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portugal dos pequeninos

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Um jantar de bonzos

João Gonçalves 27 Mai 14

 

Aquela trupe valentemente sovada nas eleições de domingo, e que constitui o Conselho Europeu, janta esta noite em Bruxelas em mais um "encontro decisivo" para falar do sucessor do fatal dr. Barroso. Parecem personagens de um famoso filme mudo. Infelizmente estes falam.

Dia de pastar a vaca

João Gonçalves 24 Mai 14

 

«O "dia de reflexão", na sua prudência e no seu rigor, impede que se escreva uma palavra sobre política, não vá o eleitor sensível ser indevidamente influenciado à última hora. Esta restrição, de resto, não incomoda ninguém. Segundo a grande imprensa e as televisões, Portugal tem vivido com todo o conforto intelectual da receita para tempos normais: do Benfica, de Ronaldo, do crime e das catástrofes naturais. Bastou o Benfica para nos trazer semanas num incomparável balanço de entusiasmo e de angústia. O campeonato foi uma espécie de acto divino contra a inaturável arrogância do domínio alheio. A Taça da Liga foi uma satisfação merecida. Turim, desgraçadamente, um desespero. E a Taça de Portugal, que fechou um "triplo" nunca visto, desceu até ao fundo do coração. Melhor do que isso, cada português pôde viver esta epopeia em pormenor: os jogos, que nos animaram e apoquentaram; os prognósticos délficos dos sócios; os comentários (muito variados do treinador e dos jogadores do dia); as sessões triunfais no Marquês de Pombal e em vilas num canto obscuro da província. Esta força, esta glória, que desabaram vicariamente sobre nós consolam muito. E também a análise douta dos peritos, que revela o que nós não conseguimos ver e nos descobre de repente a cintilante beleza de um movimento táctico. O Benfica, confessemos, subiu à vertiginosa altura de Portugal. Só a lesão muscular de Ronaldo, que não passa de vez, verdadeiramente nos preocupa. Ele precisa ainda de ganhar a Champions e o Campeonato do Mundo para nos curar e redimir. Entretanto, além da final entre o Real e o Atlético de Madrid e as próximas batalhas do Brasil, a televisão e a imprensa oferecem, para a nossa distracção e aprimoramento cultural, uma dose tranquilizante de crime crapuloso. Não faltam tiros, não faltam facadas, não faltam crianças desaparecidas. Caso mais notável, não faltam mesmo malfeitores desaparecidos. Manuel Baltazar, o Manuel "Palito", por exemplo, que matou a sogra e uma tia e feriu a mulher e a filha, resistiu à perseguição da Judiciária e a forças da GNR a pé e a cavalo durante 34 dias, no imenso território de São João da Pesqueira. A confiança das populações na autoridade, se existia antes, com certeza que se fortificou. E o português valente ressuscitou. Bem precisava.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

 

«Se eu quiser escrever que foi penoso ver a "rua" dos candidatos, em particular, os da maioria, será que o posso dizer? Será que posso dizer que a "rua" desses candidatos foi uma completa mistificação para obter imagens televisivas, daquilo que foi um dolo total, um não-acontecimento, feito de toca e foge, para não haver sarilhos, será que o posso dizer? Será que posso escrever que foi também penoso ver os líderes do PSD, chamados à campanha pelo mestre da coreografia mediática, numa pirueta do tipo das que os seus discípulos na comunicação social gostam muito, e totalmente vazia de significado político, e depois terem tanta vergonha dos candidatos e da campanha que chegaram às suas imediações pestíferas... para irem apoiar o candidato luxemburguês ou dizerem que "votem A ou B, o que conta é votarem"? Será que posso falar da indigência dos candidatos da maioria, a fazer campanha contra um primeiro-ministro do passado, como se agora o PS resolvesse fazer uma campanha contra Santana Lopes? Ou, do vai-não-vai de Mário Soares, à campanha do super-homem da Juventude Socialista de peito feito em que uma caneta inscreve a fogo ou a sangue uma cruz? Ou de como o selfie do PS é uma afronta aos direitos humanos da câmara fotográfica que teve de rebaixar a sua condição de telefone inteligente para minimizar o ar de parvos dos fotografados, que é o aspecto que os selfies dão às pessoas? Será que posso hoje falar em nome dos direitos da máquina, obrigada a estas violências? Será que posso escrever que a campanha de Marinho e Pinto, a única campanha dos pequenos partidos que, por puros critérios jornalísticos, devia ter uma muito maior cobertura, até porque o seu populismo é uma "fruta da época" que exige atenção, foi a mais prejudicada de todas por critérios que favorecem sempre PSD, CDS, e PS? Será que posso dizer que a campanha mais verdadeira, menos enganadora, aquela em que o que há é o que se viu, foi o retrato cruel da solidão política do POUS, no momento em que as televisões filmaram solitária, com a mesma faixa sempre reciclada, Carmelinda Pereira à porta de uma fábrica? Ou dizer aquilo que é evidente que a única campanha que não teve medo da "rua" foi a da CDU, porque é o que é, e a mais não se sente obrigada? E está hoje, como sempre, melhor entre os velhos de Serpa, do que a do PSD-CDS que nem sequer já tem o "cavaquistão"?»

