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portugal dos pequeninos

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O CENTENÁRIO DE MANUELA DE AZEVEDO

João Gonçalves 31 Ago 11


«Comemora hoje o seu 100º aniversário a jornalista e escritora Manuela de Azevedo, uma das grandes figuras da imprensa portuguesa. Mulher de cultura, autora de várias obras de ficção, de biografias de escritores portugueses e de um livro de memórias, Manuela de Azevedo foi, durante muitos anos, crítica teatral do Diário de Notícias (no tempo em que todos os jornais tinham um crítico de teatro). E foi devido ao teatro que eu a conheci há mais de quatro décadas e que mantive com ela um contacto regular ao longo de 20 anos. Além do seu trabalho como jornalista, Manuela de Azevedo empenhou-se em outras causas. Recordo-me que colaborou estreitamente com Madalena de Azeredo Perdigão na criação do extinto Ballet Gulbenkian e que foi uma ardorosa defensora da reconstrução da Casa de Camões, em Constância, tendo presidido à associação que promoveu essa obra. A Câmara Municipal de Santarém assinala hoje o centenário de Manuela de Azevedo com uma exposição da colecção de arte contemporânea doada por ela ao município em finais dos anos 80, juntamente com a sua biblioteca. A exposição terá lugar no auditório da Casa-Museu Anselmo Braamcamp Freire, em Santarém. Assinale-se que Manuela de Azevedo foi a primeira mulher a receber, em Portugal, a carteira profissional de jornalista.»

Júlio de Magalhães

Adenda: E tradutora.

Por circunstâncias diversas, o jornalismo (e os jornalistas), face às desventuras ocorrentes na pátria de Sua Majestade britânica, tomou conta da impropriamente chamada silly season. Costumo dizer que, como com tudo e todos na vida, tenho respeito pela profissão mas não me consumo em temores reverenciais perante ela. Também não sou adepto de "teorias da conspiração" que envolvem invariavelmente jornalistas ou ex-jornalistas a não ser, como no affair Murdoch, que fique provado o contrário. Todavia, existe manifestamente uma crise (a juntar à económica) a grassar os meios tradicionais de comunicação social. E os problemas do mercado - tão cheio de incerteza quanto de imprudência (gosto destes termos do ministro das finanças) - só agravam a questão. O que muitas vezes uma manchete espelha é mais a consequência disto do que uma "notícia" em si. Um conhecido comentador televisivo ficou, aliás, famoso quando, numa outra encarnação, era tido por "criador" de "factos políticos"numa altura em que a concorrência e a penúria estavam longe de ser o que agora são. Aprendi com um professor de direito que a vida é sempre mais rica do que a imaginação. Eis um dado a ter em conta pelo jornalismo para os dias de imprevisibilidade que vivemos. António Guerreiro, jornalista do suplemento Actual do Expresso, lembrou-se de Karl Kraus por causa de Murdoch e da política inglesa contemporânea - de Thatcher a Blair, de Brown a Cameron. Kraus, o polemista de Die Fackel, apodava o jornalismo de "magia negra" («os jornais têm mais ou menos a mesma relação com a vida que a cartomante com a metafísica») e desconfiava profundamente da opinião pública, o equivalente ao senso comum que Nabokov explicava como o cruzamento de um cavalo com um elefante. As referidas concorrência e penúria, porém, "mataram" a polémica ou colocaram-na (sobretudo a falsa) aos serviço delas. Desapareceu, em suma, uma certa noção de liberdade de espírito culto que caracterizava os tempos também diferentemente difíceis que Kraus viveu e descreveu. Dizia ele que «a missão da imprensa consiste em propagar o entendimento e, simultaneamente, em destruir a receptividade do entendimento.» Não lhe demos, mais de um século depois, motivos para ter razão.

O IMBRÓGLIO

João Gonçalves 17 Jul 11


O tema "Murdoch/jornalistas/ editores ex-futuros assessores governamentais/escutas, etc, etc." tem aparecido invariavelmente relegado para as vinte ou trinta e algumas páginas dos nossos jornais. Nas televisões, só os ligados ao "meio" conseguem decifrar a coisa também com tendência a emergir muito para o meio/fim da escala noticiosa. Todavia, o assunto é mais sério do que parece como se constata pelas demissões em cadeia no emporio Murdoch e pelos embaraços políticos causados na oposição e no governo britânicos. Como é que se pode explicar ao "povo" do qual emanam os governos que, afinal, estes temem menos o seu julgamento democrático do que a contingência fáctica imposta por uma actividade económica tão ferozmente competitiva como qualquer outra que é hoje a comunicação social? Chistopher Hitchens coloca o "imbróglio" no ponto devido. «The comparative fallout of the scandal on Britain's two main political parties is probably fairly even. Successive Labour governments maintained much the longer and warmer relationship with Murdoch, while Conservative Party leader David Cameron did employ a former News of the World editor who is implicated in the phone-hacking scandal in a senior government media position (and Cameron has, aside from professional politics, himself pursued no career except that of a PR man for TV companies). The most neglected aspect of the entire imbroglio is this.»

