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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

PÔR A PENSAR

João Gonçalves 8 Mar 11


Manuel Maria Carrilho - fora da cartilha do seu partido e da "tudologia" que grassa nas televisões - estará às terças, a começar hoje, dia 8, na Edição das Dez na tvi24 conduzida por Paulo Magalhães. Parece que há comentário político em demasia nas televisões mas é mais tagarelice de raiz única (ou tédio) do que outra coisa qualquer. Não é esse o caso de Carrilho, concorde-se ou não com ele. Não basta ser um excelente comunicador. É preciso aproveitar o tempo e o espaço televisivos de opinião para pôr os outros a pensar e não para pensar apenas pelos outros. Julgo que Carrilho faz isso bem.

MODO DE INTERPRETAR

João Gonçalves 13 Fev 11


«Eu exprimo-me livremente e acho que faz parte da liberdade de todos os militantes afirmarem se são ou não são candidatos no momento em que eles quiserem dizer se são.» Isto foi o que Manuel Maria Carrilho disse ontem na tvi. A partir daquilo que ele disse, a interpretação mais divulgada nos "órgãos" é a de que Carrilho praticamente se instituiu candidato a secretário-geral do PS. Interpretar consiste em produzir conjecturas ou cálculos sobre as intenções dos outros. Neste caso, não interpreto. Apenas constato que Carrilho não costuma andar a toque de caixa de ninguém. Isso, de certeza, ele disse.

«Em 2009, chamei a atenção para o erro de ignorar o significado das urnas e apostar num governo minoritário, bem como para os impasses a que esse erro conduziria. Em 2010 publiquei todas estas reflexões no livro E agora? (Editora Sextante), a que dei como subtítulo "Por uma nova república", porque nele apresentava ainda um vasto conjunto de propostas políticas, com o objectivo de responder à descredibilização e à desvitalização da nossa democracia. O facto de as minhas previsões terem sido "certeiras" não me orgulha nem me satisfaz, bem pelo contrário. Porque os problemas eram evidentes para quem os quisesse ver, e porque os erros vão sair muito caros ao País. Insinuar agora que o que eu penso e digo se deve a qualquer ressentimento ou episódio recente, como há dias fizeram Almeida Santos e o "comité" de recandidatura de José Sócrates à chefia do PS, é, na verdade, indigno. E só refiro esse episódio porque é curioso recordar que, se o meu afastamento da UNESCO teve por motivo próximo a publicação do meu livro E agora? e a entrevista que então dei ao Expresso, o motivo de fundo foi o de eu ter argumentado até ao limite, nas eleições para a liderança daquela organização, contra o apoio do nosso país à candidatura de uma figura de proa da ditadura egípcia, cujos méritos, então muito elogiados por José Sócrates, todos temos nestes últimos dias observado em directo... Por outro lado, argumentar com o imperativo da "unidade do partido" para enfrentar a crise também não adianta, porque se há coisa de que o líder do Partido Socialista beneficiou durante todos estes anos foi de um unanimismo quase total. E isso não evitou a sucessão de erros que agora se quer disfarçar. A crise que o País vive deve-se em boa parte às opções do Governo nos últimos dois anos e meio. Reconhecê-lo é, por mais desconfortável que seja, um acto de responsabilidade política elementar. Essas opções não foram nunca realmente discutidas no âmbito do Partido Socialista, que tem sido dirigido numa lógica de facto consumado, por um pequeno grupo de profissionais do poder, cuja eficácia - ainda que "danosa" - não se deve desvalorizar, a julgar não só pelo modo como subjugaram o partido mas também pela maneira como fizeram do País seu refém. A crise é por isso, antes do mais, de ideias e do seu debate. Dos modos de deliberar, de participar e de decidir. Andar agora a "desafiar os críticos a avançar" para a liderança do partido é não compreender que cobiçar o poder e desejar o debate são coisas distintas. É recusar aos militantes o direito a pensarem por si próprios e a exprimirem-se livremente, a não ser que aceitem disputar o poder. O "desafio" traduz uma visão da liberdade e do pluralismo que é inaceitavelmente condicional - "só podes ser livre dentro da minha gaiola" -, própria de quem vê no debate livre e aberto de ideias uma ameaça, e não uma porta para as soluções de que o País precisa. Sem ideias e sem debate iremos sentir até ao fim os efeitos desastrosos desse cocktail fatal de que já falava Maquiavel - a mistura da obsessão do poder com os efeitos da ignorância. E depois de um tal fim, a ressaca será à sua medida. Os militantes livres do Partido Socialista deviam começar a pensar nisto.»