 

José Pacheco Pereira, idem

Passos e Aquiles

João Gonçalves 23 Mai 14

 

De acordo com um "especialista" em Passos Coelho, quando este passa a mão pelo cabelo, como que para o ajeitar, está irritado. Numa cervejaria de Lisboa, ontem ao almoço, e diante de uma plateia de mulheres, de pessoas com barba presumivelmente homens (o evento era primacialmente dirigido a senhoras) e a dra. Assunção Esteves, o PM ajeitou o cabelo antes de começar a falar. Tinha razões para estar aborrecido. Nunca deu qualquer importância à "Europa" e, ali, tinha de dizer duas ou três inocuidades a pretexto de terceiros. Da "Europa" só conhece o tratado orçamental de 2012, de que é um dos mais fiéis prebostes, e que o há-de "trair" mais depressa do que ele imagina. Depois soube-se que a dívida pública já vai em 132,4% do PIB e que a receita do IRS, nos primeiros quatro meses do ano, aumentou cerca de 10%. O que quer dizer que as pessoas, as famílias e as empresas andam sobretudo a pagar os juros da primeira. Uma semana off em Sines bastou para deixar as exportações - e a balança comercial por causa do aumento das importações - a tremelicar na sua manifesta incipiência. A ventoínha europeia, e dos mercados pós-eleições, pode atirar alguma lama para cima da "saída limpa" que, como diz alguém algures, nos pode vir a sair "cara". Finalmente nem os pulinhos do dr. Rangel à volta de cerejas ajudaram a campanha melancólica da "aliança" onde o senhorito Melo passou o tempo a balbuciar trivialidades, em péssimo português, quando, no seu lugar, devia ter andado Diogo Feio. Tudo visto e ponderado, Passos tem motivos de sobra para alisar simbolicamente a melena à semelhança de Aquiles com o calcanhar. A segunda parte da legislatura  - que começou sob a tirada épica "não abandono o meu país" depois da farsa política "irrevogável" do dr. Portas e do "sacrifício", sem uma palavra de reconhecimento, de pessoas sérias em nome da mais reles pantomima - tornou-se progressivamente num enorme embuste. Tão grande como o enorme aumento de impostos que marcou a primeira e cujo lastro persiste, indemne. O dr. Passos decerto não ignora que grande parte da não esquerda que vai votar no domingo votará fundamentalmente contra esta mistificação ameaçadora. O dr. Passos pode não ter "abandonado o país". Mas o país começa a despedir-se dele.

Um voto

João Gonçalves 22 Mai 14

 

