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portugal dos pequeninos

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A factura da leviandade

João Gonçalves 27 Mai 13

Mais um bocadinho e era "farturas" graças ao inefável "acordo ortográfico". Como escreveu o Pedro Mexia, «infelizmente, muitos Portugueses pregam o aleijão como se fosse um unguento. O actual Presidente da República disse um dia que o português de Portugal se arriscava a tornar-se uma espécie de latim, como se uma variante falada por milhões de indivíduos equivalesse a uma língua morta. Já a grotesca “Nota Explicativa” ao “acordo” explica que os portugueses estão “teimosamente” apegados à sua grafia, dando-nos reguadas de mestre-escola pela nossa impertinência cultural. Para acabar com tal desfaçatez, uns quantos sábios da Academia das Ciências de Lisboa impuseram aos luso-falantes a sua aberrante legislação, quando nos países onde existem Academias realmente prestigiadas vigoram recomendações não vinculativas, dicionários excelentes, consensos transcontinentais. Mas os políticos e os académicos não se contentam com uma língua que muda espontânea, inevitável e constantemente; querem mudanças por decreto, como déspotas iluminados que são. Fizeram o “acordo” ignorando os pareceres técnicos divergentes e a opinião de agentes qualificados da língua. E agora assustam-se com o levantamento cívico. Perceberam que fracassaram, que nem todos nos calamos, que estivemos atentos às consequências. O “acordo” quis unificar a língua e multiplicou duplas grafias, facultatividades, cláusulas de excepção, ‘opting outs’. Quis simplificar o ensino e cortou as palavras da sua raiz etimológica, da sua família, dificultando uma compreensão de conjunto. Quis ser um acordo “lusófono” e pouco mais é do que um contrato luso-brasileiro, do qual os brasileiros duvidam. E agora ainda passámos pela humilhação de ter o oficioso “Jornal de Angola” a lembrar-nos que o “étimo latino” ajuda a compreender o percurso de uma palavra.(As citações são retiradas de “Vogais e Consoantes Politicamente Incorrectas do Acordo Ortográfico”, de Pedro Correia, edição Guerra e Paz.)»

6 comentários

De fado alexandrino a 27.05.2013 às 19:21

Muito bem, mas o que é que as pessoas vulgares como eu podemos fazer?
E o que é que as pessoas importantes estão a fazer?
Caramba somos tantos e não conseguimos mudar " a coisa"?

De observador labrego a 27.05.2013 às 20:15

"O actual Presidente da República disse um dia que o português de Portugal se arriscava a tornar-se uma espécie de latim, como se uma variante falada por milhões de indivíduos equivalesse a uma língua morta."

AH! COMEÇO A PERCEBER! O actual presidente, em auto critica maoísta , fala-nos numa língua (qual?) morta ....

De jose a 28.05.2013 às 13:37

O presidente que afirma escrever,em casa,sem respeitar o Acordo.
Nunca vi isto,o país a implodir e explodir.Por falta de qualidades as próprias instituições auto-dissolvem-se enquanto a populaça com ácaros políticos as abana fortemente.

De Vasco a 07.06.2013 às 12:14

O PR é uma das nossas desgraças.

De Isabel de Deus a 28.05.2013 às 11:33

Texto magistral. Parabéns a quem escreveu e a quem divulga.

De PALAVROSSAVRVS REX a 28.05.2013 às 19:22

Um grande livro de um Pedro Vintage. Se há um sinal que simboliza provincianismo e decadência é este Lixo impropriamente chamado «acordo» e impropriamente chamado «ortográfico», porque só é heterográfico, a babel das grafias a amputar etimologias.
.
Tenho saudades tuas, meu bom João. Abraço

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