Até uma certa altura, achava o cabotinismo de
Miguel Sousa Tavares um cabotinismo inteligente e útil para aqueles que o liam como eu. A inteligência sobretudo não deve ser perfeita e Miguel é um sedutor fabuloso precisamente por causa desse cabotinismo que não reconhece. Escreveu um livro -
Equador - e não escreveu mais nenhum. O resto são crónicas e coisas que os viajantes como ele apreciam. Louva-se na mãe para dizer que Eduardo Prado Coelho (como pelos vistos todos os que não seguem o seu "estilo") sabia mais do que percebia. Ele, presume-se, não apenas sabe como percebe para sua imensa felicidade e dos "populares" que o abordam na rua para lhe dizer que o "percebem". Se quisesse não fazia mais nada e vivia dos direitos de autor que gasta logo ferozmente para poder regressar à "escrita" e retomar o seu magnífico ciclo de vida. Parece que, à semelhança de Maria João Pires, já só sonha com emigrar para o Brasil. Não "twitta", não "facebooka" e muito menos lê blogues. «No Facebook e no Twitter tudo tem umas teses extraordinárias. São todos cultíssimos, leves, frescos, trendy, sei lá...» E, pergunta a pobre jornalista, «mas isso não é o que também faz quando vai à TVI, por exemplo, falar sobre tudo?». Não, é totalmente diferente,
assegura o Miguel. «O Facebook é uma coisa elitista. Os blogues também. Aquilo é a beautiful people. Eu falo para 12% de audiência. Desde o vendedor de jornais da esquina, analfabeto ao professor universitário. E sei que falo, porque as pessoas abordam-me na rua e perceberam, e concordaram ou discordaram, mas perceberam. Estou a falar para elas, estou a fazer um serviço. Eu pagava um milhão para ninguém saber quem eu era, para poder fazer os meus comentários como o homem invisível. Agora, eu não vivo a ter opiniões instantâneas todos os dias, como se vive nos blogues, como se vive nas redes sociais.» De acordo. E «não se sente ameaçado pelos blogues, como opinador?» Enquanto houver jornais, faz sentido que haja colunistas nos jornais, esclarece. «Se amanhã os blogues destronarem os colunistas dos jornais, tudo bem. Agora, não tenho a obsessão do Pacheco Pereira, que tem que estar na televisão, nos jornais e nos blogues, tem que estar em todo o lado, sob pena de perder espaço. Eu não me sinto ameaçado porque eu não luto para ter leitores. » Claro que não, Miguel. Você escreve para o ar, "reflecte", e quem quiser que o apanhe. Os outros são demasiado terrenos para um escritor do seu calibre. Os outros menos Sócrates como quem ele almoça (
"de vez em quando") e fala oracularmente. Já com Cavaco não. Cavaco - é uma maleita adquirida na velha escola do "soarismo" primário que ataca muita gente bem intencionada, inteligente e não cabotina e que começou por detestar Eanes exactamente com o mesmo argumentário, excepção feita à mãe do nosso autor que sempre foi maior do que eles todos juntos - «
não tem estatura para ser Presidente da República. Não tem curriculum político para isso, não tem dimensão de estadista…» Pena que os portugueses não pensem como o democrata Miguel que qualquer dia acabará engasgado no seu imenso ego. Entre duas caipirinhas. É isso, Miguel. Vá para o Brasil exibir o seu brilho cabotino nas praias de Ipanema. "Exponha-se". As gajas de fio dental devem gostar disso. E não volte.* com a devida vénia ao Henrique Raposo e à sua "Caipirinha de Aron"
Esta entrevista faz-me lembrar um título do Garcia Marquez o "General no seu labirinto". Aqui seria o "Miguel no seu labirinto"
(O facebook é elitista?! Gostava que me explicasse em que medida é que o é)