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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Presidenciais curtas

João Gonçalves 30 Dez 15

 

A "lógica" encontrada para os debates televisivos entre candidatos presidenciais é nenhuma. Quem é que, mesmo gravando e vendo depois, está para gramar três debates num dia? E trinta ou quarenta e tal por junto, atamancados a correr entre o dia 1, sexta-feira, e o dia 10, data do início da campanha oficial? Até à campanha de 1985 -1986 (a de 1991 não conta porque era uma recandidatura), a última de jeito e digna de se chamar campanha política, só havia a RTP. Agora as três generalistas multiplicam-se por dois e o grosso dos debates tem lugar nas de "informação". Falta juntar aos sete previstos nos vários curtos espectáculos (45m) três candidatos que têm tanto direito aos seus minutinhos de fama como os outros. Tudo ocorre a correr na ressaca das "festas" e na vertigem dos saldos. Os principais candidatos a incumbente desdobram-se a comentar o diarismo noticioso. Fui sempre defensor da liderança institucional do PR pelo que este estado da arte superficial, "presencista" e sem um desígnio vigoroso, incomoda-me. Se há eleição em que o meio tem sido a mensagem (e a massagem) é esta. É curto.

Que "tempo novo"?

João Gonçalves 29 Dez 15

 Começou mal o "tempo novo" anunciado pelo primeiro-ministro no Natal. A maioria aritmética que suporta o Governo no Parlamento quis abrir o cordão às bem-aventuranças materiais e espirituais caras às esquerdas: costumes, aumentos meramente simbólicos em prestações sociais e recuperação faseada de salários. Já quanto à sobretaxa, um imposto atípico e inconstitucional, e em relação à chamada "contribuição extraordinária de solidariedade" (que nome extraordinário) as esquerdas torceram o panfleto e aceitaram a manutenção suavizada do austeritarismo. As direitas opuseram-se a tudo como se alguém lhes viesse agradecer mais adiante o exercício. Sucede que o fatal elefante penetrou com estrondo na sala. O bicho acudia por Banif, era alimentado desde 2012 por dinheiros públicos - apesar de ser quinto ou sexto em ordem de importância para o "sistema" - e não havia meio de o conseguirem "reestruturar" ou vender. O anterior Governo enviava planos sobre planos para Bruxelas. E Bruxelas devolvia-os por serem alegadamente inconsistentes. A "autoridade de supervisão e de resolução", o Banco de Portugal, jurava pela saúde do estabelecimento. Depois começaram os mistérios. (continua no Jornal de Notícias)

Importúnios da virtude

João Gonçalves 28 Dez 15

 

Entrou em vigor em Agosto, mas como as "festas" são geralmente insossas de notícias, um jornal, o DN, deu capa à nova legislação que proíbe e penaliza criminalmente a chamada "importunação sexual", vulgo "piropo" ou "boca", e os apalpões ou "amassos", na letra cómica da lei "contactos de natureza sexual". E penaliza especialmente se a vítima for rapariga menor de 14. Por que não de 13, 15 ou 16 e rapaz? E por que não um beliscão nas bochecas da cara e uma palmadinha no rabo vestido? E o "linguado"? Esqueceram-se do "linguado", tipo "uso inapropriado da língua" ou "importunação sexual da boca pela língua"? Ou da "importunação sexual pela visão", tipo "galanço"? Uma vez que o conceito de "contacto de natureza sexual" se alarga ao verbo e aos olhos, convém manter ainda maior distância do outro como recomendam várias igrejas, departamentos sanitários e policiais, e andar sempre com os olhos ferrados no chão. Numa biografia recente de Gore Vidal conta-se que o biografado e Leonard Bernstein a dada altura partilharam sexualmente um mesmo bailarino, Harold Lang. Bernstein, aliás, definia o rabo de Lang como a sétima ou oitava maravilha do mundo. Se fosse agora iam todos presos. Não pelo rabo mas pela língua.

