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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

O novo "comercial"

João Gonçalves 21 Nov 14

 

A prestação do dr. Portas a propósito dos "vistos", mais propriamente de uma geringonça chamada "ARI - autorização de residência para investimento" (basta uma semana de "residência" e a Europa "abre-se" aos novos "residentes" pela generosa porta de entrada do Portugalório) -, disse mais sobre o carácter político do dr. Portas, o seu criador, do que sobre os "vistos", as criaturas. Parecia um "comercial" a falar, sem menosprezo para os "comerciais" imobiliários. Aliás, estes podem a partir de agora colocar as sempre inspiradas frases do senhor vice PM na sua publicidade. Neste caso, uma palavra vale mais que mil imagens.

Fim ao visto

João Gonçalves 14 Nov 14

 

Independentemente dos procedimentos de acção penal em curso - em vez de insistir em declarações inoportunas e inconsequentes, por que é a ministra da justiça (e os restantes membros do governo que tutelam os sectores investigados) não ordena a instauração de processos de inquérito, nos termos legais, que permitam confirmar ou infirmar a existência de ilícitos disciplinares?), uma coisa é praticamente garantida: os "vistos gold" acabaram. Quem é que, no seu perfeito juízo, vem aqui, de ora em diante, "requerer" algo sob suspeita por muito interessado que esteja em montar uma loja, investir em betão ou em criar mais do que os onze (11) postos de trabalho que os "vistos" terão instituído directamente até agora?

 

Adenda de sábado: Num quadro do Expresso evidencia-se, afinal, a percentagem de postos de trabalho criados por conta dos 'vistos' (0%) por contraposição com a da aquisição de bens imóveis (95%). Parafraseando o outro, não matem a galinha dos vistos de ouro! Já no Diário de Notícias, conta-se que, nesta última "vertente" dos 95%, foi usado "dinheiro vivo", ao vivo e a cores, em alguns dos "negócios de ouro". Moral da história que não tem nenhuma: os mais de 1700 vistos concedidos devem ser sujeitos a uma auditoria de alto a baixo para além do que já está a ser feito no campo penal e que falta fazer no sector administrativo público envolvido.

Um regime "Zé Guilherme"

João Gonçalves 9 Ago 14

O Correio da Manhã - e uma secção do Expresso para a parte "lúdica" - conta a "história" de "Zé Guilherme", o construtor civil da Amadora que conquistou o coração das "elites" portuguesas da aquém e de além mar. A maior parte dos "conquistados" são nomes que só estranharíamos se não integrassem os "conhecimentos" desta veneranda figura. Foi a prebenda de 14 milhões ao dr. Salgado - os avoengos Espírito Santo Silva devem andar arrepiados nas respectivas tumbas com as aventuras deste insigne rebento - que celebrizou o "Zé Guilherme", na altura precisado de uma "apresentação" no Futungo de Belas. Mas, num regime como o nosso, basta puxar pelo fio à meada e uma vasta porção do mesmo fica imediatamente com as cuecas à mostra. Salazar nunca se meteu em coisas parecidas mas permitiu que alguns dos dele se metessem desde que não comprometessem o regime. Pelo contrário, os nossos democratas comprometem-se às escâncaras e comprometem um regime inteiro. O "Zé Guilherme" serve-se deles como do betão, dos tijolos e dos cães de caça. Está certo.

A meta dos leilões

João Gonçalves 23 Abr 14

 

Talvez devessemos estar, no chamado "espaço público", a falar no "25 de Abril". Este regime nasceu com ele e a respectiva duração já se aproxima do tempo que durou o "Estado Novo". Aliás, se contarmos esse tempo pela longevidade política do seu principal agente, o Doutor Salazar, o actual regime leva quatro anos de vantagem. São, pois, várias as gerações que este "calendário" apanhou e, sobretudo, muitas as novas nascidas "dentro" de mais nada do que o regime aberto pela Revolução de 1974. Tudo o que neste momento de tagarelice em "financês" e "economês" pudesse contribuir para não banalizar, ainda mais, a tão degradada vida pública nacional, seria bem vindo. Todavia não é isso que acontece. Infelizmente, o "calendário" coincidiu com um excesso do nosso presente medíocre: o desacreditado e desinteressante "debate quinzenal com o 1º ministro", a "execução orçamental" (com os impostos sobre o trabalho a "ajudar" à "alegria"), a presença da troika e um leilão, também muito "alegre", de dívida. Parece que Portugal, agora, não existe fora desta lengalenga. Nestes dias aptos para "ouvir" a História, preferimos continuar com e como os ceguinhos da presente pastorícia, e da que se avizinha, a bater no ceguinho sem outras metas que não sejam as dos leilões, a dos leitões e a dos campeões (a RTP Informação - "serviço público", vejo-a neste momento, associou-se ao evento afinal para quê? - interrompe um directo com Ramalho Eanes num colóquio sobre a Ditadura Portuguesa, e que também vai ouvir Soares e Sampaio, para passar uma conferência de imprensa do Benfica com um rapaz a falar espanhol seguido do loquaz Jesus interpelado em italiano e a tratar os interlocutores por "tu"). Até podemos ultrapassar as metas todas e mais algumas. Mas um país sem memória é um país de merda.

