Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

NÃO SIGA AQUELE RABO

João Gonçalves 15 Mai 11




Mal chegou ao Eliseu, em Maio de 1981, Mitterrand aconselhou Jacques Attali, seu colaborador directo. Era, aliás, insuspeito na matéria. «A única coisa que lhe peço é que desconfie das mulheres. Sim, estou a falar a sério: das mulheres! Elas têm uma atracção por quem exerce o poder e estão dispostas a tudo para se aproximar. Farão de tudo para se aproximar de si. Desconfie sempre, sempre.» Strauss-Kahn, aparentemente, nunca se aconselhou com Mitterrand sobre este assunto. Nos democráticos EUA, um rabo é infinitamente mais perigoso que o colesterol ou atravessar a rua sem olhar para os carros. O que mais me impressionou numa esquadra em pleno centro de Nova Iorque foi a profusão de cartazes, cheios de "modes d'emploi" acerca do "assédio sexual", a apelar à delação através de dezenas de números de telefone. O pérfido encanto dos EUA consiste neste permanente oscilar entre o mais reaccionário puritanismo e a mais reles devassidão e desprezo pelos famosos "direitos humanos". Não terá sido, aliás, por acaso que Gore Vidal "estudou" o caso Timothy McVeigh na Vanity Fair de Novembro de 1998, e acabou por se corresponder com o condenado à morte por ter destruído à bomba o Murrah Federal Building de Oklahoma. Strauss-Kahn, actual director-geral do FMI e putativo candidato presidencial francês, não é exactamente nem mais nem menos do que qualquer outro homem atraído por rabos alheios, na circustância femininos. Ter supostamente tentado ir mais longe no devaneio, valeu-lhe, em solo norte-americano, o vexame de ter sido retirado da 1ª classe do avião que o traria à Europa para tratar da grande política. E ter-lhe-á valido a presença diante de um juiz ou de uma juiza de rabos menos interessantes do que o da empregada do hotel, alimentados a coca-cola e a hamburgers, que lhe vomitaram o seu insuportável moralismo jurídico, intraduzível e impróprio para meridionais. Isto é o género de peripécia que pode acabar com um homem público e tornar famoso um rabo anódino e contingente. Laclos e Sade fartaram-se de avisar bem antes de Mitterrand.

COTERIES

João Gonçalves 1 Ago 10


Onde é que a autora da pérola aqui citada esteve nos seus aproximadamente cinquenta anos de vida para escrever que «não é todos os dias que se partilha a celebração do amor»? Para "celebrar" o amor (e que diabo é o amor?) é preciso casar? Ou , ao invés, todos os casamentos realizados até à data do profusamente ocorrido "não celebravam o amor" - tal como a senhora o entende e decreta se é que entende alguma coisa - e são como que "coteries" inexistentes? Como diria o outro que se estava nas tintas para o amor, não procure caves nos andares nobres. Mesmo que seja cega de profissão.

DO CONVENTO PARA O CABARET

João Gonçalves 24 Jul 10

Julgo que o calendário era este com rostos de padres pouco parecidos com os dos nossos muito respeitáveis parócos de aldeia. Se de cara são assim, é evidente que o despojamento das batinas fora das horas de expediente é perfeitamente compreensível e seja em que "modalidade" for. A castidade é muito mais uma instância intelectual do que física e, talvez, mais um imperativo hipotético do que categórico para recorrer ao jargão kantiano. Da mesma forma que o celibato. E, depois, a ética, como lembrava Deleuze, é estarmos à altura do que nos acontece. Um padre não é menos vigário de Cristo da Terra - ou "menos" homem - por deambular entre os prazeres terrenos tal como eles sempre se manifestaram. Mas haverá um momento que lhe conviria escolher para, justamente, poder estar à altura do que, pelos vistos, o próprio faz acontecer. Na missa ou na cama.

