Pulido Valente, e bem, tem sido desde quase o princípio disto (anos 70 do glorioso pós-Abril), o mais veemente e esclarecido "denunciador" do pior disto. Tem, contra os papagaios e cristãos-novos, a vantagem de saber história. E de, em alguma forma, ter participado dela. Ao lado de Eanes - o presidente da RTP, de 75, e o Presidente da República da "tentação presidencialista" manifestada em discursos que VPV ajudou a escrever - e depois contra Eanes, com Sá Carneiro, em oposição a um vago "eanismo" que Sá Carneiro e Soares não controlavam. Daí para diante, Pulido Valente só se meteu no primeiro MASP e preferiu os livros e as crónicas.
A de hoje devia ter terminado duas frases antes. VPV sabe tão bem como eu que só outro regime, justamente o presidencialista, pode devolver um módico de autoridade a esta coisa untuosa em que tornaram (todos) o dito regime. Frases como «
é melhor deixar as coisas seguirem o seu curso, de preferência na legalidade», equivalem a preferir um pastelão feito de restos e de batatas doces a um resoluto steak au poivre de carne limpa. De tanto terem seguido o seu curso, as coisas chegaram ao ponto a que chegaram. Já chega.