As votações para a escolha do novo parlamento europeu começaram hoje (na Holanda e no Reino Unido) e acabam no domingo. Em plena campanha, a senhora Merkel, a verdadeira "união europeia" em pessoa, fez saber que já estava a "trabalhar" a próxima Comissão independentemente dos resultados destas eleições todas juntas. Por outro lado, Sarkozy saiu do jazigo provisório em que estava enfiado para defender a blindagem política da "Europa" em torno do eixo franco-alemão e a desigualdade institucional entre os Estados Membros, porventura para tentar travar, pela direita, a anunciada vitória do partido de Marine Le Pen. Apesar de o gigantesco pastelão constituído pelo PS Europeu e pelo PP Europeu assegurar uma vastíssima maioria em Bruxelas e Estrasburgo, tudo indica que os chamados "eurocépticos" crescerão significativamente. Tal como tudo indica que a "Europa" não aprenderá nada com isso. Os sucessos previsíveis desta gente na Holanda, na Inglaterra, em França e do sr. Tsipras na Grécia - o simétrico destes pela esquerda radical grega e um dos mais recentes "amigos" do dr. Soares que entretanto "amuou" com o PS, e vice-versa, talvez por causa disto - são muito mais interessantes para o que se vai passar em Portugal do que o resultado propriamente dito do domingo doméstico. A tão provincianamente celebrada "saída limpa" pode começar a "sujar-se" já na próxima semana se os famigerados "mercados" (que já estão a dar sinais disso) reagirem mal aos resultados naqueles países. E, famosamente, ao resultado grego onde devem andar pelo terceiro ou quarto "programa de ajustamento". De resto, a abstenção anuncia-se merecidamente bíblica porque, por todo o lado, os respectivos "sistemas" e regimes fizeram o possível por "consensualizar" uma campanha imbecil, sem substância, inculta e apolítica a que os "povos" foram alheios. A nossa, na sua rudimentar periferia alimentada a "casinhos" e a dichotes estúpidos, basta como exemplo. Não chegava a bovinidade geral, a alienação pela bola ou a pura indiferença. Os concorrentes, em geral muito medíocres mesmo sob formas de vida inteligente, limitaram-se a acrescentar mais pasto ao pasto. Votarei, todavia. Em homenagem a Medeiros Ferreira que já não foi a tempo de nos ajudar a livrar desta mesmice alucinada e nula com a sua inteligência luminosa e irónica. As pobres tricoteuses das campanhas não devem ter tido tempo para ler o seu último livro. Mas podem começar na segunda-feira. Está lá quase tudo do que aí vem e que não conseguem entender.

 

«Ainda antes de ser servida a sopa, Marcelo Rebelo de Sousa aproximou-se do púlpito para proferir a intervenção mais aguardada da noite. Falou apenas catorze minutos, longe dos quarenta que interveio no congresso. E praticamente não se referiu a Paulo Rangel ou a Nuno Melo. Uma ou outra referência aqui ou ali, um leve passar a mão pelo pêlo, mas no essencial Marcelo inovou no argumentário: o principal motivo pelo qual ia votar na Coligação Aliança Portugal não era o facto de ele ser do PSD, nem pelo facto de a Aliança Portugal ser uma coligação que envolve o seu próprio Partido, nem por reconhecer mérito e qualidade aos membros da lista PSD-CDS, nem pelo facto de querer premiar o Governo e sancionar o PS (argumento que tem sido invocado até à exaustão nesta campanha). Não. Marcelo disse: "tenciono votar nesta aliança" (sendo que o "tenciono" pressupõe ainda uma margem razoável para dúvidas) "por causa de Jean Claude Juncker" (...) Rangel sorria tímida e discretamente. Melo nem por isso. Os convidados de honra, na mesa dos candidatos, procuravam disfarçar o incómodo. Na sala, viam-se cabeças a rodar para a pessoa sentada ao lado, na mesma mesa, sussurrando-se dúvidas e críticas aos ouvidos uns dos outros. Vai votar em Juncker, diz ele com orgulho. E não em Rangel e Melo ou no PSD-CDS. "Esta é que é a boa razão para se votar na AP" - gritou lá de cima para a sala timidamente aplaudir (...) Depois da sopa, vieram os discursos de Melo e de Rangel. Porém, ninguém falava noutra coisa senão nas palavras de Marcelo. "Vai votar no Juncker?!"; "Mas é disso que se trata?"; "Passou-se?!"; "Nem uma referência abonatória a Passos Coelho e ao Governo?!" (...) Sem que ninguém lhe tivesse perguntado nada, fez questão de esclarecer que o discurso que fez era "amigo", era "bom para o Governo". Ninguém lhe perguntou, mas quis dizer que não estava a "entalar o Governo", nem estava a ser "mauzinho para o Rangel e o Melo". Quis apenas limitar-se a falar do Juncker porque é, de facto, o que pensa. Estava, no fundo, a fazer uma boa acção. Marcelo jantou bem, em Coimbra. Além da sopa de legumes, repetiu a dose de lombo de porco assado. E em cima, como sobremesa, já perto da meia noite, ainda comeu uma rodela de ananás. Para facilitar a digestão. Estava satisfeito.»

