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"Os tempos são ligeiros e nós pesados porque nos sobram recordações". Agustina Bessa-Luís
João Gonçalves 11 Fev 13

A notícia da resignação do Papa Bento XVI apanhou-me desprevenido como quase todas as coisas importantes da minha vida sempre me apanharam. Ratzinger, disse-o esta manhã, não terá encontrado na fragilidade do seu corpo forças suficientes para prosseguir. E, perante Deus e os homens, entendeu dever sair. Sai, infelizmente, num dos piores momentos da vida espiritual do mundo onde a sua voz trémula brilhava como poucas conseguem brilhar. Agora ficamos definitivamente entregues aos "homens que calculam", à mediocridade da chamada "vida material" e aos pequenos palermas que a conduzem. Ratzinger é um pensador maior do século XX e, nesse sentido, a sua "lição" permanece. Também permanecem as suas intervenções enquanto Papa Bento XVI. Sem uma palavra a mais ou de menos, o Papa soube, como poucos na sua posição, entender a contingência da "condição humana" e, intimamente, sempre desconfiou do "homem" em quem toda a gente confia, o chamado "homem médio". As alturas de Ratzinger nunca foram "deste" mundo". Imagino que para além da questão física, pese mais em Ratzinger a questão espiritual e a questão racional que, nele, não se distinguem. Deve-lhe ser intelectualmente insuportável assistir à vulgarização de tudo apesar da fé. Julgo que até a própria instituição, a Igreja e os seus servidores directos, o terá desiludido pela sua pusilanimidade e oportunismo. Não sou um optimista e a leitura atenta de Ratzinger ajudou-me nessa convicção. Espero quase sempre o pior do "outro" e desconfio do "progresso". Tecnicamente sou considerado um "reaccionário". Como Gianni Vattimo, serei um "mezzo credenti" que, contra toda a esperança, confia no amor de Deus e na Sua "caritas". E, aí, Bento XVI não me abandona, resignando, nem eu me resigno perante o seu abandono. Raztinger não ficará na história como um Papa banal nem tão-pouco como o profeta das trevas que os burgessos teimavam ver representado nele. É um intelectual com um profundo conhecimento da cobardia do "homem moderno". Ratzinger é um excelente observador do presente, um analista e um "comentador" privilegiado do contemporâneo precisamente porque a sua extraordinária "couraça" filosófica lho permite. Sabe que a sobrevivência da Igreja nestes tempos levianos e superficiais depende muito dessa "couraça" e como isso é importante para quem crê e para quem duvida. Sou o produto híbrido entre um céptico que crê e um crente que duvida. Tudo o que até agora li de Raztinger e ouvi do Papa Bento me permite continuar assim - a crer e a duvidar. Como ele escreveu na sua primeira encíclica, Deus Caritas Est, trata-se de "um processo que permanece continuamente em caminho: o amor nunca está "concluído" e completado; transforma-se ao longo da vida, amadurece e, por isso mesmo, permanece fiel a si próprio. Idem velle atque idem nolle - querer a mesma coisa e rejeitar a mesma coisa é, segundo os antigos, o autêntico conteúdo do amor". E é Jesus que no desalinho do seu sacrifício nos mostra o caminho razoável: "Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder, conservá-la-á » (Lc 17, 33) — disse Jesus, afirmação esta que se encontra nos Evangelhos com diversas variantes (cf. Mt 10, 39; 16, 25; Mc 8, 35; Lc 9, 24; Jo 12, 25). Assim descreve Jesus o seu caminho pessoal, que O conduz, através da cruz, à ressurreição: o caminho do grão de trigo que cai na terra e morre e assim dá muito fruto." Já na encíclica Spe Salvi, o Papa termina com uma referência a "Maria, estrela da esperança", porque Ela recebeu uma "nova missão" da cruz, esse mencionado escândalo que todos os dias interpela, comove e nos levanta. «A partir da cruz ficastes mãe de uma maneira nova: mãe de todos aqueles que querem acreditar no vosso Filho Jesus e segui-Lo. A espada da dor trespassou o vosso coração. Tinha morrido a esperança? Ficou o mundo definitivamente sem luz, a vida sem objectivo? Naquela hora, provavelmente, no vosso íntimo tereis ouvido novamente a palavra com que o anjo tinha respondido ao vosso temor no instante da anunciação: «Não temas, Maria!» (Lc 1,30). Quantas vezes o Senhor, o vosso Filho, dissera a mesma coisa aos seus discípulos: Não temais! Na noite do Gólgota, Vós ouvistes outra vez esta palavra. Aos seus discípulos, antes da hora da traição, Ele tinha dito: «Tende confiança! Eu venci o mundo.» (Jo 16,33).» Ámen.
Adenda (inevitável) do fim do dia: Na sua tradicional fúria "criativa" contra Ratzinger, alguma da chamada comunicação social (que saudades dos jornalistas que sabiam ler, escrever, contar e fazer o trabalho de casa) insiste - pelo menos alguma caseirinha e especialmente bronca - em associar o pontificado de Bento XVI a "escândalos". Que Deus lhes perdoe a tacanhez.
João Gonçalves 26 Nov 12
«Jesus não tem nenhuma ambição política. Depois da multiplicação dos pães, o povo, entusiasmado com o milagre, queria pegar n’Ele e fazê-Lo rei, para derrubar o poder romano e assim estabelecer um novo reino político, que seria considerado como o reino de Deus tão esperado. Mas Jesus sabe que o reino de Deus é de género totalmente diverso; não se baseia sobre as armas e a violência. E é justamente a multiplicação dos pães que se torna, por um lado, sinal da sua messianidade, mas, por outro, assinala uma viragem decisiva na sua actividade: a partir daquele momento aparece cada vez mais claro o caminho para a Cruz; nesta, no supremo acto de amor, resplandecerá o reino prometido, o reino de Deus. Mas a multidão não entende, fica decepcionada, e Jesus retira-Se para o monte sozinho para rezar, para falar com o Pai (cf. Jo 6, 1-15). Na narração da Paixão, vemos como os próprios discípulos, apesar de terem partilhado a vida com Jesus e ouvido as suas palavras, pensavam num reino político, instaurado mesmo com o uso da força. No Getsêmani, Pedro desembainhara a sua espada e começou a combater, mas Jesus deteve-o (cf. Jo18, 10-11); não quer ser defendido com as armas, mas deseja cumprir a vontade do Pai até ao fim e estabelecer o seu reino, não com as armas e a violência, mas com a aparente fragilidade do amor que dá a vida. O reino de Deus é um reino completamente diferente dos reinos terrenos. Por isso, diante de um homem indefeso, frágil, humilhado como se apresenta Jesus, um homem de poder como Pilatos fica surpreendido – surpreendido, porque ouve falar de um reino, de servidores – e faz uma pergunta, a seu ver paradoxal: «Logo, Tu és rei!». Que tipo de rei pode ser um homem naquelas condições!? Mas Jesus responde afirmativamente: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz» (18, 37). Jesus fala de rei, de reino, referindo-Se não ao domínio mas à verdade. Pilatos não entende: poderá haver um poder que não se obtenha com meios humanos? Um poder que não corresponda à lógica do domínio e da força? Jesus veio para revelar e trazer uma nova realeza: a realeza de Deus. Veio para dar testemunho da verdade de um Deus que é amor (cf. 1 Jo 4, 8.16) e que deseja estabelecer um reino de justiça, de amor e de paz (cf. Prefácio). Quem está aberto ao amor, escuta este testemunho e acolhe-o com fé, para entrar no reino de Deus.»
Bento XVI, 25.11.12
João Gonçalves 19 Abr 12
A Constança Cunha e Sá, na tvi 24, analisou perfeitamente o Papa Bento XVI (Joseph Ratzinger) que completou hoje sete anos de pontificado: um grande teólogo e um dos maiores intelectuais do nosso tempo, um Papa que critica o relativismo e que interpela a sociedade ao falar à inteligência - e não apenas ao coração - do homem.
João Gonçalves 15 Abr 12

