A propósito da tagarelice originada pela moção do admirável líder - naquela parte destinada precisamente ao ruído - muito disparate será produzido nos próximos tempos. Detesto o aproveitamento da sexualidade para efeitos políticos e, por isso, critico abertamente os "associativismos" sexistas, feministas ou
gay. E oponho-me ao uso do termo casamento para
same sexers porque, por mais que isso incomode, o conceito foi pensado e desenvolvido para outra coisa. Se não fosse assim, o PS do bonzinho Guterres, em 2001, tinha ido até ao fim (refiro-me à "semântica") quando legislou sobre uniões de facto, maioritariamente heterossexuais, aliás. Uma vez resolvida a questão "semântica", vamos ver quantos "casais" que hoje andam para aí de bandeirinha na mão se irão efectivamente casar. De outra banda, mas certamente por causa disto, o cardeal Saraiva Martins, nas já famosas "conferências do casino da Figueira da Foz", afirmou que
"a homossexualidade não é normal". Seria esdrúxulo pedir ao cardeal Martins que lesse os clássicos. Ou, pior ainda, Gore Vidal. Fora casos do foro criminal ou patológico, a sexualidade não possui quaisquer antecedentes ou consequências "normativas". É irrelevante para o andamento do mundo o que é que dois adultos fazem um com o outro entre portas. Se desejam procriar, façam favor. Se querem outra coisa, façam favor também. É evidente que a Igreja não pode ter outra posição "doutrinária" ou "valorativa". No limite, ética. E não ignora, de certeza, que no seu seio há milhares e milhares de católicos que não perdem um minuto a pensar na "normalidade" ou na "anormalidade" da sua sexualidade. O factor "culpa" que afirmações como as do cardeal Saraiva Martins introduzem no relacionamento afectivo e sexual, são tão desagradáveis como as que reclamam visibilidade política para a "esfera" privada. Até porque, por mais voltas que se dêem, a homossexualidade - tal como a Igreja a breve trecho - deve habituar-se a viver em minoria, sem preconceito ou espectáculo. Como disse Joseph Ratzinger, há tantos caminhos para Deus como há homens. Homens complexos, felizes ou infelizes, sós ou acompanhados, mas nunca "normais" ou "anormais". Apenas homens.
Outra nota tem a ver com o facto da Igreja se dirigir ao Homem, quer esteja aqui ou num local ermo da Amazónia, seja ele erudito ou analfabeto, de hoje, de amanhã ou de há 2.000 anos atrás.