Manuel Maria Carrilho, DN

«O meu balanço só pode ser breve: há aspectos positivos, como a reforma da Segurança Social, a política das energias renováveis, alguma desburocratização e – apesar dos seus muitos equívocos – a política de ciência. Mas também há, e muitos, aspectos negativos: o pior vai para a Justiça, que se transformou numa ameaça real para a nossa democracia e economia. Mas há que destacar também a educação, em que a aposta no “betão escolar” não salva a política ruinosa destes seis anos. A economia, sem qualquer orientação, fixada num embaciado e inútil retrovisor desde o começo da crise, em 2007, o que se tem traduzido num desesperante desemprego. A cultura, onde é preciso recuar até antes do 25 de Abril para se encontrar um período tão mau. E como não falar do insuportável autoritarismo e do desprezo pelo pluralismo... para esconder isto fala-se muito de determinação, mas quando ela é para a asneira, não ajuda muito, não é? De resto, é sempre intrigante quando vemos um tipo muito teimoso, mas que não sabe o que quer. Quanto ao socialismo moderno, há todo um debate por fazer, nomeadamente desde que a crise veio pôr em causa a sua travemestra, que era o deslumbramento pela “financeirização” da economia e pelas novas tecnologias, que são duas faces da mesma moeda. É bom não esquecer isto, sobretudo porque foi isto que deixou Sócrates sem tapete em 2007, e o levou, durante dois anos, a negar a realidade da crise. (...) Conheço-o há muito tempo, quando eu falo de ideias e de debates, ele pensa em espectáculo e em propaganda. Veja, como agora começou a preparar um novo espectáculo (o congresso), já está aí a pedir debate de ideias... é confrangedor! (...) O exercício do poder, que se reduz à obsessão de durar, nunca deu futuro a nenhum partido. Estes seis anos traduziram-se numa óbvia degradação de diversos valores do Partido Socialista: o pluralismo, a igualdade, a educação e a cultura, os direitos humanos. A “modernidade” foi um slogan sem qualquer conteúdo – conhece alguém que não queira “ser moderno”?

idem, Público

O IMPERATIVO DE UMA NOVA REPÚBLICA

João Gonçalves 30 Dez 10


Ao contrário do autor, não penso que 2011 dê início a qualquer novo ciclo político interno «mais realista e mais construtivo, em que os problemas do País terão de ser equacionados com honestidade, rigor e sentido de futuro, cortando com a cultura powerpoint e com a doentia manipulação das estatísticas com que tantos imaginam proteger-se da realidade.» Nem a qualquer «outra atitude». O ano encerra com as mesmíssimas retóricas com que começou e o debate presidencial, até agora, é decepcionante porque as resume a todas. Temo que daqui a uns meses, Carrilho possa voltar a escrever que se foi «consolidando em vez de se ultrapassar o impasse português.» Todavia, ele é dos poucos políticos com que um qualquer novo ciclo e uma Nova República, sua feliz expressão explicada num livro que foi do ano, devem contar. Para além de ter sido (e ser) dos poucos que pensa nas coisas, a pública incluída, sem preocupações curto-termistas. Carrilho ajuda a não nos "abstermos". Nessa matéria bate qualquer candidato a Belém. É o melhor elogio que lhe posso fazer.

«E IDEIAS? NADA.»*

João Gonçalves 2 Dez 10


«[Sócrates é] alguém sem preparação, com pouca visão sobre o país e o mundo, que recebeu de mão beijada uma maioria absoluta»; «Portugal gosta de ter esta posição de ser uma espécie de mordomo de eventos, acolhe nos Jerónimos, na Expo, recebe muito bem as pessoas, vai buscá-las ao aeroporto... e ideias? Nada. Bom é uma opção. Decidimos ser uma empresa de eventos«; «as presidenciais são importantes, mas infelizmente não ouvi a nenhum candidato nada de relavante», «a eleição dará uma legitimidade fortíssima ao candidato que for eleito»; «espero que depois não aconteçam surpresas que não tenham sido faladas na campanha.» São frases escolhidas por mim desta entrevista de Manuel Maria Carrilho à revista Visão. Porque assino uma a uma por baixo.

*e nunca houve tanto idiota.

A VANTAGEM DE CARRILHO

João Gonçalves 23 Out 10


Manuel Maria Carrilho regressa aos comentários na televisão. Começa hoje, na tvi, no respectivo jornal nacional às 20. Da última vez que Carrilho apareceu nestas coisas - e que eu acompanhasse - foi na sicn, nos idos de 2000/2001, onde sinalizava "o estado da nação" guterrista a caminhar rapidamente para o fim "pantanoso". Não concebo que faça menos do que isso em relação ao "estado da nação" socratista. Com os comentários televisivos, por parte do PS, entregues a um conjunto de veneradores mais ou menos politicamente iletrados e, em geral, a um registo único e rebarbativo, Carrilho leva, desde logo, vantagem.

