Portugal dos Pequeninos © 2003 - 2015 | Powered by SAPO Blogs | Design by Teresa Alves
Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
"Os tempos são ligeiros e nós pesados porque nos sobram recordações". Agustina Bessa-Luís
João Gonçalves 9 Dez 14
O "meio" tem estado entretido com a promissora "novela" Espírito Santo. Qualquer imbecil simples já percebeu o "ponto" de todos os intervenientes, desde os familiares aos parlamentares (consoante a seita que representa) passando pelo governo e pelo magnífico dr. Costa do Banco de Portugal. Estou-me francamente nas tintas para os ditos todos. Entretanto, por um post do Pedro Piedade Marques no Facebook, fiquei a saber que a Livraria Lácio, no Campo Grande à esquina do prédio onde mora Mário Soares desde sempre, fechou. «Primeiro viam-se as montras cobertas pelas persianas e um papelinho à porta informava que o fecho temporário se devia a "motivo de doença". Depois, quando lá passei há dias a caminho da Torre do Tombo, já não havia papelinho: lá dentro, encaixotavam-se os livros. E assim, uma livraria enorme, com cinco ou seis montras, desapareceu. E aos que argumentam que o local é "ermo" para livrarias recordo que não o era há uns 30 anos (ainda me lembro da excelente livraria que havia ali perto no Caleidoscópio do Jardim do Campo Grande), e que a Cidade Universitária continua ali perto, bem como a Biblioteca Nacional e o maior arquivo português. Se uma localização destas já não beneficia uma livraria...» O torpor estupidificante que tomou conta da minha vida nos últimos tempos - como se tivesse inexplicavelmente sido expulso dela - afastou-me de pequenas coisas que apreciava. Entre elas o passar pela Lácio, vasculhar livros a cheirar ao bom pó dos livros, encontrar os que nunca se hão-de encontrar nos centros comerciais em que se tornaram, indistintas, quase todas as livrarias mesmo as mais "respeitáveis". E falar um pouco com o Marcos André. Agora sei que não voltaremos a falar a não ser através dos autores que ambos apreciávamos. "A conversa passou por cá, pelo Brasil, por talhos que outrora foram editoras, por Vergílio Ferreira, pelos cinquenta anos da Presença, por Sena, por Fernando Guedes, por Manuel Brito, enquanto lá fora, no Campo Grande, passavam bandos de corvos agarrados aos copos de plástico com cerveja. Imagino que nem sequer dez dos milhares de "alunos" das universidades das redondezas terão entrado na Lácio ao longo de um ano lectivo. Aquilo não é sítio para putas, femininas ou masculinas, formadas ou deformadas. É um espaço de dignidade e de humanidade, de amor aos livros como poucos já existem, onde as vendas mal dão para pagar a luz". Mais de quatro anos depois disto escrito, a luz pelos vistos extinguiu-se. E, a cada minuto que passa, as putas, femininas ou masculinas, formadas ou deformadas, avançam. Em 1970, Marcos André editou um livrinho de poemas no Brasil. Ofereceu-me um exemplar que dedicou "a um leitor que gostou de "coisas" que nele vão escritas". Nas palavras que antecedem os poemas, André pergunta por que os decidiu editar. Seria «por ter sido surpreendido, ao iniciar a minha carreira de livreiro, com a chamada elite cultural, emaranhada e desgastando-se inutilmente em intriguinhas provincianas?" Seria porque foi acometido pelo "vómito mental que sentia por ver e constatar tanta estreiteza e mesquinhez?" Um poema, como escreveu Eduardo Lourenço num bom momento de inspiração, não possui exterior a que reenvie. Mas as questões deixadas em aberto andam por aí como andavam na altura em que André, por São Paulo, as formulou. De agora em diante é também delas que me vou recordar se e quando voltar àquela esquina do Campo Grande. A Lácio passou a fazer parte daqueles "céus desabitados" da frase de Aparição, de Vergílio Ferreira, que serve de epígrafe ao livrinho de Marcos André, Entrevero. «Que mais há na tua vida que o teu canto, a angústia do teu grito contra os céus desabitados?»
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...