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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

«Golpe até ao osso»

João Gonçalves 14 Fev 12

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,

linda vista para o mar,

Minho verde, Algarve de cal,

jerico rapando o espinhaço da terra,

surdo e miudinho,

moinho a braços com um vento

testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,

se fosses só o sal, o sol, o sul,

o ladino pardal,

o manso boi coloquial,

a rechinante sardinha,

a desancada varina,

o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,

a muda queixa amendoada

duns olhos pestanítidos,

se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,

o ferrugento cão asmático das praias,

o grilo engaiolado, a grila no lábio,

o calendário na parede, o emblema na lapela,

ó Portugal, se fosses só três sílabas

de plástico, que era mais barato!

 

 

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,

rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,

não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço,

galo que cante a cores na minha prateleira,

alvura arrendada para ó meu devaneio,

bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

 

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,

golpe até ao osso, fome sem entretém,

perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,

rocim engraxado,

feira cabisbaixa,

meu remorso,

meu remorso de todos nós...

 

 

Alexandre O' Neill

 

REMORSO DE TODOS NÓS

João Gonçalves 28 Abr 10

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,

linda vista para o mar,

Minho verde, Algarve de cal,

jerico rapando o espinhaço da terra,

surdo e miudinho,

moinho a braços com um vento

testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,

se fosses só o sal, o sol, o sul,

o ladino pardal,

o manso boi coloquial,

a rechinante sardinha,

a desancada varina,

o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,

a muda queixa amendoada

duns olhos pestanítidos,

se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,

o ferrugento cão asmático das praias,

o grilo engaiolado, a grila no lábio,

o calendário na parede, o emblema na lapela,

ó Portugal, se fosses só três sílabas

de plástico, que era mais barato!

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,

rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,

não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço,

galo que cante a cores na minha prateleira,

alvura arrendada para ó meu devaneio,

bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,

golpe até ao osso, fome sem entretém,

perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,

rocim engraxado,

feira cabisbaixa,

meu remorso,

meu remorso de todos nós...


Alexandre O'Neill, Feira Cabisbaixa

"POESIA E PROPAGANDA"

João Gonçalves 21 Fev 10


Hei-de mandar arrastar com muito orgulho,
Pelo pequeno avião da propaganda
E no céu inocente de Lisboa,
Um dos meus versos, um dos meus
Mais sonoros e compridos versos:

E será um verso de amor...


Alexandre O’Neill

DOS LIVROS - 2

João Gonçalves 8 Jul 07


O solitário e o exílio interior*

"O solitário sobe e desce pelo tempo a seu bel-prazer. Fala o menos possível. Entrou na abstinência sexual e só de longe em longe se permite «esgaramantear uma laustríbia», como dizia, sem étimos aparentes, o Mário Ramiro. O solitário está nas suas sete quintas, quer dizer, nos sete dias da sua semana, dias que entram pelas noites, que lividamente se confundem com os dias. (...) O exílio interior pressupõe um corte total com os meandros por onde se movimentam os chamados carreiristas, sempre prontos à transigência. (...) O exílio interior pede uma grande força de ânimo (e um nojo não menor), a alimentação constante de um ideal, um amor sem limites à verdade, o afrontar corajoso de uma envolvente solidão, um elevado espírito de sacrifício. O exílio interior tem algo parecido com a atitude mental dos místicos: o abandono dos pactos com este mundo mundanal para a preservação de um único: o pacto com Deus. O exílio interior (...) é o comportamento coerente que se oferece a quem, rodeado pela adversidade, teima em preservar o pequeno núcleo que faz, fará com que um dia possamos - nós, os pactuantes - dizer aquela pessoa."

*excertos de duas crónicas de Alexandre O'Neill no livrinho Uma Coisa em Forma de Assim, da Assírio& Alvim, uma excelente leitura ou releitura de cabeceira nestes tempos de chumbo, individual e colectivo, de um "novo" Portugal "amordaçado".

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