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portugal dos pequeninos

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"Quando o disparate ferve"

João Gonçalves 17 Jan 14

 

O dr. Lima, à Horta Seca, não quer bolsas para investigação "fora da vida real". O que será a "vida real" para esta pobre criatura? Será um mundo sem pessoas ou com elas descerebradas? Um mundo cibernético e marialva onde os descerebrados da "vida real" intervalam uns minutos para beber umas bejecas no "mercado"? Um mundo sem estética, sem livros (que horror), sem curiosidade cultural e científica, isto é, sem "humanidades" ou património, e apenas com "plataformas tecnológicas" onde se possa fazer cocó reciclável para exibir em feiras de "empreendedorismo e inovação" juntamente com pernil de porco? O próprio dr. Lima não estaria disposto a abdicar de si mesmo para dar lugar a uma máquina que viva no "conforto" da única "vida real" que conhece, a das "empresas", como se a sua actividade sináptica fosse meramente facultativa? Nada que espante já. Como escreve Vasco Pulido Valente no Público, «o dr. Nuno Crato apareceu numa conferência de imprensa conjunta com o dr. Pires de Lima. Nessa conferência os dois resolveram falar sobre “empreendedorismo e inovação”. Tanto um como o outro falaram com entusiasmo da colaboração entre a ciência e a economia: prometeram 50 milhões de euros, uma série de programas de utilidade duvidosa e um esforço para mandar infinitos doutorados para empresas de grande futuro. Mas, como bons burocratas que são, e nunca deixarão de ser, anunciaram também a sua coroa de glória: a criação de uma “agência interministerial” para se ocupar do assunto; o que significa evidentemente mais funcionários, mais conselheiros, mais secretárias, mais despesa e por aí fora.    Claro que, se o “presidente” ou “director” desta original loucura tiver um resto de juízo, manda ao sr. Pires de Lima e ao sr. Crato uma cartinha, aconselhando este excelentíssimo par a devolver as bolsas a quem as tirou e pedindo respeitosamente a sua demissão. Mas, como uma criatura destas não é fácil de encontrar em Portugal, só nos resta, para nos divertir, fazer listas comentadas das contradições destes cavalheiros e de Passos Coelho e Portas, que os deveriam vigiar. Verdade que o tempo não está para risotas, sobretudo num caso destes. De qualquer maneira talvez não deixasse de confortar os portugueses compreender a inteligência e a subtileza de quem os pastoreia. Quando o disparate ferve, convém estar preparado para qualquer emergência.»

1 comentário

De Marco Neves a 19.01.2014 às 23:32

Se quisermos pensar do lado das empresas: aposte-se em investigação limitada à partida pelo critério da utilidade e a fonte secará rapidamente. Aposte-se em investigação pura e dura e a fonte começará a jorrar "utilidade" (e conhecimento, claro está) sem parar.

Por outras palavras: aposte-se na prática, e ficarão sem teoria e sem prática. Aposte-se na teoria e os resultados práticos serão imprevisíveis e imensos.

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