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"Os tempos são ligeiros e nós pesados porque nos sobram recordações". Agustina Bessa-Luís
João Gonçalves 25 Jan 16
Já devem ter sido escritas e proferidas todas as palavras acerca do desfecho do acto eleitoral do dia de ontem. As que faltam - mesmo as que não faltam mas cujos produtores precisam ler-se e ouvir-se a si próprios - hão-de aparecer. Não concordo, por exemplo, com o breve escrito de Vasco Pulido Valente no Público salvo quanto à Esquerda e à Direita: a primeira saiu desfeita e a segunda está paralisada. De resto, não creio que o Presidente-eleito seja neutro. É livre e independente mas não será neutro. Todos foram mais ou menos livres e independentes (Cavaco acabou por ser o mais tolhido) mas nenhum foi neutro. Marcelo é especialmente livre e independente porque é mesmo assim. Dito isto, o "balanço" de dia 24 é simples. A frase é de VPV a propósito de um outro Presidente em que coincidimos no apoio. Queríamos os dois a mesma coisa: ele queria ganhar e eu queria que ele ganhasse. Ponto final, parágrafo.
Foto: Mário Cruz/EPA/JN
João Gonçalves 21 Jan 16
Este artigo é descaradamente uma dupla declaração de interesses. Desde logo um apelo vigoroso ao voto no próximo domingo. A eleição do presidente da República por sufrágio universal, directo e secreto, pertence ao código genético desta democracia. O equilíbrio de poderes que a Constituição prevê não dispensa essa escolha apesar da circunstancial predominância parlamentarista e governamental. É, aliás, o único voto dirigido a uma só pessoa a qual, por isso, responde directamente perante o país sem intermediários. Mesmo que seja oriundo de partido, o presidente uma vez eleito tem de deixar o partido à porta. E os partidos, em geral, lá onde os eleitores os puseram e pela ordem que os puseram: na Assembleia da República e, indirectamente, no Governo. A indecisão, a abstenção ou a indiferença são sempre fretes prestados ao que não se quer. Não vale a pena, por omissão, desprestigiar ainda mais uma campanha que não esteve à altura do património político evidenciado pela escolha livre do presidente desde 1976. Votar, pois, e num candidato em concreto: Marcelo Rebelo de Sousa. Marcelo é inseparável da nossa paisagem democrática. Nos jornais, ainda antes do 25 de Abril no "Expresso", onde estava também encarregado de fintar a censura. Depois fundando, enquanto administrador, o "Semanário" dirigido por Vítor Cunha Rego. Na rádio e nas televisões, onde todos tivemos pelo menos uma ocasião furiosa de discordar fortemente dele. No Parlamento, onde foi deputado constituinte. No Governo, com a tutela dos assuntos parlamentares, onde pôde praticar o que aprendera na análise política e no comprometimento partidário intenso dos primeiros anos do regime. Na oposição, como o presidente do PSD que sucedeu a dez anos de "cavaquismo" e que soube calibrar perfeitamente os deveres de Estado com o combate aos piores delírios "guterristas". Nas autarquias, onde foi vereador e presidente de assembleia municipal. Na universidade, onde ensinou fornadas e fornadas de futuros juristas, a maior parte dos quais anda por aí a pastorear a pátria em todos os partidos. Marcelo, até por causa desta biografia ou apesar dela, não vai para Belém em modo de facção. É genuinamente independente como todos os solitários calorosos o são. Basta-lhe ajudar governos e oposições a não levarem isto levianamente para o fundo. E basta-lhe ser igual a si próprio. O mesmo Marcelo que conheci no Guincho e a quem dei, um dia, boleia dali até Cascais. O do sol e vida. Da alegria.
