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portugal dos pequeninos

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Homens sem qualidades

João Gonçalves 21 Mar 15

 

Este artigo de José Pacheco Pereira resume eloquentemente a amálgama de homens sem qualidades e sem sentido das responsabilidades que constitui hoje a "elite" governamental coligatória. «Não é de agora, mas agora a mediocridade do poder aumenta a visibilidade e a inaceitabilidade (...). Passos Coelho, que conhecia a notícia da Visão, não tem um assessor que lhe diga “seja prudente enquanto não se esclarecer esta história da acção de formação”, porque era isso que tinha que ser esclarecido? Não. O poder vive da hierarquia e uma mentira navega muito bem pela hierarquia acima quando é conveniente. Homens sem qualidades não assumem responsabilidades. Veja-se o caso de Pires de Lima e das suas declarações, num longo comentário feito na TSF no dia 18 a pretexto do relatório do FMI. Vale a pena ouvir. Numa voz arrastada e transpirando um imenso tédio, o ministro insultou os “técnicos” do FMI (quando lhes convém passam de “credores”-salvadores a “técnicos” com palas), que vinham a Lisboa para se instalar em “bons hotéis” e escrever uns relatórios provocadores para garantirem títulos nos jornais. A sua competência “técnica” era escassa, tanto mais que “falhavam em tudo” e num futuro próximo apareceriam de “orelhas de burro” aos portugueses. Tudo isto, insisto, com imenso enfado e nojo. Irritado com o facto de os “técnicos” não alinharem no discurso eleitoral do governo, fazerem previsões pouco optimistas sobre o futuro da economia portuguesa, e denunciarem a verdade de Polichinelo que é que o governo está já há algum tempo em modo eleitoral e por isso não faz “reformas”, Pires de Lima atribuía isto tudo à necessidade mediática do FMI em ver-se falado nos jornais, sem o que se podia questionar se servia para alguma coisa. E foi mais longe: disse, não sugeriu mas disse, que o que se passava é que o FMI estava ressentido por já não “controlar a economia portuguesa”, ou seja, tinha aquilo que os portugueses chamam dor de corno. Pires de Lima, cuja função no governo é tão fictícia como a sua visão eleitoral da economia, tem-se caraterizado por fazer uma espécie de papel de bufão da corte especializando-se por dizer piadas e umas superficialidades muitas vezes malcriadas no parlamento. Mas está a falar do FMI, uma entidade a que Portugal pertence, e que até há poucos dias era suposto “governar” o “protectorado” português, com total aplauso dos homens que queriam ir “para além da troika” (sim troika de três, BCE, Comissão Europeia e FMI…). Aliás um deles, Vítor Gaspar tem hoje um alto cargo no FMI, a tal instituição com “orelhas de burro”. Ora se esta instituição, tecnicamente mal preparada e com “orelhas de burro”, esteve a tomar conta de nós em conúbio com o governo Passos Coelho-Portas, alguma coisa esteve muito mal no “ajustamento”. Eu sei que esteve, mas se há alguém que não tem qualquer autoridade para criticar o FMI por defender as políticas que foram as do governo PSD-CDS e que no plano teórico e ideológico nunca abandonou é Pires de Lima (...). Eu sei que o que irrita Pires de Lima é a inoportunidade eleitoral das declarações do FMI, e a sua chamada de atenção para um tabu do próprio, que é a incompetência e falta de preparação de muitos empresários portugueses, porque, quanto ao resto, qual é a diferença entre o que pensava a troika e o que pensa o governo que quis ir “mais além da troika”? Nenhuma. Só não é conveniente lembrá-lo em ano eleitoral (...). São sinais, sintomas, emanações, efeitos, pestilência, do que está por baixo. Sempre que há degradação no poder político, seja por incompetência, abuso do poder, dolo, ou corrupção, os “casos” proliferam e são fendas pelas quais se podem perceber coisas bem mais importantes. Como esta: os homens sem qualidades não assumem responsabilidades.» Por consequência, só se explica que Marcelo apelide isto de "o certo" por puro taticismo contingente. Será gente deste jaez que vai colocar na sua "comissão de honra"?