AO MENOS COM ALGUMA DIGNIDADE

João Gonçalves 16 Jul 11

«Há quem tenha esperança de que o colapso do "news of the World" anuncie o princípio do fim do império Murdoch, que inclui ainda editoras, estúdios, cabo, satélite e Internet. É uma esperança prematura. O que está à beira do fim são os jornais. Mas ao menos que morram com alguma dignidade.»

Pedro Mexia, Expresso

HARDLY

João Gonçalves 10 Jul 11

Para quem não dá demasiada importância ao "meio" - a célebre maioria silenciosa de que falava o outro - o fim de um jornal, mesmo tablóide e inglês, é irrelevante. Quando acabou o "nosso" 24 Horas, e apesar de não consumir o género, não apreciei. Não gosto de ver fechar um jornal. Mas o caso do News of the World é, tipicamente, um case study. Sobretudo depois ter merecido intervenções públicas embaraçadas de dirigentes políticos ao nível de um chefe do governo de Sua Majestade. Procurei, procurei, procurei mas só na prosa do poeta e cronista Manuel António Pina encontrei uma "chave" verosímil para este "soneto" pouco british. «Ao contrário do que pode julgar quem só vê o lado de cá das câmaras de TV e dos jornais, não somos todos, jornais e jornalistas, bons rapazes. Como no Reino Unido, também entre nós a concorrência, a cultura dominante do dinheiro e da competição sem regras, juntamente com a precariedade e vulnerabilidade profissionais em que se exerce hoje o jornalismo, constituem (já o tenho dito outras vezes) um caldo de cultura propício à delinquência deontológica. A condescendência corporativa e a inoperância da auto-regulação fazem o resto. Talvez seja injusto, mas suspeito que, se estalasse entre nós um escândalo como o do NoW, dificilmente faria manchete nos outros jornais.» Hardly, em inglês.

RIR DA INSANIDADE DO MUNDO

João Gonçalves 3 Jul 11


Na transição do fim do curso de Direito para a tropa, através da orientação amiga do João Amaral, passei pelo Semanário de Victor Cunha Rego. No livro ali à direita dedico-lhe algumas páginas porque o Victor representava, em certo sentido, a antítese da literatice jornalística. Tinha, adequadamente, mundo. Nas vésperas da sua morte, em Novembro de 1999, Vasco Pulido Valente resumiu-o. «Foi para mim, desde o princípio, um espírito misterioso: a primeira qualidade do bom professor. Vinha do Brasil, da Sérvia, da Itália, do Pólo Norte. Tinha entrado em extraordinárias aventuras: no assalto ao Santa Maria, no Drill (Directório Ibérico de Libertação) e numa escola de guerrilhas na Jugoslávia. Conhecia toda a gente e vira quase tudo (...). Como ele próprio se descreve, um céptico e um militante: incapaz de aceitar a iniquidade ou de "cair no precipício de uma ideia" (...). O Victor ri - muito seriamente - da insanidade do mundo: e nós rimos - muito seriamente - com ele (...). O genuíno Victor é no fundo, sem pose ou presunção, aquela indefinível experiência que nos falta e a melancolia irónica de quem não acredita na perfeição terrestre (...), um raríssimo português que se esforçou por nos libertar do paroquialismo, da ignorância e do medo.»