Volta não volta, regressa aquela arremelgada idiotice da "necessidade" de o Vaticano (e, em especial, Ratzinger) se "adaptar" aos tempos que correm. O jornal Público dedica meia dúzia de páginas à coisa e resume-as na seguinte frase: «os católicos têm de repensar a sua relação com uma sociedade que lhes escapa.» Esta frase - e os pressupostos em que ela assenta -, salvo o devido respeito, é um equívoco. Desde logo, a Igreja Católica representada pelo Papa Bento XVI é uma instituição cultural milenar que já viu "passar" demasiados "modelos" societários que a história e a "condição humana" se encarregaram de ultrapassar e, nalguns casos, de irradicar totalmente. A Igreja, por natureza, não funciona pela regra da contingência nem se sujeita ao "historicismo". Eles, os "modelos", passaram e a Igreja permaneceu conforme ao instante fundador: «tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja.» Depois, Ratzinger é quem menos se importa com a opinião "maioritária" ou que se publica. Desde os anos 70 do século passado que ele afirma que a Igreja deve estar preparada para viver em minoria e não a toque de caixa de "movimentos" ou do "progresso". Na sua primeira viagem apostólica, à Turquia, Bento XVI deslocou-se propositadamente a uma aldeia remota do país para celebrar missa junto de pouco mais de uma centena de fiéis católicos. Este Papa não foi escolhido para ser "estrela pop" ou para abrir telejornais a ler homilias num Ipad. Não possui, aliás, a menor ilusão sobre o homem contemporâneo, o tal que supostamente "lhe escapa" quando ele o topa melhor que ninguém. Bento XVI prefere uma Igreja de poucos, firmes e fortes, a uma Igreja com uma multidão de pusilânimes internos e externos. Quem deve "repensar" a sua relação consigo própria é a sociedade - vazia, indiferente, desesperançada intelectualmente e infantil - à qual "escapa", de facto", o essencial.
João Gonçalves 6 Abr 12