A jóia e os do costume

João Gonçalves 24 Mar 14

Consta que Eva Perón costumava usar as suas melhores jóias sempre que ia visitar os "descamisados". Dizia ela que os pobres se sentiam "reconfortados" por verem uma deles naqueles preparos - transmitia-lhes, sugeria Evita, "esperança". Lembrei-me desta "história" do socialismo "justicialista" e autoritário do casal Perón por causa no nosso liberalismo de pacotilha de que o denominado, e futuro, "banco de fomento" é a mais recente "jóia" para exibir aos papalvos em nome do "investimento" que tem as costas largas. Ainda corre a "instalação" da "comissão instaladora" da coisa e já se sabe que, apenas três membros dela, custarão meio milhão de euros/ano aos palonços do costume. Como escreve a Ana Sá Lopes, «os vencimentos anunciados para os membros da comissão instaladora do banco público revelam mais uma vez ao mundo que as "gorduras do Estado" que o governo jurou combater eram a arraia-miúda, os reformados e os funcionários públicos. As "gorduras" do Estado eram os serviços públicos e os pensionistas com reformas acima dos 600 euros. Não há dinheiro para nada, mas há dinheiro para pagar quase um milhão de euros a três criaturas que vão "instalar" o segundo banco público do país. Maria Antonieta também pensava assim.» Ou a breve senhora Perón, noutra dimensão igualmente esdrúxula. O ponto é que «o argumento de que se tem de pagar muito bem porque se tem de ir buscar "os melhores" é iníquo no meio da devastação social a que o país está sujeito. E quem são os melhores? E onde está a lei que tinha travado salários no Estado superiores aos do Presidente da República? E se é suposto que um primeiro-ministro seja "um dos melhores" porque lhe é imposto um rendimento tão baixo em comparação com o banqueiro? Até aqui, pagámos muito (com uma crise e desemprego elevado) para salvar os bancos. Continuamos a salvar banqueiros. Os cortes que vêm aí não vão incidir sobre o salário destes novos banqueiros públicos – vão voltar aos do costume, aos ricos que têm rendimentos de 1000 euros brutos. Anda-se a brincar com o fogo.»

 

Adenda: ainda nesta extraordinária linha "o país está melhor!", «em Portugal, o risco de pobreza afecta 18,7% dos portugueses, mas são os desempregados os mais vulneráveis a esta situação: 40,2% dos desempregados já estão em risco de pobreza.  Mas se a estes se juntarem os portugueses inativos, a taxa sobe para 69,7%. Mais de metade da população (...). No geral, a taxa de risco de pobreza subiu para 18,7% em Portugal, mais 0,8 pontos do que o registado em 2011. No fundo, mais de 1,8 milhões de portugueses em risco de pobreza. Isto verificou-se a par de uma queda do rendimento monetário líquido dos portugueses, que recuou 1,8% entre 2011 e 2012. E, se não fossem as transferências sociais, seriam ainda mais portugueses, já que só pelos rendimentos do trabalho, de capital e transferências privadas, a taxa subiria para os 46,9% dos portugueses. No entanto, as verbas entregues como prestações sociais (doença, desemprego, inserção social, abono de família) fazem-na descer para os tais 18,7%.» É por estas e por outras que não pode haver "consensos" e, em compensação, existem "frentes nacionais" que florescem. Mas como é que se pode explicar isto a uma nação diariamente infantilizada e embrutecida pelas suas "elites"?

