A ministra Canavilhas decidiu - e bem - varrer o director artístico do São Carlos e a direcção da OPART. Mas não chega. Jorge Salavisa, que vai presidir a esta última, não pode manter os restantes membros sob pena de a coisa se ficar pelo make up. Conheço Salavisa há muitos anos e, por isso mesmo, só lhe posso desejar venturas e lonjuras de certa parasitagem permanente que pulula na cultura como piolhos. As tutelas passam e eles, quais lêndeas (bicho pior que o piolho), ficam. Quanto ao director artístico convidado, um maestro britânico, não sei quem é. Preferia o regresso de Pinamonti. Ver-se-á.
Li, sobre uma toalha de praia, uma entrevista de Gabriela Canavilhas, a ministra da cultura, ao Expresso. Retive umas coisas. Gabriela já não toca piano desde que foi para a Ajuda. Gabriela prefere música de câmara e o maçador Schubert. Gabriela viu um filme português em Moçambique que achou, sic, "uma delícia". Gabriela faz questão em sublinhar que "está ministra". O último que disse isto foi o funesto Fernando Gomes, ex.ministro de Guterres, e durou pouco. De resto, Canavilhas não explicou como é que tenciona responsabilizar Mário Vieira de Carvalho, o ainda mais funesto ex - secretário de Estado da cultura de Pires de Lima e Sócrates, que escolheu o sr. Dammann para o São Carlos e que nos vai custar, para além da mediocridade da "programação", qualquer coisa entre 150 a 250 mil euros de "indemnização". Dra. Gabriela: não seria mais adequado ser Dammann a indemnizar-nos?
Em entrevista à antena 2 - ouvi de madrugada - Gabriela Canavilhas finalmente percebeu que tinha de correr com o director artístico do São Carlos, Christoph Dammann. Percebeu que o público, a crítica, porventura o próprio Teatro não aguentavam tanta mediocridade junta. Devia completar a acção de limpeza com a remoção dos directores portugueses da OPART, esse imenso equívoco gestionário inventado pela prof. ª Pires de Lima e pelo ex-RDA Vieira de Carvalho. É tudo uma e a mesma coisa. E mais vale tarde que nunca.
Se não visse e ouvisse, não acreditava. O Morcego, a opereta de Strauss em cena no São Carlos, resume, na perfeição, a desgraça - ou a maldição - que se abateu sobre o nosso único teatro lírico. Com o devido respeito pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, pelo coro e pela generalidade dos cantores, este Morcego é um escarro. A encenação, em torno de vampiros e matrafonas, é um remake ordinário do "tema" do momento nas livrarias e em telenovelas. Uma valsa passou a declinação rasca do "thriller" de Jackson. Os diálogos em português, particularmente as falas protagonizadas por Maria Rueff, são dignos da pior e mais reles "comédia" de televisão onde o engraçadismo roça o puro atrasadismo mental e a graçola porcalhona. As alusões à vida pública são trocadas por insultos às características físicas dos políticos. Nem Gabriela Canavilhas, a ministra da cultura presente, escapou à vulgaridade baixa de Rueff (estilo pianos a dar à cauda perante a suposta beleza da ministra) e permaneceu no camarote, impávida e serena (como se não tutelasse politicamente aquele lixo todo) a contemplar a canalhice que decorria no palco. Pelo meio apareceu Carlos Guilherme paramentado de "benfiquista" a trautear o hino do clube de futebol. O público - o mais bronco, quase todo agora, que olha para aquilo como se estivesse no circo ou num estádio - ria-se e aplaudia as alarvidades. Outros patearam (como eu) e saíram. O Prof. Jorge Miranda, no intervalo, sugeria que o São Carlos devia fechar. Concordo. Um teatro lírico que anda a fazer de teatro lírico quando não passa de uma co-incineradora da inteligência e da sensibilidade, devia encerrar. Os três ornamentos da direcção portuguesa e o alemão director artístico envergonham a história e os pergaminhos do São Carlos. Fiquei com a ideia, pela sua passividade perante tamanho disparate, que a actual ministra não entende o que se está a passar. O seu aval a este descrédito pago com dinheiro público é inadmissível. Melhor sorte teve o assessor cultural do Chefe do Estado que saiu logo no fim do 1º acto e não teve de ouvir as enormidades que Rueff disse de Cavaco como se estivesse no Maria Vitória ou na retrete. Chacun à son goût? Clip: Johann Strauss Jr., Die Fledermaus. Royal Opera House Covent Garden, 1984. Doris Soffel, Herman Prey. Direcção de Placido Domingo.