10 comentários

De Anónimo a 21.03.2015 às 14:51

Completamente de acordo. No entanto, já vi este filme, que acabou em Sócrates. Foi assim que estes lá chegaram e é assim que outros lá chegarão, ainda piores.

De fado alexandrino a 21.03.2015 às 16:18

Eu, se fosse ao senhor, evitava citar qualquer coisa que pessoas rancorosas como JPP ou MFL dissessem.
Neste caso JPP olhou para a política portuguesa e só conseguiu ver podres no seu próprio partido, no caso de ainda pertencer ao PSD.
Ainda por cima ignora o que os altos quadros da AT já disseram alto e bom som.
Creia, com amizade, que o seu nome está bem mais limpo do que aqueles que por despeito e ódio mordem a mão que lhes deu de comer.

De João Gonçalves a 21.03.2015 às 19:16

Não percebo o seu ponto. O artigo, de uma forma mais detalhada e discutível (mas é para isso que se escreve e não para fazer fofinhos de páscoa), exemplifica o que eu próprio escrevi noutro post sobre responsabilidades políticas: os dirigentes da AT assumiram as que entendiam dever assumir, nunca políticas, e o SE apenas assumiu que convive bem com a ignorância. Um direito dele. E não me peça designadamente para reconhecer qualidades políticas designadamente ao dr. Lima. Nestas como em outras matérias, estas pessoas de facto têm-se comportado como homens sem qualidades. E o dr. Passos superintende pelos vistos sem quaisquer perturbações como, aliás, é timbre dele. Cpts.

De fado alexandrino a 21.03.2015 às 23:15

Muito obrigado.
O senhor em certos momentos da sua vida pública foi alto quadro e espero que ainda o volte a ser.
Se durante um desses mandatos o contínuo do seu departamento fosse apanhado a fazer um filme porno com uma das secretárias o senhor era culpado?
Obvio que não e ainda mais obvio que depois de colocar na rua ambos não se ia juntar-lhes apenas para gozo do departamento ao lado.
O meu comentário referia-se apenas a este ponto.
Os outros não me interessam mas interessaram e de que maneira um ex-deputado e ex-deputado europeu do PSD.

De João Gonçalves a 22.03.2015 às 13:10

Embora estejam, na prática, transformados nisso os partidos não são exactamente escolas de obediência canina.

De carlos vargas a 21.03.2015 às 20:27

Lúcido e brilhante como sempre, João Gonçalves 

De João Gonçalves a 22.03.2015 às 13:11

Carlos, aqui o "lúcido e brilhante" é o Pacheco. Eu apenas reproduzi parte com duas notinhas.

De Carlos Vargas a 22.03.2015 às 16:51

Eu sei, João. Mantenho a apreciação global, retroativa. E uma trannscrição como é o caso também pode ser lúcida e brilhante. 

De eirinhas a 22.03.2015 às 10:40

Estou de acordo com o Sr. João  Gonçalves.Quanto ao Sr. Fado Alexandrino,tenho dúvidas sempre que leio  os seus comentários! Gostaria que me apontasse,e são muitos,que morderam a mão à Senhora,por quem tenho muito respeito,DRª. Manuela Ferreira Leite.

De Marquês Barão a 22.03.2015 às 11:17

Fico baralhado na história da chamada lista VIP. Quando temos apenas versões de partes envolvidas já se tiram conclusões? Não seria mais prudente aguardar pelos resultados dos inquéritos tanto do parlamento com da inspecção de finanças, e ainda da provável investigação criminal? Não seria melhor que homens que apontam falta de qualidade aos outros a aplicassem em proveito próprio, não se precipitando com a colocação da carroça á frente dos bois? Ainda não valeu nada Dr. Pacheco Pereira, e já agora se não tem meta uns assessores.

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