Jornal de Notícias, 18.1. 2016
João Gonçalves 13 Jan 16
No início da campanha oficial para a eleição de 24 de Janeiro, fomos surpreendidos pela retirada, por excesso e não por defeito, do PS dessa campanha. Pela primeira vez na história do partido, o secretário-geral do segundo maior partido nacional recomendou aos seus militantes e simpatizantes que apoiassem dois candidatos num sufrágio em que, tipicamente, se escolhe uma única pessoa. Aliás, fora o Bloco, o PC, o MRPP, o Livre (ainda há?) e a reformada Gama da Apre - que foi mais longe e sugeriu pau no jornalista Rodrigues dos Santos por não se ter curvado respeitosamente diante do candidato que ela apoia -, os principais partidos apenas "recomendam" o voto nesta eleição. Mas no caso do PS, mesmo com uma antiga presidente do partido no terreno, António Costa preferiu chamar ao acto as "primárias da Esquerda", como se as legislativas (e a questão governativa) ainda não estivessem encerradas. Ou como se houvesse um átomo de comparação com eleições em que os protagonistas das esquerdas, a democrática e as outras, eram respectivamente Soares, Zenha e Pintasilgo. Mesmo assim, o PS enquanto tal esteve sempre com um dos seus nas eleições presidenciais: quatro vezes com Soares, duas com Sampaio, uma com Alegre e, no processo de transição e de consolidação do regime democrático, com Eanes. Nunca esteve com dois, muito menos com o artificialismo de A. Nóvoa, que emergiu na política nacional pela mão de meia dúzia de "elites", há menos de meia dúzia de anos, e do actual PR, que lhe ofereceu palco retórico num 10 de Junho. Esse candidato, aliás, apresenta-se como o campeão das "causas", com mandatários ridiculamente a brotar por detrás de quarenta sombras, tantas quantas as "causas" que abraça, e de um evangélico "tempo novo" sem a menor substância. Quer estar, como disse no debate com a socialista M. de Belém, em "todos os espaços", o que significa que não compreende a função presidencial, que toma pela gerência de uma imensa colectividade de cultura e recreio. Duvido que, na sua pusilanimidade calculada, o secretário-geral do PS tenha contribuído para atalhar a abstenção, numa disputa débil em que nove pessoas pretextam agitadamente contra uma: Marcelo. Por sinal, a única que recentrou a eleição de 24 de Janeiro nos termos constitucionais, e politicamente adequados, ao sublinhar o papel do próximo chefe de Estado na recuperação plena do modelo semipresidencial tão desbotado pelas últimas práticas. A culpa é dele?
Jornal de Notícias de 11.1.2016
João Gonçalves 5 Jan 16
A toleima mais recente inventada contra Marcelo é que ele andaria a fazer de morto. Mas antes desta havia a que estava demasiado vivo: os jornais e as televisões só lhe propiciavam atenção para descaso das restantes notabilidades candidatas. Mesmo esta, a do excessivamente vivo, ainda não arrefeceu. Também usam uma carta, editada pelo malogrado Freire Antunes em livro, que escreveu ao então presidente do conselho, M. Caetano, onde "comenta" o congressso oposicionista de Aveiro à luz da dicotomia PC-restante oposição dita democrática, concluindo Marcelo pela prevalência do primeiro no evento e a fatal secundarização do "soarismo". Talvez haja alguém com suficiente imaginação para farejar "fascismo" no selo da carta ou "servilismo" nos cumprimentos endereçados a quem o remetente conhecia de bébé. Aliás, é sabido que o "marcelismo" tratou lindamente os primeiros números do Expresso onde Marcelo era director-adjunto. Se ele fosse da "situação", passar-lhe-ia pela cabeça fundar um jornal adepto de uma democracia liberal num regime em que o Pai era ministro? Com os seus dotes certamente teria procurado o dr. Dutra Faria ou o Diário da Manhã, e decerto não lhe faltariam recomendações. Estes epígonos de Saramago do DN ou, mesmo, do dr. Dutra devidamente reciclado para os devidos efeitos, andam sempre de tesoura alçada. Mas Marcelo não tem culpa destas eleições serem um deserto apesar de tanto "causalista" que por elas anda. Ora se não fosse ele, e por ele, a abstenção seria bem pior. Porque os outros só têm uma "causa" que resume as 40 de Nóvoa, as 27 de Belém, as 149 "previsões" do previdente da República Neto, os 37 panfletos da Marisa e as 50 "teses" do padre Edgar: Marcelo. Ele, calorosamente, agradece.