"Todos os instrumentos"

João Gonçalves 26 Dez 13

 

Os trabalhadores investidos em funções públicas com formação superior - por causa da "despesa" e dos "problemas" que o senhor PM não quer ver toldarem o radioso final anunciado do seu "ajustamento" de estimação, o tal que justifica o recurso a "todos os instrumentos" (incluirá alguma "solução final" original, "liberal e democrática"?)  são "convidados" a sair com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma (agora este meritório exercício fica por conta da provável sucessora do dr. Rosalino que entretanto regressa ao quentinho do Banco de Portugal). Todavia, a necessidade continua a aguçar o engenho e vice-versa. Não é para isto que servem os amigos, os conhecidos dos amigos e os amigos dos conhecidos? Se isto não é um país de trampa, cheio da natalícia pelo menos nas ruas de Lisboa , então não sei o que é um país de trampa. Se calhar, melhor é impossível.

Asco

João Gonçalves 28 Jul 13

«Vive-se ali em estado mais puro. "É como brincar aos pobrezinhos, diz Cristina Espírito Santo".»

Cá estaremos

João Gonçalves 20 Mar 13

Hoje é um dia triste para os defensores da liberdade de expressão. O despedimento de Nuno Santos por parte da administração RTP é, na sua gravidade, um sinal. A memória de Soares Louro ou de Cunha Rego, a decência de Ramalho Eanes ou a competência de Almerindo Marques, enquanto responsáveis máximos pela história da RTP nas últimas décadas, foram indignamente aviltadas. Porquê? Porque N. Santos é removido por um "crime" consagrado na legislação do Estado Novo - o delito de opinião - e que há muito desapareceu quer do chamado sentimento jurídico colectivo (salvo, é claro, da mente daqueles que olham para o Outro como mero capacho ou que só sabem viver em ambiente de "respeitinho"), quer da própria lei, a começar pela Constituição de 1976. N. Santos é removido, não por ter sido comprovadamente incompetente como jornalista ou director de informação, mas porque teve a "ousadia" de se dirigir (recorro aos termos do Estado Novo) menos respeitosamente ao senhor presidente do conselho (de administração) em declarações prestadas, imagine-se, no Parlamento. O mesmo que, publicamente, tinha afirmado que nenhum trabalhador de RTP seria perseguido disciplinarmente por causa do incidente dos chamados "brutos". Ora se não foi por isso, fica inequivocamente claro por que foi - delito de opinião. Coisas destas, num estado de direito democrático, devem debater-se na esfera pública (condenando-as activamente e sem reservas mentais de qualquer espécie) e resolver-se nos tribunais, sem "pressões" e "recados" ameaçadores. Como escrevi na altura em que este processo kafkiano começou, não se atira impunemente a honra de quem quer que seja aos cães com processos sumários ou tentativas de linchamentos públicos. O velho Soares, onde nem tudo é famosamente mau, tem razão nisto: só é derrotado quem desiste de lutar. Cá estaremos.