 

Ana Catarina Santos, Diário Metafísico

 

 

O manto diáfano da verdade

João Gonçalves 20 Mai 14

 

«Durão Barroso nunca teve peso político nenhum, tendo-se limitado a acatar obedientemente os ditames de Berlim. Perante o apagamento a que conduziu o cargo de presidente da Comissão Europeia, ocorre agora uma farsa, pretendendo fingir que o seu sucessor será eleito nestas eleições europeias. A verdade, no entanto, é que as eleições são para o Parlamento Europeu e o presidente da Comissão é escolhido pelo Conselho, tendo o Parlamento apenas o poder de confirmar ou rejeitar essa escolha. Angela Merkel já avisou que não abdicará de exercer no Conselho essa competência. Os eleitores podem assim votar num presidente e ver escolhido outro qualquer, guardando para recordação as selfies que os candidatos tiraram em Portugal. Tudo isto revela o profundo desprezo que os órgãos da União têm pelos eleitores. Há dias um obscuro funcionário da Comissão apareceu a dizer que com o fim do resgate o país recupera a sua soberania, mas que será apenas “a soberania suficiente para tomar as decisões certas”. Se tal não acontecer, “os mercados rapidamente tomarão a soberania de volta”, podendo ocorrer um segundo resgate. Portugal vive assim num regime de “soberania emprestada”. Comparar isto com 1640 é um insulto à Restauração, na sequência da abolição do feriado. Debaixo desta farsa, o que verdadeiramente existe é uma tragédia nacional.»

 

Luís Menezes Leitão, i

O factor Portas

João Gonçalves 20 Mai 14

Aparentemente Manuela Ferreira Leite terá o bom gosto de não aparecer na campanha da "aliança Portugal". Em 2009, enquanto presidente do PSD, incentivou e apoiou a candidatura "original" de Paulo Rangel ao parlamento europeu. Ganhou a aposta. Contra ele teve o CDS presidido pelo mesmo dr. Portas que surge numa fábrica, em 2014, ao lado do mesmo Rangel numa risota às escâncaras, parva e dúplice. Portas, o tudo e o seu contrário, ainda não entendeu que já só os indefectíveis dependentes, e dois ou três analfabetos funcionais, o levam a sério (Passos deixou de o levar quando o alcandorou a vice PM do "guião" da improvável "reforma do Estado" e a "coordenador" de viagens com "empresários"). Ficará para a "história" desta maioria como o seu maior instabilizador político e, para o país, como aquele que, no auge do "programa de assistência" (temporada Primavera-Verão de 2013), se dispôs a deitar tudo a perder em nome da sua vaidade e ambição como ficou adequadamente registado aqui. Se existe um "factor" perturbador dentro da coligação, e no país, ele tem um nome e um rosto. Não é preciso recorrer a fantasmas.

Não conhecia esta proposta da maioria mas não me surpreende. Vejamos o que o ministro "verde-mar" Moreira da Silva dirá sobre isto. Por outro lado, a improvável dupla Rangel/Melo, em menos de 48 horas, já se revelou desastrosa. Rangel é civilizado quanto basta (embora lhe ande a puxar o pezinho para a chinela) para aparecer ao lado do marialva Melo que está sempre com aquele ar de quem se prepara para dar um murro no primeiro cidadão que se cruzar com ele na rua. Devia andar sozinho, deixar Melo entregue à sua iconoclastia taurino-política e proibir Fernando Ruas de se afastar do perímetro rural de Viseu.

Temos sempre o que merecemos

João Gonçalves 11 Mai 14

 

