«O anúncio, sem o querer, desvenda o sentido da campanha da EDP: é mais imagem do que paisagem, mais barragem do que a alardeada protecção de espécies em extinção. Como referia o blogue Estrago da Nação, para nos vender barragens, os publicitários tiveram de alugar serviços de animais amestrados (lobos, aves de rapina), de filmar em ribeiros e quedas de água que deixariam de existir se ali houvesse barragens. E maquilharam a rapariga para ela parecer natural, recorreram à mangueirada para simular chuva; e a rapariga bebe água da ribeira, o que nunca faria numa barragem. A publicidade, como o cinema, é uma fábrica de sonhos: o objectivo é que não se veja a fábrica, mas o “making of” mostra-a enquanto o anúncio fornece o sonho. Se Freud voltasse, diria que o sonho dos publicitários revela a realidade: no anúncio, a natureza selvagem acaba encapsulada num outro filme, projectado do rio sobre a parede de betão. A natureza selvagem não existe, ou deixa de existir: transfere-se de ribeiros intocáveis para simulacros numa parede de betão. As barragens têm tremendos efeitos ecológicos, destroem, por exemplo, o ambiente das aves de rapina que se mostram no anúncio. Tal como são precisos lobos amestrados para fazer o anúncio, também a real e verdadeira natureza dos últimos santuários é nele aprisionada em imagens que vemos fugazmente projectadas em betão, à noite, para nos descansar as consciências. Enquanto a EDP destrói natureza selvagem construindo barragens e substituindo-a por uma natureza humanizada, nós olhamos para o boneco —na parede de betão, ou no ecrã do televisor, ou no jornal ou no outdoor urbano.»
Não posso deixar de mostrar o meu desagrado por ler que há pessoas que são contra as barragens, como são contra os geradores eólicos. Será que preferem ver o país semeado de chaminés das centrais térmicas que teriam que ser construidas em vez delas? Pena é que não refiram que as últimas barragens cuja construção foi anunciada com pompa e circunstância pelo nosso primeiro vão ser construidas e exploradas não pela EDP mas sim pela espanhola Hiberdrola, tornando-nos mais dependentes dos combustíveis importados (e não menos, conforme diz a propaganda socrática).
Pena é que não refiram que as últimas barragens cuja construção foi anunciada com pompa e circunstância pelo nosso primeiro vão ser construidas e exploradas não pela EDP mas sim pela espanhola Hiberdrola, tornando-nos mais dependentes dos combustíveis importados (e não menos, conforme diz a propaganda socrática).