No corredor do Coliseu encontro alguém que me diz que cancelaram uma coisa qualquer da medíocre temporada lírica em curso no São Carlos. E porquê? Porque prosaicamente faltou o tenor. Ora sou do tempo em que, com Paolo Pinamonti (e, antes dele, com os directores que conheci, de Paes a Serra Formigal, de Ribeiro da Fonte a Ferreira de Castro), se fazia o trivial, uma substituição. Num ano, 1982, Cossotto estava anunciada para uma Carmen e foi substituída por uma jovem e genialmente inesperada Victoria Vergara que deu ao São Carlos uma das melhores heroínas de Bizet de sempre. A escolha do encriptado Mário Vieira de Carvalho para o TNSC, o alemão Christoph Dammann, foi das coisas mais catastróficas que atingiram o coração do nosso único teatro de ópera, um teatro nacional. Gabriela Canavilhas, a actual titular da Cultura, tem a estrita obrigação de perceber isto sobretudo por causa da sua formação. E se não perceber, a evidência fala por si. Remova Dammann - e outras figuras menores - e reponha Pinamonti. Sou dos poucos à vontade para defender isto. No mesmo corredor e na mesma conversa participou o Prof. Jorge Miranda, um espectador com assinatura antiga no São Carlos. Tenciona acabar com ela. Moral da história: "acabem" com Dammann antes que ele acabe com o São Carlos.
Clip: Abertura Egmont, Beethoven. Georg Solti. 1996. Em resposta a um leitor, o concerto foi fraquinho. Gardiner esteve bem melhor no dia de ano novo em Veneza, no La Fenice, que acompanhei no canal Mezzo. Notava-se que a orquestra anda em "digressão artística". Maria João Pires foi Maria João Pires, nem mais nem menos.
Ao Diogo Vasconcelos, de Londres e de sempre, a Manuel Matos, de Coimbra, e a Carlos Pereira da Cruz os meus agradecimentos pelo artigo sobre o São Carlos, a temporada e o sr. Christoph Dammann, o seu funesto director-artístico. Desta vez Jorge Calado acerta até pelas comparações oportunas que faz. Dammann é das piores coisas que caíram em cima do nosso único teatro lírico onde o verdadeiro director continua a ser Mário Vieira de Carvalho. Pinto Ribeiro afirmou não concordar com a gestão em curso - a OPART - mas não mexeu uma palha. Estão todos bem uns para outros. Todavia, o público e os contribuintes é que não devem suportar tanta esperteza saloia sob a capa de um cosmopolitismo de paróquia. Como escreve Calado no Expresso, «registe-se que a Vlaamse Opera (a segunda casa de ópera belga) tem nove [produções contra seis por ano no S. Carlos], a Netherlands Opera tem 15 e a Ópera Nacional Finlandesa tem 14. Todas nações pequenas, sem grandes tradições operáticas [contrariamente ao Teatro de Lisboa] (...) que já foi de Gigli, Mödl, Kraus, Gorr, Schöffler, Resnik, Zampieri e Theodossiou.» Mais. «O que Christoph Dammann, director artístico do teatro, tem feito desde a sua conturbada nomeação é, a vários títulos, desastroso. Com as excepções que só confirmam a regra, as escolhas de repertório, de produções, elencos e maestros revelam uma gritante incompetência, reconhecida à esquerda e à direita (...). Dammann esconde-se atrás de uma pseudolealdade para com os artistas que convida, mesmo maus. A lealdade primeira deveria ser para com o público português que lhe paga (...). O problema, meus senhores, não é a falta de estrelas e de cantores caros. O problema são os maus cantores, os maestros desadequados, os encenadores patetas, o pouco respeito pelo público (...). O Estúdio de Ópera é menos um laboratório de pesquisa e formação e mais um truque para fazer mais e baratinho (três títulos entre Novembro/Dezembro) (...). O Opart e a actual direcção do São Carlos desfazem-se em estatísticas para provar a bondade das mudanças. Para eles, a ópera são números, não são pessoas.»
Clip: Verdi, Macbeth.Mara Zampieri, Ópera de Berlim, Giuseppe Sinopoli. 1987
Estou sempre a voltar ao São Carlos pelas piores razões. À beira de iniciar a temporada lírica com uma "herança" de Pinamonti - a segunda "jornada" de O Anel do Nibelungo, Siegfried, encenada por Graham Vick -, a direcção do Teatro tratou com os pés o maestro do coro, o italiano Giovanni Andreoli, que recusou o contrato de trabalho por seis meses proposto pela OPART e pelo director artístico Christoph Dammann, "heranças" de Mário Vieira de Carvalho. «Eu fiquei a conhecer a temporada deste ano pelos maquinistas do teatro. Eu, maestro do coro, não conhecia a programação», disse Andreoli ao Público. Dammann é objectivamente (já deu para ver) um mau director artístico do nosso único teatro lírico. E a OPART é uma péssima "solução" de gestão. O Augusto M. Seabra, aliás, explicou isto perfeitamente. Embora não haja praticamente ministro da Cultura desde Julho de 2000, conviria a José António Pinto Ribeiro colocar um termo a estas aberrações que acabam por custar muito dinheiro aos contribuintes, a maioria dos quais nunca pôs os pés em São Carlos e nem sequer sonha como é que aquilo "funciona". Tudo somado, este mandato da "esquerda moderna" em maioria absoluta é irrecomendável em matéria de cultura. O pouco que "mudou", mudou para pior. Não houve nada. Não fica nada.
