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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

O ataque da viúva

João Gonçalves 21 Abr 13

É como diz a Helena, «os casais literários são uma canseira e uma estranha forma de vida.»

O REGIME NUM PRÉMIO

João Gonçalves 27 Jun 10

«Anuncia-se que lhe será atribuído o Grande Colar de Santiago, reservado, por regra, a chefes de Estado. Para fazer esta excepção, é necessário um decreto especial. O acto de investidura é marcado para o Palácio da Ajuda. Estão todas as figuras do Estado e as televisões fazem directos. Vou no meu carro oficial acompanhado de batedores, buscá-lo ao Hotel Altis, onde está hospedado. Sento-me à frente. No banco de trás, Saramago e Pilar gracejam. (...) Pilar é sempre ela - eis a sua força.»

José Manuel dos Santos, Expresso


«O prémio Nobel não garante a importância literária de ninguém. Basta ver a longa lista de mediocridades que o receberam. Pior ainda, o prémio Nobel é atribuído muitas vezes por razões de nacionalidade ou pura política, sem relação alguma com a obra, que num determinado ano a Academia Sueca resolveu escolher. Que Saramago fosse o único escritor de língua portuguesa a receber essa mais do que duvidosa distinção não o acrescenta em nada, nem acrescenta em nada a língua portuguesa. Só a patriotice indígena (de resto, interessada) a pode levar a sério e protestar agora indignadamente porque o Presidente da República se recusou a ir ao enterro do homem. Por mais que se diga, e até que se berre, Saramago não era uma glória nacional indiscutida e universalmente venerada.»

Vasco Pulido Valente, Público

LITERATURA E COISA DE FUTEBÓIS

João Gonçalves 24 Jun 10


Este é um artigo idiota e oportunista, não acerca de uma personagem política ou de um escritor, mas sobre a porteirice que domina as redacções de certos media e deste, onde o escriba debita, em particular. Um tipo que fala em "uma conspiração na sua (de Cavaco) Casa Civil para colocar notícias desagradáveis ao Governo" revela uma "categoria" deontológica. Já este é um artigo de um intelectual - que também é político - acerca de um escritor e, como tal, é uma opinião de quem conheceu de perto o escritor, quer por motivos oficiais, quer por genuína atenção àquilo que por aqui passa por cultura. O mais interessante das impressões de Carrilho é demonstrar que, muito provavelmente, Saramago teria detestado o que fizeram por aí com o seu cadáver durante dois dias. «Preparava-se então para seguir para Lisboa, mas estava preocupado com as notícias que tinha sobre o tipo de recepção que lhe estavam a preparar, "como se fosse uma coisa de futebóis". E acrescentou, em palavras que recordo como se fosse hoje: "Eu sou escritor, o que se fizer tem que ser uma homenagem à literatura.» Em 1998, vivo, como em 2010, morto, foi como "coisa de futebóis" que a varanda e o salão nobre do munícipio o acolheram e não como uma homenagem à literatura. Deixem-no finalmente em paz.

Adenda: No dito media ainda trabalham formas de vida inteligente livres de "raciocínios" louceiros primários à la Roseta ou à la Ana Gomes. «Seria de um grande cinismo Cavaco ir ao funeral do escritor. Hipocrisia. E seria atacado por isso. Preso por ter cão, preso por não ter. O PR fez a nota que lhe competia e mandou o seu chefe da Casa Civil. As presidenciais explicam o histerismo de quem o criticou. E a arrogância cultural de quem não percebe como se tornou possível o povo eleger para PR o filho de um gasolineiro de Boliqueime.»

É PROIBIDO?

João Gonçalves 19 Jun 10

O tom consensual e jubilatório em volta das exéquias oficiais de Saramago roça o obsceno patético. Não haverá ninguém que tenha a coragem - ou a oportunidade - de manifestar outra opinião sem ser votado ao ostracismo ou acusado de bruto? Ou é proibido não ser "fã" do escritor e do homem?

Adenda: Uma parvinha da RTP (a Felgueiras júnior) quer à viva força que Cavaco Silva apareça. E apareceram Céu Guerra e a tonta Roseta, para a secundar, a "mandar" Cavaco aparecer. Está tudo doido ou é mesmo assim?

Adenda2: Mas lá fora há direito a pensar de outra forma. «Foi um homem e um intelectual de nenhuma admissão metafísica, ancorado até ao final numa confiança arbitrária no materialismo histórico, aliás marxismo. (...) Colocado lucidamente entre o joio no evangélico campo de trigo, declara-se sem sono pelo pensamento das cruzadas ou da Inquisição, esquecendo a memória do ‘gulag’, das purgas, dos genocídios, dos ‘samizdat’ culturais e religiosos. (...) Relativamente à religião, atada como esteve sempre a sua mente por uma destabilizadora intenção de tornar banal o sagrado e por um materialismo libertário que quanto mais avançava nos anos mais se radicalizava, Saramago não se deixou nunca abandonar por uma incómoda simplicidade teológica.»

Adenda3: Para mim também. «Para mim, literatura é outra coisa. Ofício de palavras e não de ideologias. Com ou sem vírgulas, com ou sem parágrafos, com ou sem maísculas. Até porque muitas vezes o estilo, como bem disse o Mário Quintana, "é uma dificuldade de expressão".»