A Páscoa, para os cristãos e para os católicos, em particular, deve significar um momento grave de reflexão. Como escreveu em tempos o então Cardeal Ratzinger, «o Senhor saiu: é este o sinal da sua força. Ele desceu para a noite de Getsémani, para a noite da Cruz, para a noite do túmulo. Ele desceu porque, no confronto com a morte, é mais forte; porque o seu amor leva o selo do amor de Deus que tem mais poder que as forças da destruição. É precisamente nessa saída, no caminho da Paixão, que está o acto da sua vitória; no mistério do Getsémani já está o mistério da alegria pascal. Ele é o mais forte, não há nenhum poder que possa resistir-Lhe e nenhum lugar onde Ele não esteja. Ele chama-nos a tentar a caminhada com Ele, porque onde houver fé e amor, aí estará Ele, aí estará a força da paz que supera o nada e a morte.» Ontem, Raztinger, o Papa Bento XVI, na homilia crismal proferida no Vaticano, votou a explicar o essencial a propósito da ordenação de mulheres. O Papa muito cedo afirmou que a Igreja - ao contrário do que acontece noutras actividades hmanas como, por exemplo, a política - não faz proselitismo. E, sobretudo, não pratica a tergiversação. De outra forma não teria a força milenar que, de facto, tem para superar o nada e a morte. Ao abordar a questão da ordenação de mulheres, o Papa foi muito claro. «Recentemente, num país europeu, um grupo de sacerdotes publicou um apelo à desobediência, referindo ao mesmo tempo também exemplos concretos de como exprimir esta desobediência, que deveria ignorar até mesmo decisões definitivas do Magistério, como, por exemplo, na questão relativa à Ordenação das mulheres, a propósito da qual o beato Papa João Paulo II declarou de maneira irrevogável que a Igreja não recebeu, da parte do Senhor, qualquer autorização para o fazer. Será a desobediência um caminho para renovar a Igreja? Queremos dar crédito aos autores deste apelo quando dizem que é a solicitude pela Igreja que os move, quando afirmam estar convencidos de que se deve enfrentar a lentidão das Instituições com meios drásticos para abrir novos caminhos, para colocar a Igreja à altura dos tempos de hoje. Mas será verdadeiramente um caminho a desobediência? Nela pode-se intuir algo daquela configuração a Cristo que é o pressuposto para toda a verdadeira renovação, ou, pelo contrário, não é apenas um impulso desesperado de fazer qualquer coisa, de transformar a Igreja segundo os nossos desejos e as nossas ideias? (...) Deus não olha para os grandes números nem para os êxitos exteriores, mas consegue as suas vitórias sob o sinal humilde do grão de mostarda. (...) Todo o nosso anúncio se deve confrontar com esta palavra de Jesus Cristo: «A minha doutrina não é minha» (Jo 7, 16). Não anunciamos teorias nem opiniões privadas, mas a fé da Igreja da qual somos servidores.»
João Gonçalves 28 Out 11

João Gonçalves 15 Set 11

João Gonçalves 1 Set 11
João Gonçalves 18 Ago 11

João Gonçalves 28 Mar 11

Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...