na análise política e no comprometimento partidário intenso dos primeiros anos do regime. Na oposição, como o presidente do PSD que sucedeu a dez anos de "cavaquismo" e que soube calibrar perfeitamente os deveres de Estado com o combate aos piores delírios "guterristas". Nas autarquias, onde foi vereador e presidente de assembleia municipal. Na universidade, onde ensinou fornadas e fornadas de futuros juristas, a maior parte dos quais anda por aí a pastorear a pátria em todos os partidos. Marcelo, até por causa desta biografia ou apesar dela, não vai para Belém em modo de facção. É genuinamente independente como todos os solitários calorosos o são. Basta-lhe ajudar governos e oposições a não levarem isto levianamente para o fundo. E basta-lhe ser igual a si próprio. O mesmo Marcelo que conheci no Guincho e a quem dei, um dia, boleia dali até Cascais. O do sol e vida. Da alegria.
Jornal de Notícias, 18.1. 2016
João Gonçalves 9 Dez 15
Uma sondagem coloca Marcelo Rebelo de Sousa vencedor a 24 de Janeiro. Dele para baixo é tudo muito mau. Os candidatos Nóvoa e Belém não chegam juntos a 27% das intenções de voto. Os restantes não passam de um dígito. E Neto não atinge sequer a unidade. Não será bem assim mas não será muito diverso. Marcelo alegadamente "come" em todos os eleitorados. O que significa ser o que melhor cresce da sua área política originária para o país. Sozinho, sem dar troco aos apoios, Marcelo saiu do estúdio da televisão sem nunca verdadeiramente ter de lá saído. Sai em Janeiro.
Adenda, a propósito: O artigo de 7.12.2015 no Jornal de Notícias.
João Gonçalves 10 Out 15
Há uns meses imaginei que Henrique Neto pudesse protagonizar uma candidatura presidencial por uma Nova República. Com uma biografia respeitável, Neto parecia estar em condições de mobilizar algumas elites do centro-esquerda ao centro-direita, sem apoucar a função partidária, e de chamar a elas correntes da opinião pública não completamente confortáveis com a "situação" e com a "oposição". A sua declaração de Março era inovadora e potenciava um papel diferente ao PR. Mas rapidamente Neto triturou esse potencial com uma obsessão ensimesmada, não pela ponderação desse papel, mas antes por um hipotético "programa de governo" que nenhum PR, nos pressupostos constitucionais em vigor, pode dirigir. Neto ficou assim capturado pela sua vaidade e limitado como candidato necessário a Belém. Na realidade tem dado permanentes sinais de que preferia candidatar-se a um cargo executivo e num sector específico. Em suma, "encalhou" no Porto de Sines e nunca mais de lá saiu. Ontem à tarde, todavia, chegou o Presidente. Se existissem dúvidas, o notável discurso de apresentação da sua candidatura presidencial cessaram com elas. Marcelo, como sempre previ contra a opinião do meu saudoso Amigo Medeiros Ferreira, "saiu" do estúdio para o país. «Conheço muito bem a Cconstituição que nos rege. Sei qual é nela o papel do Presidente da República. Estou consciente de como o estado do mundo e da Europa não deixam antever anos fáceis e de como Portugal tem de sair claramente de um clima de crise financeira, económica e social, pesada e injusta, que já durou tempo de mais. Para isso considero essencial que haja, como nas democracias mais avançadas, convergências alargadas sobre aspectos fundamentais de regime. Considero ainda que não há desenvolvimento, nem justiça, nem mais igualdade com governos a durarem seis meses ou um ano, com ingovernabilidade crónica e sem um horizonte que permita aos governados perceberem aquilo com que podem contar no quadro da composição parlamentar resultante daquilo que votam. Mas a estabilidade e a governabilidade têm de estar ao serviço do fim maior e o fim maior na política é o combate à pobreza, é a luta contra as desigualdades, é a afirmação da justiça social.» É isto: «uma caminhada feita por Portugal, com independência, com sentido nacional, com espírito de convergência e com afecto.»