Saramago

João Gonçalves 18 Jun 10

Morreu Saramago. As "elites" não cessam de perorar sobre o Nobel. Enquanto bebia um café e comia um pastel de nata, desfilavam na tv, ao vivo e ao telefone, derramando sobre o dito cujo tanto quanto nunca se derramou sobre escritores maiores do que Saramago como, por exemplo, Jorge de Sena. Há uns anos Saramago entrou nos curricula liceais do regime e varreu a possibilidade de os meninos e de as meninas conhecerem literatura portuguesa aproveitável ou sofrível para além da dele. A "oficialização" cultural de Saramago começou quando, estupidamente, lhe proibiram um livro num concurso qualquer. O Nobel, festejado pela paróquia provinciana como uma vitória internacional no futebol, acentuou o carácter quase místico da figura que, daí em diante, passou a tratar abaixo de cão qualquer poder politico que não o bajulasse adequadamente. O que afinal subsistiu em relação a Saramago foi o velhinho temor reverencial de um país com lamentáveis "tradições" culturais que, entre outros, fez de Saramago um "símbolo". E é esse que vai ser exibido por estes dias. Poucos ou nenhuns recordarão o pequeno tirano do Diário de Notícias, a seca vaidade vingativa da criatura ou o homem que eliminou de edições posteriores à emergência da afamada Pilar as dedicatórias a Isabel da Nóbrega. "A morte absolve tudo", como ensinavam os latinos, mas nem tudo é absolvível pela morte. Paz à sua alma.

Adenda: O governo vai decretar - mediante conselho de ministros "extraordinário" - luto nacional. Ainda mudam o 10 de Junho de 1580 para o 18 de Junho de 2010. País de pequeninos parolos deslumbrados sem a menor noção da verdadeira grandeza.

APETECE CHAMAR-LHES TODOS OS NOMES

João Gonçalves 20 Mar 10

Um exemplo do "género" de CML a que preside o paineleiro de tv António Costa. A profissional da indignação fácil, a arq.ª Roseta, não diz nada?

O FREI E O ESTALINISTA

João Gonçalves 25 Out 09

O inevitável e inimitável frei Bento Domingues, no seu artiguinho semanal, defende, a propósito de Saramago, um "confronto na afabilidade" e cita um autor para defender o estafado diálogo entre crentes e não-crentes. O nosso frei é um multiculturalista que usa, por acaso, uma veste sacerdotal. Saramago é um falso multicuralista escondido, sem ser por acaso, numas vestes estalinistas. Quer dialogar com isto?

LEYAM-ME

João Gonçalves 23 Out 09



Julgo que o "assunto Saramago" pode - e deve - encerrar-se com as seguintes proposições. «Escrevo livros para os vender. Até os vendo bem já que o Nobel, o dr. Sampaio, o então bonzinho Guterres - que belo candidato daria com um aval idêntico àqueles que tenho andado a distribuir por tantos socialistas! - e as baboseiras com que insulto/engano/ponho na algibeira os tipos da direita ajudam. E dou graças a Deus - esse mesmo que tem feito tantos intervalos nas suas medonhas realizações para promover os únicos bens terrenos que são os meus livros e a Pilar - por haver Leya, Mário Crespo e o Balsemão, dois daqueles que cá cantam na algibeira. Lê-me e verás como tenho razão, leitor imbecil que andas enganado há mais de dois milénios.»


Foto: Cartoon de Carlos Jarnac publicado no semanário Sol.

O NOME DA COISA

João Gonçalves 21 Out 09


Evidentemente que não subscrevo tudo o que o Carlos Vidal escreve. Num momento em que a blogosfera declina em inteligência - sempre frenética e afoita atrás do derradeiro arroto da paupérrima vida pública nacional e do mais tolo protagonista numa espécie de "razão prática" do que há de pior - este post é notável porque é escrito - presumo - por um comunista sem complexos por ser comunista no século XXI. Sem, mais adequadamente, cedências. Este texto, por isso, não descreve um escritor mas um bronco. É esse, julgo, o nome da coisa.

«A arte e os artistas abominam esse “mundo melhor” de que fala Saramago, um mundo sem crueldade e sem vingança, um mundo clean, liofilizado e pasteurizado, uma coisa limpa, inodora e – pasme-se, o pior de tudo – um mundo racional e humano. Este sim, seria o horror dos horrores. Este paraíso da convivialidade, relacionalidade, harmonia e humanidade. Num mundo desses eu não gostaria de viver. Esse é o mundo dos poderes existentes (mas decadentes), o mundo da economia vigente, o mundo desenhado por ricos e poderosos, ou militantes e chefes das instituições poderosas que Saramago se tem especializado recentemente em apoiar: desde os Zapateros aos mais pequeninos Antónios Costas – fique ele com esse mundo que eu quero o mundo sacrificial do humano que deseja ultrapassar ou superar a sua fraca condição (que Georges Bataille, tudo menos católico, muito bem compreendeu!); gosto, sim, e não estou a fazer teatro nietzschiano, gosto do horror divino que inspirou Michelangelo a encarquilhar-se, mais em nome da arte que de Deus (!), durante mais de três anos nos andaimes da Sistina pintando o tecto que hoje celebramos e, evidentemente, Saramago não (impossível celebrá-lo – seria hipócrita se o fizesse). Michelangelo que desmanchou literalmente a sua ossatura vivendo três anos (!!) de ventre para cima com um tecto, uma parede branca e informe, como horizonte a dois ou três palmos da sua testa. Não, não seria o mundo limpo e humano de Saramago que o inspiraria, digo eu que o toscano não passaria um único mês naquela horrível situação de vida em nome desse mundo “humano”. Ora merda para o humano mundo “humano”. Que viva pois a crueldade da espada que Cristo, em Mateus, disse vir trazer à terra (X, 34-37). De facto, Saramago sabe ainda pouco. Quase nada.»

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