Augusto M. Seabra avalia a "temporada Moreira-Dammann" do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC). Aqui , aqui e aqui. Chama-lhe, delicadamente, "o disparate anunciado". «O panorama aproxima-se de um desastre generalizado e da maior incúria. Sobre esta próxima temporada paira claramente a sombra do ex-secretário de Estado Mário Vieira de Carvalho, que de resto, em vários textos no “Público” e uma resposta ao actual ministro no “Expresso”, tem dados mostras suficientes de que não se dá por vencido, antes que continua a ser o ideólogo.» Desde sempre fui mais radical. O TNSC tem problemas estruturais por resolver desde que se tornou num "produto" de variadíssimas "experiências" de gestão. A "solução" seguinte limitou-se invariavelmente a juntar a sua própria ineficácia às que herdou. Empresa pública, fundação, instituto, "EPE", OPART ou outra coisa qualquer acumularam erros e vícios, vícios e erros. Em coerência, sempre defendi que, à semelhança do que aconteceu com outros teatros líricos, o TNSC devia encerrar para mudar de "registo". A opção, porém, tem sido a de empurrar as questões de funcionamento com a barriga ou com a marreca- ora Falstaff, ora Rigoletto - ou em varrê-las para debaixo do tapete como num momento cómico de Rossini. O ridículo foi atingido quando um dia o Teatro fechou como "EP" e abriu praticamente no dia seguinte como "fundação" para, dizia-se, celebrar o respectivo "bicentenário". E quando teve uma "direcção artística" a "trabalhar" no Teatro (Ribeiro da Fonte) e outra, a futura, a "preparar" ao mesmo tempo, na Ajuda, uma nova "temporada" (Ferreira de Castro). Estas trapalhadas custaram ao erário público milhares de contos em indemnizações e equivalentes sem que o Teatro tivesse ganho o que quer que fosse com tanta "mudança". Os problemas de que falo, com origem tanto nas "mudanças" como nas "permanências", precedem toda e qualquer temporada e a OPART já devia ter dado por isso e tirado daí consequências. Ou, em alternativa, o ministro tirá-las. Enfim, e como escreve o Augusto, «é mesmo inaceitável esta transformação do São Carlos em teatro alemão de segunda ou terceira ordem (ainda por cima, com os cantores a menos), o que de resto é um quadro restritivo de perspectivas e cosmopolitimo, e antes um outro modo provinciano, no caso “deslocalizado”.» Mais. «Tudo isto demonstra, além de graves incúrias, desde logo do director Christoph Dammann, esta espécie de “domínios privados” em que transformaram as instituições culturais: são as opções de Mário Vieira de Carvalho ou os “contributos” de Fragateiro e Mega Ferreira. E é um disparate anunciado, e o plano inclinado do vazio de perspectivas no São Carlos.»
Adenda: Uma infeliz "herança" do consulado Pires de Lima/Vieira de Carvalho na cultura, Carlos Fragateiro, o director do D. Maria, foi hoje removido por Pinto Ribeiro. Agora é preciso que Pinto Ribeiro "medite" sobre a OPART. Não necessariamente para o mesmo efeito, mas por forma a produzir um efeito.
A OPART "atacou" de novo. Desta vez para "apresentar" a temporada de ópera. Apanhei o resumo da coisa por uma jornalista da Antena 1, no carro. "Muito economês e pouca música", disse ela. O presidente da OPART falou em números - de espectadores, de récitas, de concertos, de outros espectáculos -, da crónica falta de dinheiro e da sua aparente habilidade para "contornar" os "recursos" a menos. Na reportagem ouviu-se o director artístico, o alemão Dammann, a murmurar umas vacuidades e o dito presidente a "justificar" o fracasso de Das Märchen, de Emmanuel Nunes. Retive a continuação da tetralogia de Wagner, iniciada por Pinamonti, e uma coisa qualquer encenada por Maria Emília Correia. Também retive que não esteve presente ninguém do ministério de Pinto Ribeiro, designadamente a sua secretária de Estado que, por acaso, foi da direcção do Teatro noutra encarnação. Uma vez que o presidente aprecia - e só lhe fica bem - falar tanto em números, convinha que esclarecesse, por exemplo, os valores reservados para o funcionamento do São Carlos (sobretudo despesas com pessoal e outros "quadros") por comparação com os afectos à produção artística, aquilo que verdadeiramente justifica o único equipamento cultural destinado especificamente ao teatro lírico. Os contribuintes, pode ter a certeza, ficar-lhe-iam tão gratos como surpreendidos.
Cerca de um ano depois do afastamento de Paolo Pinamonti da direcção artística do único teatro de ópera do país - pago, no fundamental, pelo orçamento de Estado/contribuinte - parece que a coisa vai de mal a pior. A remoção do ex-teórico marxista Vieira de Carvalho da Ajuda não mexeu uma palha no São Carlos. É um caso sério de morte lenta sem transfiguração.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...