Mal entrou em vigor a alteração ao Código Civil que permite casamentos entre pessoas do mesmo sexo, aquele improvável duo "Teresa e Lena" correu à conservatória para consumar o acto. Segundo ouvi na rádio, as senhoras ignoraram os jornalistas e, quando muito, "ponderavam" falar depois da coisa e mandaram os seguranças da dita conservatória "avisar" os jornalistas que não os queriam lá dentro. Não sei - nem me interessa saber - o que se passou a seguir. Este "duo" aguardou ansiosamente que alguém se lembrasse de tornar o "evento" numa coisa cor de rosa, com direitos pagos por televisões e revistas. É que estas heroínas nacionais vivem do rendimento mínimo ou com pouco mais. Sucede que o que é trivial deixa de ser notícia ou de suscitar o mais leve interesse. Para além disso, o duo "Teresa e Lena" não é fashion, não vive na Lapa, no Principe Real ou perto do Castelo, não tem "conhecimentos" no grupo parlamentar do PS e não lê Eduardo Pitta ou aquelas progressistas mais feias do que elas que escrevem num blogue com nome de veia. São apenas duas mulheres sem emprego, não especialmente bonitas ou esbeltas, que serviram para enfeitar a montra dos poltrões situacionistas da fractura política que nem sequer no rodapé do seu panfleto as colocaram. O "ancontecimento" foi sempre e só chegar ao acontecimento - a lei - devidamente celebrado pela nomenclatura com um almoço de íntimos com o admirável líder e umas palavrinhas pias de circunstância. "Teresa e Lena" não contam porque o diabo calça Manolo.
De amor eu nunca amei senão desejo visto
ou pressentido. Um corpo. Um rosto. Um gesto.
E nunca de paixão sujei o meu prazer
ou o de alguém. Por isso posso

mesmo as audácias recordar sem culpa.
Tudo o que fiz ou quis que me fizessem
o paguei comigo ou com dinheiro.
E só lamento as vezes que perdi

retido por algum respeito. Errei
por certo - mas foi nisso. O que me dói
não é tristeza de quem dissipou

no puro estéril quanto esperma pôde
gastar assim. O que me mata agora
é este frio que não está em mim.

Jorge de Sena, 1967


O que diabo - o termo é adequado no contexto - será o "totalitarismo do orgasmo"? César das Neves parece um velho Reich, o Wilhelm, invertido, justamente quando alguns parágrafos do texto batem certo e umas quantas frases não. «A democracia (pode) estar a passar por um momento muito perigoso» mas não, de todo, por causa do dito "totalitarismo". Aliás, Sócrates e o seu regime são a própria antítese do orgasmo "reichiano". Para além disso, como reconhece César das Neves, «a nova lei, apesar de ser um marco milenar em termos formais, poucas consequências práticas terá (...) e as coisas ficarão quase na mesma.» Então para quê tentar o demónio?

PAROLOS

João Gonçalves 31 Mai 10




Exibiu-se uma meia dúzia de parolos chiques nos jardins da residência oficial de São Bento. O país, felizmente, não os conhece mas o primeiro-ministro fez questão de os homenagear como se de heróis se tratasse. Celebravam uma alteração ao Código Civil que entrou hoje em vigor. Para Sócrates, a coisa tornou logo o mundo "melhor" e o país, evidentemente, mais "igual". Os parolos em causa são fashion, do regime, pertencem à idade media e, por isso, Sócrates convidou-os para almoçar e aproveitou para os mostrar às televisões tal qual os directores dos zoos apreciam divulgar ninhadas de chimpanzés de estirpes em vias de extinção. E eles, como bons parolos, gostaram muito do tratamento que tomaram por distinção. A exibição reiterada da "diferença" é uma parolice que nenhuma lei, por muito "moderna" que seja, pode alterar. E velhinha como a canção de uma Shirley Bassey infinitamente mais "jovem", com 73 anos, que eles todos juntos.

Clip: Dame Shirley Bassey, BBC Electric Proms. Londres, 2009.

OS "CANDIDATOS"