Não, drs. Costas e Passos Coelho

João Gonçalves 22 Dez 15

 

Tudo indica que, amanhã, o PSD juntará de alguma maneira os seus votos aos do PS para viabilizar um orçamento rectificativo. Na "base" desta geringonça intercalar está a decisão política de, através de dinheiros públicos, "confortar" a venda do Banif por 150 milhões de euros. O "conforto" custa à cabeça mais de 2 mil milhões e pode chegar ao dobro. Parece que Bruxelas - que sistematicamente vetou todas as propostas de reestruturação que lhe chegaram - também ficou muito feliz com esta "inteligente" (o termo é do dr. Passos) medida. Ou seja, por ter mudado o governo não mudou a obsessão financista que domina o "pensamento" europeu à custa da manobra fiscal. Aquando do BES o Estado andou bem ao proteger à cabeça os contribuintes embora a novela persista inconcluída. Agora foi ao contrário aparentemente sob a direcção e complacência do "tempo novo". Só o PC se demarcou claramente do esbulho anuncicado. O Bloco, qual Pilatos, põe "condições" sem se rir. E sem meditar nas consequências para as intervenções ardilosas a perpetrar pela dra. Mortágua em futuras comissões parlamentares. No centro desta calamidade de final de ano está a "autoridade de resolução", o BdP que, há anos, pelo menos desde o sorriso permanentemente idiota de Constâncio, aprecia apascentá-la deflectindo sobre o inerme pagador de impostos. Não, drs. Costas e Passos Coelho. Resolvam lá isso entre V.Exas. Não façam peso.

Vão bardamerda

João Gonçalves 21 Dez 15

 

Nem eu nem muitos dos contribuintes temos culpa de haver pessoas com depósitos bancários superiores a 100 mil euros. E, muito menos, que essas pessoas tivessem escolhido o Banif para os lá pôr. É claro que os haverá com valores muito inferiores. Tal como não consta das funções de soberania do Estado a salvação de companhias aéreas comerciais, também não se vislumbra que as ditas funções abranjam contas bancárias. Fala-se na salvaguarda da "diáspora", uma conversa de chacha que toca por igual aos aviões. Porque o que releva verdadeiramente é ter de se reconhecer que o sistema financeiro português e a sua supervisão são, por junto, duas imensas falácias. Como aos mortais nada é dado de graça, as "facilidades" que os bancos vinham "oferecendo" desde os anos 80 mais tarde ou mais cedo acabariam por ser pagas pelos tansos. Mesmo pelos que nunca usufruíram dessas "facilidades", tipo carro, casa e frigorífico "chave na mão". Ou pelos que nunca tiveram "poupanças" a render aqui ou ali porque "dava mais". No reino da rapacidade e da usura, a "diáspora" é identificável. Foi assim no BPN, no BES e agora no Banif. Neste o Estado estava estupidamente a 60%. Agora chegou-nos a factura de algo que não pedimos. Vão bardamerda.

O lugar do morto

João Gonçalves 15 Dez 15

 

António Costa "fundou" um novo PS. Não se sabe quanto tempo durará mas, para já, é o que há. Ao fazê-lo, e pela forma como o fez, indirectamente acabou com quaisquer vestígios de supremacias alheias sobre a sua pessoa. A brutalidade que aplicou a Seguro serviu-lhe, de caminho, para "dessocratizar" o partido. Integrou como seus os que achou que devia integrar e afastou tentações mitómanas. Por consequência, ele que nunca falou em ter "perdido as eleições" certamente não deve ter apreciado ouvir de outro notório que as perdeu. Mais. Ou que havia uma relação causa-efeito entre esse outro e a dita derrota como alegadamente "pretendia" uma instituição judiciária. Para uns propósitos a instituição judiciária vencera (a derrota do PS), para outros perdera ("o triunfo da vontade" do visado). Este oxímoro desenlaça-se com a acusação a um PS "frouxo" e timorato em solidariedade como se os partidos fossem obras de misericórdia jurídico-política. Mal ou bem Costa é hoje primeiro-ministro. Representa uma instância nacional e não apenas partidária. Não só não deve estar interessado em desenterrar o passado como lhe colocou uma pesada laje em cima. Não se trata do "se queres viver faz-te de morto" mas, antes, "se queres viver ignora o morto". E Costa não é homem para ceder o lugar, mesmo o do morto, a ninguém.

