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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Merkel não foi a Castelo de Vide

João Gonçalves 2 Set 15

 

Agosto, mês de férias, feiras e festas, manteve o país em remanso relativo. Só não foi absoluto por causa das eleições o que obrigou os protagonistas delas a alguma movimentação. O "povo", pareceu-me, absorveu as férias, as feiras e as festas até ao tutano e desprezou os ruídos que, de vez em quando, lhe chegavam do folclore partidário. O que pode ser um sinal interpretável para Outubro: a política não consta "inequivocamente" da lista de prioridades do "povo" como desejam os principais candidatos à pastorícia directa da nação. Mesmo assim houve esforços.

O PS acampou a juventude. O PSD ofereceu-lhe a habitual academia de Castelo de Vide. Apareceu uma candidata presidencial e desapareceu outro que antes de ser já não era. O dr. Passos, por força das circunstâncias, anda mais "social" na retórica mas carrega o Novo Banco às costas. O dr. Costa anda o que for preciso e mesmo assim pode não chegar. O dr. Portas, e como estão perfeitos um para o outro, prepara um talk show com a D. Heloísa Apolónia. Jerónimo espera mais deputados. E o Bloco é a Mariana Mortágua e basta. Não se dá praticamente pelos "novos" que, aliás, não fizeram muito para que se dê por eles. Sucede que fora desta pequenez caseirinha a Europa, a que nós estamos ligados mais pelo tratado orçamental do que por qualquer outra coisa, ficou obrigada a encontrar-se consigo própria (história, "valores", "princípios", economia, etc.) por causa dos chamados migrantes e refugiados.

Durão Barroso, o mais bonzo presidente da Comissão Europeia dos derradeiros tempos, passeou por Castelo de Vide a frivolidade que o tornou internacionalmente famoso. Sobre isto referiu que a Europa terá sempre as portas abertas mas não escancaradas. A Hungria ou a Sérvia - países cujo passado não os recomenda especialmente em matéria de direitos humanos - "aprenderam" mais depressa a "lição" de Barroso do que a rapaziada laranja. Foi preciso Merkel para retomar um olhar europeu, sensato e cosmopolita, sobre esta catástrofe. A Alemanha política e "da indústria" dispõe-se a receber 800 mil pessoas e reprova sem hesitações comportamentos xenófobos. Desafia, com a autoridade de quem pagou o preço elevado da devastação física e moral, a restante Europa, a que cabe na indigência oportunista dos Barrosos de Castelo de Vide. A chanceler, para já, devolveu uma "ideia de Europa" à Europa. E é dos textos que quem salva uma vida salva a humanidade inteira.

 

Jornal de Notícias

 

O país do respeitinho

João Gonçalves 27 Ago 13

Num dos seus "jornais das 9", da sicn (o único que é verdadeiramente iconoclasta e liberto da síndrome da "redacção única" mesmo quando não temos de concordar com  tudo), Mário Crespo falou com o advogado Francisco Teixeira da Mota a propósito do seu livrinho A Liberdade de Expressão em Tribunal. Li-o num ápice. Os nossos tribunais superiores, em matéria de liberdade de expressão e de informação, e salvo honrosas excepções, têm produzido acórdãos que, as mais das vezes, pura e simplesmente ignoram que há uma coisa chamada Convenção Europeia dos Direitos do Homem e outra que dá pelo nome de Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Por outro lado, as pessoas em causa, os juízes, não podem ser "desligados" da circunstância em que foram formados e, sobretudo, da sociedade (na prática anti-liberal) em que vivem. A qualidade de uma democracia mede-se pela qualidade da sua justiça e, por consequência, ainda estamos muito longe de ser uma democracia liberal na qual, por exemplo. a liberdade de expressão e de informação é, e passo a citar, "vezes de mais cerceada injustificadamente". E porquê? Porque persiste, independentemente da vontade do corpo jurisprudencial, uma mentalidade geral que é "conservadora ou paternalista" que se caracteriza, desde tempos imemoriais, pelo respeitinho e pelo temor reverencial, "quando não servilismo perante as figuras do poder e uma enorme deferência pelo statuo quo social." Somos, escreve T. da Mota, "um país de pequenos mas importantes doutores e não gostamos de ser criticados". Tudo é levado a peito, tudo é "pessoal", tudo coloca em causa a nossa extraordinária "honra": «temos uma honra do tamanho do mundo» e «não gostamos do debate público, de expressões claras, francas directas ou agressivas». Se os tribunais nos vêem como "pessoas incultas, primárias, acriançadas e despidas de espírito crítico - só lêem os títulos, só percebem o que é evidente -, que é necessário proteger, evitando-lhes o confronto com opiniões ou informações polémicas, agressivas e contundentes sobre as figuras do poder já que são incapazes de pensar por si próprias e tudo o que lerem ou que ouvirem tomam como verdadeiro", a culpa é dos tribunais ou é nossa e das nossas gloriosas "elites"? Ainda ontem Mário Crespo começou o "jornal" com a reprodução de imagens captadas numa prisão em Luanda de uma violência que, no mínimo, têm forçosamente que incomodar quem julga viver numa democracia liberal.  Alguém, a começar pela sic "generalista", "pegou" mais naquilo?

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