João Gonçalves 27 Mai 10

Deus sabe - e quem tem a paciência de me ler também - como não tenho a menor pachorra para a estupidez. Não acrescento "humana" precisamente porque só esta espécie pode optar por ser estúpida. Dito isto, e porque deles recebi um mail, só posso lamentar este post. Ou, em alternativa, considerá-lo "engraçadista". Pois como havemos nós de classificar - por muita, pouca ou nenhuma consideração que nos mereçam as criaturas em causa - a sugestão de D. Duarte de Bragança, Bagão Félix, João César das Neves, Aura Miguel, Maria José Nogueira Pinto, Gen. Rocha Vieira ou Daniel Serrão como putativos candidatos "pro vida" à presidência da República porque, perguntam eles, «pode o PS escolher um Presidente da República mais colaboracionista (em colaboração estratégica) com as suas políticas (aborto, casamento homossexual, deseducação sexual obrigatória nas escolas, divórcio simplex)... do que Cavaco Silva?» A patetice destes católicos à beira de um ataque de nervos, explícita na capciosa pergunta, assenta nalguns equívocos básicos. O PR - este ou outro qualquer - não é, como na monárquica Inglaterra, simultaneamente chefe de Estado e chefe da Igreja doméstica. Depois, e como frisou Bento XVI assim que aterrou em Portugal, «a viragem republicana, operada há cem anos em Portugal, abriu, na distinção entre Igreja e Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja, que as duas Concordatas de 1940 e 2004 formalizariam, em contextos culturais e perspectivas eclesiais bem demarcados por rápida mudança.» Ratzinger, ao contrário desta gente, conhece perfeitamente o mundo em que vive e há muitos anos. Não tem, por isso, ilusões e decerto sabia a que país chegava e que país deixaria quatro dias depois. Consequentemente falou da liberdade da Igreja e da liberdade do Estado. Lamento, porque dele era adepto, que não tivesse sido realizado um referendo sobre a matéria. Mas era indisputável a legitimidade deste parlamento para tratar dela. Também era legítimo um veto presidencial ou a promulgação. Se vetasse, Cavaco, como os seus adversários esquerdófilos decerto apreciariam, lançaria para a arena uma falsa questão religiosa que até o Papa desaconselharia. Promulgando, Cavaco desagradou aos simétricos das direitas a quem também lhes puxa o pé para tal intempestiva e parva questão. Tem um preço político? Seguramente. E pago no momento do voto. O que me parece esdrúxulo é pretender-se que a democracia, valha a nossa o que valer, seja confessional e que os representantes dela também o tenham de ser. Seja pelo lado jacobino dos "funcionários do género", seja pelo lado oposto, não menos "funcionário", destes amiguinhos "pro vida". Pelos vistos, o que sobra em Titis de ambas as bandas falta em tino. Juntem, pois, uma à lista.

Adenda: Com o devido respeito - coisa distinta do respeitinho -, D. José Policarpo, que deixou os adeptos do "não" no referendo à IVG entregues a si mesmos após uma breve e "correcta" declaração antes do processo eleitoral, não tem agora grande "moral" para vir debitar doutrina para cima do PR, sobretudo insinuando que existe uma relação causa-efeito entre o processo político das eleições presidenciais e uma lei que altera o Código Civil. Entre outros, colocou-se ao lado do edil Costa, do PS, que acabou de dizer coisa idêntica na SICN para justificar o engolir de Alegre. Se fossemos "medir" as complacências para com o absolutismo "socrático", não sei se D. José Policarpo não levaria a dianteira a Cavaco.

Adenda de sexta-feira: À questão religiosa (que não existe) alguns querem acrescentar uma questão política perfeitamente imbecil a propósito das eleições presidenciais. E outros ainda (que deviam estar calados e eles sabem perfeitamente porquê) também andam nesta de "Maria-vai-com-as-outras". Razão tinha Chateaubriand. Deve-se ser parcimonioso na distribuição do desprezo em função do grande e inesperado número de necessitados.

CÉSAR E DEUS

João Gonçalves 26 Mai 10

Desta vez a Aura Miguel não tem razão. Cavaco promulgou um diploma do "mundo dos homens" e, não o tendo feito, daqui a umas semanas estava a assiná-lo sem qualquer alternativa. Fê-lo enquanto "César" - fraco César, é certo - e não enquanto homem cuja fé não era para ali chamada. Com as devidas adaptações, é ler Mateus 22, 15-22.

A TRIVIALIDADE COPIADA

João Gonçalves 17 Mai 10


A partir de hoje, os badalhocos fracturantes têm de arranjar outra sarna para se coçar. Agora é esperar para assistir ao entupimento de lojas do cidadão e de notários com nubentes ansiosos. E, depois, aguardar pelas estatísticas. Há gente que se contenta com pouco. Sobretudo com copiar a trivialidade da vida alheia.

ADEUS Ó VINDIMAS

João Gonçalves 17 Mai 10

1. O país a afundar-se - porque a Europa do Tratado de Lisboa se afunda lentamente - e Cavaco vem-nos falar... do casamento gay. Valha-me Deus.
2. O ministro Amado - um homem amável mas politicamente nulo - veio sugerir uma "grande coligação" e constitucionalização dos limites ao défice público. O dr. Amado já não consegue esconder que passámos a súbditos de Berlim e que qualquer "grande coligação" nacional de bonzos não evita o desastre. Apenas porque os bonzos dessa "grande coligação" seriam precisamente os rostos do desastre.

Pesquisar

Pesquisar no Blog

Últimos comentários

  • João Gonçalves

    Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...

  • s o s

    obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...

  • Anónimo

    Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...

  • Felgueiras

    Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...

  • Octávio dos Santos

    Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...

Os livros

Sobre o autor

foto do autor