Sem que se tenha dado por isso, começou este fim de semana a campanha para as "europeias" de 25 de Maio. Aconteça o que acontecer por essa Europa fora, ela já está "amarrada" à "Europa" do tratado orçamental. Vença o Partido Socialista europeu ou vença o Partido Popular europeu, o "destino" da coisa não sofrerá grandes oscilações. É bem mais excitante o que se vai passar na Ucrânia, à conta desse genial criador de eventos e de impérios que é o sr. Putin, do que esperar por "novidades" da sra. Merkel e dos seus pobres epígonos. Resta a frente doméstica. Sem um partido como o de Marine Le Pen, em França, ou o de Nigel Farage em Inglaterra - que a nossa "cultura do compromisso" pudesse diabolizar para se unir e onde os cidadãos pudessem lavar o fígado contra um regime exangue que fez tábua rasa da social-democracia -, o 25 de Maio apenas interessa enquanto "medida" da irritação ou do "amor" do "povo" para com o poder. O governo faz-se representar pelo ex-independente de espírito Paulo Rangel e pelo senhorito "popular" Nuno Melo que está para Diogo Feio como um moço de forcados para um cavaleiro tauromáquico. O PS avança com Assis, em nome da "unidade", e tem o secretário-geral como inevitável cabeça de lista "sombra" por causa do voto "útil" contra a "situação" e, sobretudo, por causa dele. Fora o PC, a prolixidade de agremiações que decidiram concorrer às esquerdas é reveladora do folclorismo de protesto inconsequente que ajuda, afinal, a manter o regime no seu formato original. Num ambiente político de tamanha falta de imaginação, é natural que o país (que também não se distingue especialmente pelo "rasgo") ignore, em geral, o exercício e acabe por se abster significativamente. Vistas bem as coisas, temos sempre o que merecemos.

 

Foto: Le Monde (AFP Lionel Bonaventure)

O bafio

João Gonçalves 28 Abr 14

A 25 de Abril deste ano, o primeiro-ministro, ladeado pelo inexistente secretário de Estado do desporto e da juventude e pelo inventor deste, o simpático dr. Marques Guedes, recebeu em São Bento, para almoço e paleio de circunstância, uns quantos "representantes" da referida juventude. Precocemente envelhecidos pelo "peso" das "academias" e "clubes" a que pertencem, os rapazinhos e as meninas ouviram, paciente e respeitosamente, o "pensamento" do dr. Passos sobre o evento que se comemorava nesse dia. A horticultura serviu-lhe de inspiração - falou em "regar" umas coisas - à semelhança da bacterologia por causa de uma alusão ao "bafio". Passaram três dias e, de facto, o cheiro a bafio voltou a impôr-se ao quotidiano governativo com um leve toque, assaz demagógico, de gás de botija. Voltaram o "DEO", o dr. Mota Soares e a sua fulgurante "sensibilidade social", o "verde" anunciador eng.º Moreira da Silva, as "limpas e as sujas" e a "responsabilidade orçamental" que é um eufemismo para "austeridade", inventado à pressa pelo dr. Rangel, para tentar evitar maiores estragos na sua infelicíssima e bafienta "aliança Portugal". Mas, como escreve o Luís Rosa, «pior do que o eleitoralismo das medidas anunciadas é a inconsistência do discurso do primeiro-ministro. Não pode dizer numa semana que a “austeridade vai continuar” e descer os preços da luz e do gás na semana seguinte. Não pode querer aumentar o salário mínimo a poucas semanas das eleições, quando há pouco tempo rejeitava tal ideia, e pensar que o eleitorado vai a correr premiá-lo (...). O desagravamento fiscal generalizado é a principal medida que a base social de apoio da maioria espera do governo de Passos Coelho. Os cortes na despesa pública (muitos dos quais continuam por fazer) só assim têm lógica. Mas três anos após o início da austeridade a pergunta que resta é: a maioria ainda tem uma base social de apoio? Há dois grupos que Passos Coelho conseguiu alienar e que não voltarão a votar tão cedo no PSD: reformados e funcionários públicos. As medidas que incidiram sobre estes grupos essenciais padecem de um problema comum: a forma como foram apresentadas e aplicadas. Tendo em conta o peso que as pensões e os salários da função pública têm na despesa do Estado seria impossível não mexer nesses items, mas a forma atabalhoada que caracteriza a acção de Passos Coelho estragou tudo. A substituição da Contribuição Extraordinária de Solidariedade e a tabela única salarial na função pública, medidas que devem ser conhecidas esta semana, só vão agravar a relação desses grupos com o governo. Os restantes cidadãos de classe média ainda não têm razões para voltarem a votar na maioria. Veja-se o caso das tarifas sociais da luz e do gás. A descida não se aplica à classe média. Pelo contrário, os preços da luz vão continuar a subir para estes cidadãos a propósito do défice tarifário. Passos Coelho sempre pensou que os primeiro sinais positivos macro-económicos que se têm vindo a repetir desde o final do ano passado fariam com que fosse premiado pelo eleitorado. Está enganado.» O dr. Rangel lamentavelmente também.

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