Um conto português de natal

João Gonçalves 24 Dez 12


«Aparece um indivíduo afirmando-se cumulado de títulos e funções (ex-bolseiro da Gulbenkian, consultor do Banco Mundial, coordenador mandatado pelo Secretário-Geral da ONU, professor universitário), desdobra-se em entrevistas à imprensa, a reuters certifica-o, senta-se nas mesas redondas das intermináveis parlapatanices televisivas, é orador convidado em jantares promovidos pelas mais desvairadas instituições - umas sérias, outras nem tanto - ganha respeitabilidade sentando-se com Bagão e Maria Barroso, é coqueluche de blogues.O país rende-se-lhe, ouve-o, exulta com o tom de milagre no ar das boas novas que debita. A crise não existe, a dívida é uma ilusão, quem tem culpa é o governo. O Cagliostro de trazer-por-casa, o Rei da Ericeira, o novo pasteleiro do Madrigal continua, alarga-se a multidão de seguidores. Para mais, é de esquerda, cidadão empenhado, abaixo-assinante em tudo que envolva amanhãs cantantes, senador da esquerda revolucionária, defende um onírico "ministério da Felicidadetudo aquilo que faz pergaminhos e confirma brasão e título. O português, maioritariamente semita ou berbere, acredita em elixires, em sinais e presságios, curas milagrosas. É contra tudo e de tudo duvida, não ouve a razão, desdenha da clareza, mas se lhe surgir pela frente um António Conselheiro - e tantos têm sido os messias ao longo dos quarenta anos que levamos deste regime - transfigura-se, adere cegamente, não balbucia. O fim do mundo passou, e com o alívio do não cumprido armagedão, o falso Dom Sebastião é posto a descoberto. Seixas da Costa ainda protesta a presunção de inocência, outros descalçam as botas que ajudaram a fabricar para o novel marquês de Carabas. Mas para este caso não vai haver uma cela na Bastilha, uma galé ou uma carnificina no Paço da Ribeira. Isso era dantes. No paraíso da Dona Branca, de Vale e Azevedo, Alves dos Reis e Duarte Lima, permite-se que haja mágicos, conquanto seja apenas um de cada vez. Ao longo da vida todos temos conhecido a mais diversa casta de aldrabões, mentirosos e falsários aos pés dos quais são depostos os mais sonoros pachões e os mais cheirosos pivetes. Já o meu saudoso pai me advertia: "não te aproximes demasiado", "isto não é gente de confiança", "estão sempre prontos para todo o tipo de habilidades e, depois, paga quem foi ingénuo". É altura, caros leitores, de duvidarmos por princípio, duvidar sempre, até prova em contrário. Bom Natal no grande Rilhafoles em que se transformou Portugal !»
Miguel Castelo-Branco, Combustões
Adenda: O Miguel, de facto, diz o fundamental do enorme embuste que é a nossa vida mediática à qual bastou um pequeno episódio digno de circo de província para a casa vir abaixo (não vem porque não temos vergonha na cara). Por outro lado, é interessante - estou a ser benevolente por causa das tréguas natalícias - ver como os actuais magos da opinião que se publica e vê, mais encostada ao socratismo dos últimos dias e ao bota-abaixismo persistente em relação à "situação", se tentam desembaraçar do embaraço mediático provocado por um pantomimeiro qualquer que alegrou e certificou por magros dias as suas "certezas". Não se iludam. As nossas "elites" são mesmo assim - um híbrido sórdido entre o sistémico, o oportunismo puro e o lunar.

A derrota do pensamento

João Gonçalves 26 Mai 12

 

Num país medianamente adulto e civilizado, em que, apesar da falta de dinheiro, exista um módico de equilíbrio intelectual, moral e deontológico, a longa intervenção do dr. Carlos Moreno - meu antigo dirigente enquanto Inspector Geral de Finanças e juiz jubilado do Tribunal de Contas -, numa comissão parlamentar, sobre essa calamidade pornográfica que dá pelo nome de "parceria público-privada", faria manchete em qualquer órgão de comunicação social escrito, falado, informatizado ou televisionado. Mas a prioridade continua a ser dada, para usar a oportuna expressão do Presidente francês François Mitterrand (que não me cansarei de repetir as vezes que forem necessárias), à tentativa "multidisciplinar" de atirar a honra das pessoas aos cães, com o devido respeito pela indisputável lealdade destes animais quando comparada à dos homens. Em certo sentido, de facto nós não chegámos ao que chegámos - pobres, resgatados internacionalmente, miseráveis nos instintos - apenas porque há PPP's e pérolas semelhantes. A coisa é mais funda. O regime, sensivelmente a meio do "cavaquismo", deixou-se capturar por poderes que não são escrutinados eleitoralmente. A sociedade também. Fica um lastro de derrota do pensamento porque, precisamente, esses poderes fácticos (privados ou públicos, tanto faz, mas essencialmente entregues a invertebrados "transversais" e a "sobreviventes" profissionais) existem para evitar que as pessoas parem para pensar. O desastre, apesar de económico e financeiro, é sobretudo humano e cultural. Um dia lamentaremos estes quase quarenta anos de regime da mesma forma como outros lamentaram os quarenta e oito de "fascismo". Há método nesta loucura como em Hamlet? Há e ele entra-nos todos os dias em casa pelas televisões, pelos tablets, pela rádio, pelos jornais. Carlos Moreno explicou uma parte do problema mas apareceu logo um clown a exibir o método no que foi seguido de imediato pela habitual turpe circense dos idiotas úteis. A outra parte do problema, por consequência, reside em subestimar-se o poder de gente estúpida em grandes grupos. Grupos no sentido de magotes e grupos propriamente ditos.

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