UM DIA COM O PRESIDENTE

João Gonçalves 10 Jun 11


Por definição, o 10 de Junho é um dia em que o Presidente da República está, por assim dizer, mais exposto. Barreto, na sua homilia "estado-novista" (o apelo à fraterna simbiose do capital com o trabalho, da política com as "corporações", em suma, à "união nacional"), esqueceu-se de referir que não basta mudar a constituição no sentido de garantir a exigência de governos maioritários. A constituição também deve reforçar o papel do PR não apenas enquanto "árbitro" ou "provedor nacional", garantindo-lhe a liderança política e institucional efectiva do regime. A legitimidade de único órgão político singular eleito carece de uma tradução constitucional diferente daquela instituída ad hominem, em 1983, para sossego dos partidos e respectivas nomenclaturas. O PR podia e devia ter mais poderes, por exemplo, em relação à justiça cujo controlo é feito, na prática, pelos partidos e pelos "pares" naqueles obscuros "conselhos superiores". Por falar em justiça e em Presidente - e dando de barato o intenso mau-gosto de comparações com Isaltinos e Fatinhas Felgueiras que decorre daquela grosseria populista "os políticos são todos iguais" - não me parece, apesar de se tratar do Chefe de Estado, que Cavaco devesse dar luz verde a um processo contra um jornalista. Nos EUA até duvidaram que Obama fosse americano e não consta que ele tivesse mandado abrir processos judiciais. Aliás, o "tema" (sórdido e urdido pelos arietes da "central" de agitprop derrotada no passado domingo) foi explorado à náusea pelos media o que, em termos de pura equanimidade, obrigaria abstractamente a "persegui-los" a todos. Salazar tinha, entre outras, esta frase luminosa: decididos até onde ir, não devemos ir mais além. Serve para quase todo o jornalismo caseiro em vigor e, em geral, bronco. E serve para isto.

SEPARADAS POR PORTAS

João Gonçalves 27 Mai 11

«Convém que, nesta recta final da campanha, o PSD, natural vencedor das próximas eleições, corrija o tiro e defina melhor a sua ordem de adversários.» Certíssimo, Constança Cunha e Sá. Porque lá onde se escreve PSD se poderia pôr CDS. Porque não há ninguém do Caldas a concorrer directamente à remoção de Sócrates. A única coisa a que concorrem é ao "momento mais votos para o que der e vier". Tal como conviria - porque não adianta nada usar outro tempo verbal com jornalistas "companheiros de estrada" seja de quem for - a certos jornalistas não se comportarem como simples apoiantes declarados de um partido ou de uma pessoa (abram blogues pessoais, por exemplo, ou entreguem a carteira até 5 de Junho). Manuela Moura Guedes, por agora livre de compromissos de trabalho jornalístico, e que já foi deputada pelo dito CDS, coloca a questão no devido lugar. «Seria bom que Paulo Portas dissesse a frase: "Não vou governar com o PS." Só para registo.» Quem diria. Constança e Manuela, entre outros, separadas por Portas.

OS PUXA PORTAS

João Gonçalves 22 Mai 11

Um exemplo muito nítido do que pretendi ilustrar com isto é António Ribeiro Ferreira, no CM e na tvi24. Depois do debate entre Sócrates e P. Coelho, "apanhei-o" num programa improvável daquele canal, inititulado não sei quê da imprensa (da imprensa, meu Deus!), com Ana Sá Lopes, o politólogo André Freire e um jornalista da Visão, Filipe Luís, um bom tipo que esteve comigo na tropa. Ribeiro Ferreira sentenciou imediatamente a vitória de Sócrates. Depois fui-me deitar mas imagino que Sá Lopes e o politólogo não terão andado longe disto. O António é daqueles jornalistas que, nestas eleições, devia trazer pronto o disclaimer que recomendei a Constança Cunha e Sá. É um dos mais distintos "puxadores de Portas" e nem sequer se dá ao trabalho de disfarçar. Mesmo que isso implique passar a mão pelo ex-"senhor engenheiro relativo" - que era a forma de tratamento utilizada por ARF em relação a Sócrates - para menorizar Passos, o seu novo ódio de estimação por causa de Portas. Nesta crónica diária, ARF inclui uma coluna com frases retiradas de blogues que pode ser lida em papel. Deste blogue, Ribeiro Ferreira retirou uma frase que não denota minimamente o sentido dela toda a não ser aquele que ele queria denotar. «Medeiros Ferreira aponta um dedo acusador a Passos Coelho, o perigoso "liberal impreparado"» não é o mesmo que «Medeiros Ferreira, inexplicavelmente tomado por um desvelo serôdio por Sócrates (porque nunca teve o menor desde a emergência absoluta da criatura no PS, em 2004) - à semelhança, aliás, de outras figuras "históricas" e venerandas como Vera Jardim (que ontem, numa televisão, metia dó a "defender" o chefe albanês que todos aspiram ver pelas costas na noite de 5 de Junho) -, aponta um dedo acusador a Passos Coelho, o perigoso "liberal impreparado", a língua de pau de Sócrates que, pelos vistos, até impressionou as formas de vida inteligente e diferente do PS.» (a bold o que falta para perceber a frase). Puxem à vontade. Mas não empurrem.

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