Pacheco no jardim do bem e do mal

João Gonçalves 13 Dez 15

 

Foi preciso esperar dez anos para Pacheco Pereira dar à estampa o quatro volume da biografia política de Álvaro Cunhal. Que não se espere outros dez pelo último. Este é inequivocamente o "bom" Pacheco. O da história, o arguto, o divulgador, o coleccionador, o amante dos livros e dos papéis, o intelectualmente inteiro, minucioso e livre. O que estimula. Depois há o "mau". Aquele que soberba e contraditoriamente não aceita a liberdade de expressão dos outros e que não suporta que não sigam as suas "orientações". O actual primeiro-ministro bebeu ardentemente deste "mal" anos a fio na Quadratura do Círculo. Em plena campanha para as legislativas Pacheco não se coibiu de sugerir que o tinha "formado". E não escondeu a seguir a sua satisfação (ia a dizer alegria mas Pacheco não abunda em sentido de humor) pela maneira como Costa contornou a derrota. Ter sido um dos mais intensos e consistentes "costistas" valeu-lhe agora um prémio na Fundação de Serralves. Tem mais do que biografia evidente para o efeito. Não é isso que está em causa. Podia era ter esperado pelo arrefecimento do cadáver da coligação. Por isso a melhor homenagem que o PSD pode prestar ao vício e à virtude, ao contrário do que alguns militantes mais aguerridos possam pensar, é tê-lo como militante. Mostra que é tão ou mais livre do que ele.

Cavaco corrige

João Gonçalves 13 Dez 15

 Cavaco Silva vai condecorar Ramalho Eanes com o Grande Colar da Ordem da Liberdade. Dos antigos Presidentes da República, apenas ele - o primeiro a ser eleito por sufrágio universal e directo em 1976 - ainda não tinha sido. Logo ele, o operacional do 25 de Novembro que se ergueu contra o medo e pelas liberdades públicas enquanto outros se esconderam, como escreveu Medeiros Ferreira. Sampaio tinha decorado Soares e Cavaco decorou Sampaio logo em 2006 com o dito Colar. Ao lado de Eanes será igualmente condecorado, mas com a Torre e Espada, o General Rocha Vieira. O Estado na pessoa do seu então Chefe, Jorge Sampaio, ficara-se pela Ordem do Infante. Aos olhos de Sampaio, o governador de Macau na transferência da coisa para a China não esteve à altura do momento. Na verdade Sampaio nunca gostou muito de Rocha Vieira. E pretextou divergências com uma fundação para apoucar, através de venera "menor", o ex-governador. Não é que a dignidade do militar e do homem Rocha Vieira precisasse da comenda para nada. Mas o Doutor Cavaco faz bem em a reconhecer, "corrigindo" Sampaio.

Marcelo, uma nação independente

João Gonçalves 11 Dez 15

 

Uma nova sondagem mostra um Marcelo todo-o-terreno. Ganha à primeira, fartamente, ganha à segunda, largamente. Nóvoa e Belém somam 29% das intenções de voto contra as 6% que cabem a Edgar e Marisa (3 cada um). Neto e Morais chegam individualmente à unidade. Marcelo paira sobre todo o regime como nunca nenhum candidato antes dele pairou, salvo nas recandidaturas (a de Soares, sobretudo). Isto  sem a habitual parafernália das campanhas. Pelo contrário, Marcelo optou por uma campanha imaterial sobre todos os aspectos. Ele é simultaneamente candidato, porta-voz, cartaz, pendão, rede social, jornal, televisão, rádio, Ipad, livro, comissão política, mandatário nacional, regional e distrital, director de campanha, manifesto eleitoral, esquerda, direita, centro e telemóvel. É, em suma e nas palavras de Fernando Pessoa, uma "nação independente". 

 

Foto: Pedro Azevedo

O PS com vergonha da sua história

João Gonçalves 11 Dez 15

 

O parlamento aprovou um voto de saudação pela passagem dos quarenta anos do 25 de Novembro de 1975. Não fez mais que a sua obrigação. Sem o 25 de Novembro, ou seja, sem os militares do chamado "grupo dos Nove", sem Costa Gomes (sim, Costa Gomes), sem Mário Soares no plano civil, aquela que é hoje a Assembleia da República teria tido uma "história" bem distinta da que ficou estabelecida. Aliás, os famosos "acordos" de Novembro de 2015, bilateralizados entre o PS, o PC e a extrema-esquerda, só foram possíveis porque houve o 25 de Novembro de 1975. Mesmo assim seis deputados do PS aliaram-se ao PC e à extrema-esquerda contra o voto. O grosso do PS  absteve-se envergonhadamente. O que quer dizer que o PS actual convive mal com o seu lastro social-democrata. E que privilegia temores reverenciais perante outros que jamais os terão por ele. O limite para as "convergências objectivas" devia ser o da literacia democrática. Pelos vistos já não é.

 

Foto: Expresso

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