
Por circunstâncias diversas, o jornalismo (e os jornalistas), face às desventuras ocorrentes na pátria de Sua Majestade britânica, tomou conta da impropriamente chamada silly season. Costumo dizer que, como com tudo e todos na vida, tenho respeito pela profissão mas não me consumo em temores reverenciais perante ela. Também não sou adepto de "teorias da conspiração" que envolvem invariavelmente jornalistas ou ex-jornalistas a não ser, como no affair Murdoch, que fique provado o contrário. Todavia, existe manifestamente uma crise (a juntar à económica) a grassar os meios tradicionais de comunicação social. E os problemas do mercado - tão cheio de incerteza quanto de imprudência (gosto destes termos do ministro das finanças) - só agravam a questão. O que muitas vezes uma manchete espelha é mais a consequência disto do que uma "notícia" em si. Um conhecido comentador televisivo ficou, aliás, famoso quando, numa outra encarnação, era tido por "criador" de "factos políticos"numa altura em que a concorrência e a penúria estavam longe de ser o que agora são. Aprendi com um professor de direito que a vida é sempre mais rica do que a imaginação. Eis um dado a ter em conta pelo jornalismo para os dias de imprevisibilidade que vivemos. António Guerreiro, jornalista do suplemento Actual do Expresso, lembrou-se de Karl Kraus por causa de Murdoch e da política inglesa contemporânea - de Thatcher a Blair, de Brown a Cameron. Kraus, o polemista de Die Fackel, apodava o jornalismo de "magia negra" («os jornais têm mais ou menos a mesma relação com a vida que a cartomante com a metafísica») e desconfiava profundamente da opinião pública, o equivalente ao senso comum que Nabokov explicava como o cruzamento de um cavalo com um elefante. As referidas concorrência e penúria, porém, "mataram" a polémica ou colocaram-na (sobretudo a falsa) aos serviço delas. Desapareceu, em suma, uma certa noção de liberdade de espírito culto que caracterizava os tempos também diferentemente difíceis que Kraus viveu e descreveu. Dizia ele que «a missão da imprensa consiste em propagar o entendimento e, simultaneamente, em destruir a receptividade do entendimento.» Não lhe demos, mais de um século depois, motivos para ter razão.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...