João Gonçalves 21 Mai 14
«Ainda antes de ser servida a sopa, Marcelo Rebelo de Sousa aproximou-se do púlpito para proferir a intervenção mais aguardada da noite. Falou apenas catorze minutos, longe dos quarenta que interveio no congresso. E praticamente não se referiu a Paulo Rangel ou a Nuno Melo. Uma ou outra referência aqui ou ali, um leve passar a mão pelo pêlo, mas no essencial Marcelo inovou no argumentário: o principal motivo pelo qual ia votar na Coligação Aliança Portugal não era o facto de ele ser do PSD, nem pelo facto de a Aliança Portugal ser uma coligação que envolve o seu próprio Partido, nem por reconhecer mérito e qualidade aos membros da lista PSD-CDS, nem pelo facto de querer premiar o Governo e sancionar o PS (argumento que tem sido invocado até à exaustão nesta campanha). Não. Marcelo disse: "tenciono votar nesta aliança" (sendo que o "tenciono" pressupõe ainda uma margem razoável para dúvidas) "por causa de Jean Claude Juncker" (...) Rangel sorria tímida e discretamente. Melo nem por isso. Os convidados de honra, na mesa dos candidatos, procuravam disfarçar o incómodo. Na sala, viam-se cabeças a rodar para a pessoa sentada ao lado, na mesma mesa, sussurrando-se dúvidas e críticas aos ouvidos uns dos outros. Vai votar em Juncker, diz ele com orgulho. E não em Rangel e Melo ou no PSD-CDS. "Esta é que é a boa razão para se votar na AP" - gritou lá de cima para a sala timidamente aplaudir (...) Depois da sopa, vieram os discursos de Melo e de Rangel. Porém, ninguém falava noutra coisa senão nas palavras de Marcelo. "Vai votar no Juncker?!"; "Mas é disso que se trata?"; "Passou-se?!"; "Nem uma referência abonatória a Passos Coelho e ao Governo?!" (...) Sem que ninguém lhe tivesse perguntado nada, fez questão de esclarecer que o discurso que fez era "amigo", era "bom para o Governo". Ninguém lhe perguntou, mas quis dizer que não estava a "entalar o Governo", nem estava a ser "mauzinho para o Rangel e o Melo". Quis apenas limitar-se a falar do Juncker porque é, de facto, o que pensa. Estava, no fundo, a fazer uma boa acção. Marcelo jantou bem, em Coimbra. Além da sopa de legumes, repetiu a dose de lombo de porco assado. E em cima, como sobremesa, já perto da meia noite, ainda comeu uma rodela de ananás. Para facilitar a digestão. Estava satisfeito.»
Ana Catarina Santos, Diário Metafísico
João Gonçalves 19 Jan 14
Marcelo comentou a chamada "moção de estratégia" do dr. Passos na parte que alegadamente lhe diz respeito, as próximas eleições presidenciais. E considerou que Passos "considera" a sua putativa candidatura "indesejável". Pelo caminho, e fazendo uso de uma acta da reunião da direcção do PSD na qual ninguém se opôs à trapaça do referendo, acabou por sugerir que o mesmo dr. Passos e a verdade podem nem sempre coincidir: nessa unanimidade estava, à cabeça, o presidente do partido. E ainda teve tempo para questões de má educação. Passos podia ter-lhe telefonado a comunicar que não o queria em vez de permitir que o "recado" fosse passado aos jornais, como sugeriu, sorridente, o visado. Marcelo descreveu o cenário da moção de Passos no condicional. Ora Passos não conhece a conjugação condicional "se". E o país terá a infelicidade de constatar, depois do mítico "17 de Maio", que nada de substancial mudará na vida difícil das pessoas. Não há paraísos artificiais a não ser na literatura. E Marcelo não é pessoa que convenha ter-se por inimigo. Decerto que, na sua loquacidade semanal, jamais se esquecerá do qualificativo "passista", o "indesejado".
João Gonçalves 27 Jun 11
João Gonçalves 24 Out 10
João Gonçalves 22 Out 10
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...