UM "MANIFESTO REFORMADOR"

João Gonçalves 8 Out 10


Estive no debate-lançamento do livro de Manuel Maria Carrilho. Antes da UNESCO, Carrilho foi vice-presidente da bancada parlamentar do PS. E, antes disso, foi ministro da Cultura de Portugal e candidato do referido partido à CML. Ninguém da nomenclatura partidária ou espírito independente socialista (havia bola), a não ser, dizem-me, Maria de Belém - a da "auto-estima"-, marcou presença. O autoritarismo, como ali se referiu, mete medo às pessoas e, pior do que isso, elas deixam-se intimidar. Num partido (e numa sociedade) onde não há debate de coisa nenhuma há seis anos, nada é de estranhar. Estão praticamente todos ajoelhados diante de "Sócrates dos últimos dias". Ali também se perguntou para que é que serve a determinação - a famosa determinação que tantas palmas tem arrancado de tantos prosélitos previsíveis e imprevisíveis - se o "determinado" está na ignorância. Os ajoelhados que respondam. Quanto tinha 18 anos, assinei o "manifesto reformador". No fim de 79, os reformadores estiveram na AD que, cinco anos depois do "25 de Abril", varreu o lixo revolucionário e as hesitações de Soares para um limbo. Se tivesse de escolher outro título para o livro de Carrilho, punha lá "Manifesto Reformador" - para o país e para um partido entregue a um pequeno grupo de desbiografados. Tomara qualquer um dos candidatos às próximas eleições presidenciais poder apresentar um manifesto assim. Na realidade, e a avaliar pelos "sinais", o que é que se vai debater nelas? O orçamento como um desígnio nacional para os próximos anos?

PROCESSOS DE CENTRIFUGAÇÃO

João Gonçalves 21 Set 10

«Manuel Maria Carrilho aceitou ser embaixador na UNESCO e saiu da Assembleia da República para o efeito. Dois anos depois é substituído. Como entretanto houve eleições para a AR, Carrilho perdeu também o cargo de deputado. Carrilho é uma personalidade política competente, estudiosa, com ideias próprias e com a coragem necessária para as defender. Mais um em processo de centrifugação. Depois queixem-se da qualidade dos políticos...»
Medeiros Ferreira, Córtex Frontal

MOVIMENTOS PEQUENINOS

João Gonçalves 20 Set 10

Deve ser coincidência - uma rápida coincidência - depois disto e disto. Carrilho, ao abrigo da famosa "rotação" dos embaixadores (ele deve "rodar" para casa, naturalmente), sai da UNESCO. Para o seu lugar vai Castro Mendes que muitos já lá haviam colocado antes dele ir. A intendência faz muito jeito em certas coisas. Pequeninos, lembram-se?

Adenda: Os serventuários para a blogosfera não perderam tempo a dar o flanco. Assim ficamos todos esclarecidos. Como se fosse preciso.

E AGORA?

João Gonçalves 18 Set 10


No abrasileirado Expresso vem uma história edificante. Um rapaz de Esposende, com 23 anos, frequentou as "novas oportunidades" de Sócrates. Antes tinha desistido do liceu mas o referido Sócrates permitiu-lhe - com o seu irresponsável programa - obter a equivalência ao 12º ano numa rapidinha, com um exame de inglês. Acabou de ser admitido na universidade com 20 valores e concorreu em condições de igualdade com todos os outros que frequentaram a escolaridade obrigatória. Tornou-se, como explica o título da notícia, "o melhor aluno do país". No mesmo hebdomadário, Manuel Maria Carrilho é entrevistado a propósito da publicação do seu livro «E agora? - por uma nova República», da Sextante. Não é segredo para quem lê este blogue que Carrilho é das pouquíssimas pessoas por quem nutro uma profunda e sincera estima intelectual. Contrariamente à generalidade da trupe que tomou conta do PS, pensa. E pensar, para aquela como para as nomenclaturas dos outros partidos, é incómodo. As suas palavras, sem querer, "interpretam" a história do rapaz de Esposende e anunciam milhares de histórias como as do rapaz de Esposende: não se deve confundir certificação com aprendizagem. Afirma Carrilho que «seria incapaz de passar este período sem propor um desígnio para o país» (ninguém, no "activo", parece ter um a escassos meses de uma eleição presidencial) e esse desígnio é a «qualificação do território, das instituições e das pessoas.» Não é «o deslumbramento tecnológico» que, de pequeninos, começa a "treinar" as criancinhas para a facilidade e para o "tudo feito", agora ou quando lhes apetecer, em meia dúzia de meses. Carrilho representa o país na UNESCO mas, num certo sentido, é mais um "exilado", daqueles a que Jorge de Sena aludia na Guarda, em 10 de Junho 1977, num discurso previamente escrito em Paris - «o homem que se sente moralmente no direito de verberar com tremenda intensidade os erros ou vícios da sociedade portuguesa» por causa da sua «fidelidade a Portugal», um lugar onde as gentes «disfarçam a sua insegurança adulta sob a máscara da paixão cega, da obediência partidária não menos cega ou do cinismo mais oportunista.»

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