Foto: Miguel Manso
João Gonçalves 4 Jan 16
Acompanho atentamente as eleições presidenciais desde as primeiras livres em 1976. Não votei, era menor, mas já votei em 1980. E não só votei como fiz activamente parte da Comissão Nacional para a Recandidatura do Presidente Eanes", a CNARPE. O mesmo aconteceria em 1985-1986 com o Movimento de Apoio Soares à Presidência", o MASP, integrando uma obscura "comissão de juventude" onde conheci, entre outros, Seguro e Costa, e onde quem vinha da "Direita" era especialmente "acarinhado". Aliás, esta terá sido porventura a última grande campanha política para a eleição do presidente da República. A disputa de 1996 entre Sampaio e Cavaco, ganha pelo primeiro, já não teve metade da graça porque não havia mais ninguém. Jerónimo saiu de cena para Sampaio brilhar e o guterrismo, em princípio de carreira auspiciosa, fez o resto. Dez anos depois, Cavaco era o derradeiro candidato "natural". Estive com ele na derrota e na vitória, embora mais em letra de forma do que de outra maneira. Agora subscrevi a candidatura de Marcelo e, durante algumas breves semanas na primavera passada, tentei ajudar Henrique Neto "por uma Nova República" mas não deu. Com isto tudo quero significar estarmos perante as eleições presidenciais mais desinteressantes e politicamente medíocres de que tenho memória. Como se esta infelicidade não fosse suficiente, as televisões e as candidaturas combinaram uns debates improváveis, feitos a correr entre todos, enquanto a campanha não começa oficialmente. O que dará, em apenas quatro dias do novo ano e até ao final do dia de hoje, 14 (catorze) debates: duetos, tercetos, quartetos falhados e um na rádio com os dez magníficos. Ainda faltam vinte e tal e um final, em plena campanha e com todos, em canal aberto nas três generalistas. Salvo o devido respeito, é um mau serviço prestado à dignidade do cargo que esta gente (a maior parte ignora o que é que está a fazer nos boletins de voto num lamentável sinal do estado a que tudo chegou) se propõe exercer e uma ajuda à abstenção que nenhum candidato parece interessado em combater. Evitar as campanhas "tradicionais", que tiveram o seu tempo adequado e imprescindível, não implica este torpe exercício desincentivador de qualquer "esclarecimento" ou virtude cívica. O presidente eleito a 24 de Janeiro vai ter muito que se espremer para recompor as coisas. Desde logo para se recompor deste espectáculo sórdido.
Jornal de Notícias, 4.1.2016
Foto: Marcos Borga
João Gonçalves 30 Dez 15
A "lógica" encontrada para os debates televisivos entre candidatos presidenciais é nenhuma. Quem é que, mesmo gravando e vendo depois, está para gramar três debates num dia? E trinta ou quarenta e tal por junto, atamancados a correr entre o dia 1, sexta-feira, e o dia 10, data do início da campanha oficial? Até à campanha de 1985 -1986 (a de 1991 não conta porque era uma recandidatura), a última de jeito e digna de se chamar campanha política, só havia a RTP. Agora as três generalistas multiplicam-se por dois e o grosso dos debates tem lugar nas de "informação". Falta juntar aos sete previstos nos vários curtos espectáculos (45m) três candidatos que têm tanto direito aos seus minutinhos de fama como os outros. Tudo ocorre a correr na ressaca das "festas" e na vertigem dos saldos. Os principais candidatos a incumbente desdobram-se a comentar o diarismo noticioso. Fui sempre defensor da liderança institucional do PR pelo que este estado da arte superficial, "presencista" e sem um desígnio vigoroso, incomoda-me. Se há eleição em que o meio tem sido a mensagem (e a massagem) é esta. É curto.
João Gonçalves 16 Dez 15
Prosélitos de extracção variada andam preocupados com as desventuras de uma coisa a que chamam "centro". O "centro" andaria desaparecido. Sobretudo nos antecedentes e no lastro das eleições legislativas. Ora porque António Costa o desfez ao acabar com a mitologia do "arco da governação", encostando-o à sua esquerda, ora porque Passos Coelho e Paulo Portas representariam a "direita radical". E teriam esvaziado esse magnífico "centro". A lamechice é perpetrada com propósitos óbvios, quase sempre pelo mesmo coro de órfãos e órfãs do "centrão" da política e da maquinaria inerme do regime. Acontece que o "centro" é uma ficção utilitarista do activo comunicacional e da aposentadoria política prospectiva, usada para desgastar as "situações" internas partidárias. De um lado, para "obrigar" Costa a "pedir a mão" que ele manifestamente não tenciona pedir. Do outro, para "cortar" a putativa mão de Passos se ele agora decidisse "ir à vida" sozinho.
De resto, é contar pelos dedos da dita mão as vezes que o "centro" decidiu o poder no regime por se ter colocado contra quem se colocou. Em 1976, contra os resquícios revolucionários, elegeu Eanes. Em 1979, contra o "país das maravilhas" que só existia na cabeça do dr. Soares, escolheu a Aliança Democrática. Em 1987, contra o alvoroço "eanista" do PRD e contra a pusilanimidade de Constâncio, confiou-se a Cavaco. Antes, em 1986, permitiu que Soares fosse à segunda volta depois de ajudá-lo a derrotar Zenha.
