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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Estuários de sedimentos

João Gonçalves 13 Jan 13

 

O serão de sábado, no São Carlos, na homenagem aos 25 anos de carreira de Elisabete Matos, acabou por ser uma agradável surpresa. Não tanto pelo programa ou pelo público quanto pela presença, para além da Matos, do grande barítono espanhol Juan Pons. Pons "fez" de Macbeth nas várias cenas da ópera de Verdi que integravam o repertório escolhido (faltou Wagner, no ano dele, já que a Matos é, hoje em dia, uma das suas excelentes intérpretes: Sieglinde, Senta) depois de ter vindo cá, noutra encarnação, cantar o Falstaff. No final, no salão nobre, falei um bocado com Pons. Contou-me a história de uma gravação da Lucia com Domingo e Studer, falou-me dos palcos que percorreu entre a Europa e os Estados Unidos. Devolvi-lhe a lembrança do maravilhoso Nabucco no Met, com Ramey e a Guleghina, e ele no papel principal. Depois fui apanhar o metro até ao meu carro. Chovia levemente e lamentei, talvez estupidamente, o que ficou para sempre para trás. Na cabeça tinha as palavras do Conde Ladislaus de Almásy, "o doente inglês", de Michael Ondaatje, louvado em Heródoto. «Os portos de Éfeso, os rios de Heraclito desaparecem e são substituídos por estuários de sedimentos. A mulher de Candaules torna-se mulher de Giges. As bibliotecas ardem. Todas as coisas que amei ou acarinhei me foram roubadas. Morremos albergando em nós uma miríade de amantes e de tribos, de sabores que provámos, de corpos como rios de sabedoria onde mergulhámos e nadámos contra a correnteza, de personalidades como árvores a que trepámos, de medos como grutas onde nos escondemos. Quero tudo isto marcado no meu corpo quando morrer. Acredito nessa cartografia - quando é a natureza que nos marca, em lugar de apenas inscrevermos o nosso nome num mapa, como os nomes dos ricos nas fachadas dos edifícios. Somos histórias colectivas, livros colectivos. Não somos escravos nem monogâmicos nos nossos gostos ou experiências. Eu só desejava caminhar por uma terra assim, onde não existissem mapas.»

MATOS EM SÃO CARLOS

João Gonçalves 1 Jan 12



Auspiciosa a abertura do São Carlos em 2012. O "concerto de ano novo" demonstrou, uma vez mais, a qualidade dos corpos artístico-musicais do Teatro, a saber, a Orquestra Sinfónica Portuguesa (com uma saudação muito especial para a Irene Lima) e o Coro. E confirmou a Matos como uma grande intérprete mundial. Estão de parabéns o João Villa-Lobos e o César Viana enquanto responsáveis pela gestão da casa em tempos difíceis.

A ISABEL DA ELISABETE

João Gonçalves 8 Out 11




Don Carlos, de Verdi, a sua obra porventura mais "negra" e mais "política", regressa ao São Carlos. A última vez que lá passou foi em 1977 e no papel de Isabel de Valois estava Mara Zampieri. Agora está a Matos, a Elisabete Matos, que por circunstâncias várias vive lá fora e ombreia com qualquer das melhores intérpretes líricas do momento. Dos restantes intérpretes, da encenação ou da direcção musical pouco sei mas a Matos consola-me. Vamos ver.

O CHAPÉU DE TRÊS BICOS

João Gonçalves 22 Mar 11

Na tv estavam três comentadores. Dois deles são pessoas que muito estimo. A moderadora também. Antes de tirar o som, um dos que estimo estava a zurzir o PR. O outro fê-lo moderada e doutrinariamente, "inspirado" no "apelo angustiado" anti-catástrofe do seu velho amigo Mário Soares. E então tirei o som. Preferi o Manuel de Falla. A peça, toda, com Barenboim e Elisabete Matos.





IN QUESTA REGGIA

João Gonçalves 18 Jul 10



«O nosso país não oferece condições para estabelecer» uma carreira lírica, disse Elisabete Matos numa entrevista na televisão. Elisabete nasceu em Braga, vive em Espanha e é hoje uma extraordinária intérprete de ópera, do repertório "verista" a Wagner. Conheci-a no São Carlos e "segui-a" até ao Liceu de Barcelona. A Matos não cantar cá tanto como devia também releva da merda do estado da nação in questa reggia.

(clip: Puccini, Turandot. Festival de Toledo. 2008)

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