Neste século, o "centro" apenas consentiu um poder absoluto: o primeiro de Sócrates. É claro que elegeu Cavaco duas vezes tal como irá eleger, em Janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa. Vai ser a última. Porque o que Costa percebeu melhor do que ninguém foi que a retórica do "centro" esvaíra-se. Ignorou-a quando viu que ia perder e instaurou, com sucesso, a dicotomia "esquerda-direita", ou melhor, esquerdas e direitas. Daqui em diante, e não é preciso ir buscar Alain para isso, quem não se afirmar das esquerdas é das direitas. E não vem mal ao Mundo por tal circunstância aparentemente ominosa. Salvo os candidatos presidenciais que, neste sistema de meias-tintas semi qualquer coisa, são obrigados a reclamar-se "de todos os portugueses" para chegar a Belém. Ao menos que estas provações outonais de 2015 tenham servido para chamar o nome às coisas. Longa vida, pois, às esquerdas e às direitas. O "centro", tal como o papagueiam, acabou.
João Gonçalves 11 Dez 15
Uma nova sondagem mostra um Marcelo todo-o-terreno. Ganha à primeira, fartamente, ganha à segunda, largamente. Nóvoa e Belém somam 29% das intenções de voto contra as 6% que cabem a Edgar e Marisa (3 cada um). Neto e Morais chegam individualmente à unidade. Marcelo paira sobre todo o regime como nunca nenhum candidato antes dele pairou, salvo nas recandidaturas (a de Soares, sobretudo). Isto sem a habitual parafernália das campanhas. Pelo contrário, Marcelo optou por uma campanha imaterial sobre todos os aspectos. Ele é simultaneamente candidato, porta-voz, cartaz, pendão, rede social, jornal, televisão, rádio, Ipad, livro, comissão política, mandatário nacional, regional e distrital, director de campanha, manifesto eleitoral, esquerda, direita, centro e telemóvel. É, em suma e nas palavras de Fernando Pessoa, uma "nação independente".
Foto: Pedro Azevedo
João Gonçalves 10 Dez 15
Enquanto comia uma maçã, assisti de pé à entrevista de António Nóvoa à SIC ontem à noite. Reparei que foi mais curta que a de Marcelo. Não se perdeu nada. O homem referiu-se mais do que uma vez a antigos Presidentes que o apoiam. A Eanes, pelo menos duas. Aliás, nos cartazes que espalhou por aí Nóvoa nem sequer aparece. O que se lê são frases dos três: Soares, Sampaio e Eanes. De resto, nada. Nóvoa pretende cavalgar o chamado "novo ciclo" pelo que se deixou de "desassossegos". O respeitinho é bonito e no "tempo novo" manda Costa que ele babujou o tempo inteiro. Mesmo assim o que transpareceu foi um tipo atarantado com aquilo em que se enfiou. Que divide efusivamente o país entre "esquerda" e "direita". Da mesma maneira que, num lindo momento folclórico, o dividiu entre o Norte e o Sul: "tudo no meu corpo é Minho, todo o meu corpo é Norte". Até me engasguei. Não ressuma ali um vestígio de uma ideia ou do que quer que seja que justifique um putativo voto. Como escreve Manuel Maria Carrilho, "nunca foi politicamente nada, a não ser, aos 60 anos, um ilustre desconhecido da política promovido a candidato presidencial por uma “ardente” brigada do reumático."
João Gonçalves 9 Dez 15
Uma sondagem coloca Marcelo Rebelo de Sousa vencedor a 24 de Janeiro. Dele para baixo é tudo muito mau. Os candidatos Nóvoa e Belém não chegam juntos a 27% das intenções de voto. Os restantes não passam de um dígito. E Neto não atinge sequer a unidade. Não será bem assim mas não será muito diverso. Marcelo alegadamente "come" em todos os eleitorados. O que significa ser o que melhor cresce da sua área política originária para o país. Sozinho, sem dar troco aos apoios, Marcelo saiu do estúdio da televisão sem nunca verdadeiramente ter de lá saído. Sai em Janeiro.
Adenda, a propósito: O artigo de 7.12.2015 no Jornal de Notícias.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...