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portugal dos pequeninos

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Jaime Neves, o melhor combatente

João Gonçalves 27 Jan 13

 

Há cerca de dois meses, Ramalho Eanes, por ocasião da edição da biografia de Jaime Neves, falou em "homens do possível". Só quem passou pelas "fileiras", sobretudo por aquelas que fizeram a guerra do Ultramar (Loureiro dos Santos tem razão ao sugerir aos "reformadores"do Estado o regresso ao sistema de conscrição, i.e., ao serviço militar obrigatório estupidamente terminado pela correcção política), pode entender o significado da camaradagem e da fraternidade viris a que, em vários escritos, aludiu Malraux. Neves morreu hoje. Com ele, desaparece simbolicamente uma estirpe de portugueses que deixou de se fabricar. A intervenção de Ramalho Eanes constitui o prefácio da segunda edição daquela biografia. «Acção decisiva foi a que Jaime Neves e o seu Regimento de Comandos protagonizaram no 25 de Novembro. Nesse momento e nessa resposta se pretendeu louvar o compromisso assumido, autónoma e voluntariamente, pelos militares de Abril perante o povo português: restituir-lhe a cidadania plena, a liberdade de instituírem uma democracia constitucional pluralista, um Estado democrático de direito. Nesse tempo demonstrou, de novo, Jaime Neves, excelente capacidade de comando e acrisolado patriotismo. Aconteceu assim, especialmente no caso do Regimento de Polícia Militar, em Novembro de 1975. Recebido, a tiro, pelas forças do Regimento e por civis, conseguiu Jaime Neves, apesar de ter sofrido duas baixas (um tenente e um sargento, jovens) manter inteiro controlo sobre os seus homens e, desse modo, impedir que, no confronto com o Regimento de Polícia Militar, resultassem muitas baixas – o Regimento de Polícia Militar sofreu apenas um morto. Acção de comando que patriótica considero por Jaime Neves ter procurado evitar baixas nos adversários, que portugueses eram também. Foi, aliás, o reconhecimento das suas qualidades de combatente e a sua “participação decisiva nas acções militares que conduziram à democracia em Portugal e à sua intransigente defesa” que lhe valeram a atribuição da mais alta condecoração portuguesa – a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor Lealdade e Mérito – como refere o respectivo alvará, de concessão, assinado pelo, então, Presidente da República Mário Soares. Foi, aliás, motivado pelo sentimento de responsabilidade institucional militar e política – e só por isso e, sublinho, só por isso – que resolvi, depois de ouvir a opinião de vários camaradas, como eu na situação de reforma, dirigir ao Senhor Chefe de Estado-Maior do Exército, através de documento que pretendi, sobretudo militarmente, fundamentado, sugerir que a Instituição Militar fizesse justiça a Jaime Neves, promovendo-o a general. Jaime Neves foi grande, grande num tempo, já despropositado, dos grandes valores republicanos, que supremaciava a cidade sobre o cidadão, aquele em que se atribuía sublimidade social e histórica ao sacrifício da vida pela polis, pela pátria. Jaime Neves foi – com Alpoim Calvão –, em minha opinião, o melhor combatente da nossa geração de oficiais.» Não é preciso dizer mais nada.

14 comentários

De fado alexandrino a 27.01.2013 às 14:18

Este, como outros, por feitos "libertou-se da lei da morte".
É o melhor que consigo dizer.

De Vortex a 27.01.2013 às 14:35

ainda se distinguia melhor no meio de tanto lixo humano.
sempre fiquei agradecido pela sua participação no 25.xi.
que descanse em paz

De PSC a 27.01.2013 às 16:05

Tive a subida honra de participar com o então Capitão Jaime Neves, Comandante da 2ª de Comandos, em diversas operações no Norte de Moçambique nos anos de 1966/67. Era um Comandante Excepcional, um Homem e um Combatente sempre na primeira linha. Que descanse em Paz mais este Herói Nacional que tanto fez pelo Verdadeiro Portugal. Bem merece. "MAMA SUME" Capitão! E até SEMPRE!

De Ajom Moguro a 28.01.2013 às 18:17

Este Transmontano de rija cepa nunca vendeu a alma ao diabo. Infelizmente é menos um que fica, dos que nunca traem nem sabem desertar. Honrou sempre a farda que aceitou envergar em nosso nome.

De Anónimo a 28.01.2013 às 19:52

Só foi pena os massacres que mandou fazer na guerra do Ultramar...

De Ajom Moguro a 28.01.2013 às 23:11

O Senhor anónimo não deve ter estado no conflito do ultramar. Guerra de guerrilha, a que na gíria chamava-mos do "bate e foge", e que se caracterizava sobretudo por os "turras" nos fazerem emboscadas e baterem de imediato em retirada sem se deixarem ver. Muitos dos nossos caíram assim sem ao menos saber de onde elas vinham. Mas se acompanhou no conforto do ar condicionado de algum gabinete, deve conhecer alguns dos nossos bem graduados vira casacas, que proporcionaram e colaboraram com massacres selvagens, de que a nossa população civil africana e a de cá do "puto" foram indiscriminadas vítimas. Só quem andou por lá com a "canhota" ao ombro ficou a saber como elas mordiam, que traidores e desertores acagaçados cuidaram acima de tudo da própria cobarde pele.

De Romão a 28.01.2013 às 21:45

Lamentavelmente a RTP 1 no seu Telejornal não fez qualquer referencia ao falecimento de Jaime Neves. Um país que se esquece da sua história e dos seus heróis é um país sem futuro, um país de merda.
Segundo o meu pai, combatente em Moçambique Jaime Neves era "uma maquina", um oficial "rijo, um patriota leal ao seu país e aos seus principios". Ainda pela boca de meu pai "já não há homens desta estripe e será um dos nossos ultimos herois". Quando lhe perguntei pelos massacres que levam a que muitos o apelidem de "criminoso de guerra" Respondeu-me:
"Isso é gente que não sabe o que é uma guerra, nem lá andou a levar porrada...quem diz isso devia de beijar o chão que ele pisou..." Eu acredito no meu pai.

De tron a 28.01.2013 às 23:40

Não sou muito de acordo com o regresso do SMO porque ser-se militar é algo que se escolhe por convicção, mas se regressasse muitos encostados ao RSI tinham que se mexer e acabava o encosto, todavia; Jaime Neves é um dos últimos grandes heróis da nação que dá pelo nome de Portugal e tal como o Capitão Vítor Alves é mais um esquecido por esta república de ingratos, Até sempre Senhor General

De Ajom Moguro a 29.01.2013 às 17:05

Com o devido respeito pela opinião alheia, permita-me que aproveitando exte espaço nesta ocasião deixe aqui a minha. Asneira grossa foi terem acabado com o serviço militar obrigatório, que não se pretenderia fosse dirigido para instrução de palcos de guerra. Durante 3 ou 6 meses, a juventude aprenderia o valor da disciplina, da camaradagem, a adquirir conhecimento e aptidões, relacionamento e consideração saudável entre diferentes estratos da sociedade. Ali, desde o pé descalço aos provenientes de famílias bem instaladas aprenderiam a perceber e respeitar o outro na sua especificidade, sem subserviências que diminuam nem agressividades que insultem. Tanto haveria para fazer em vertente de serviço cívico, apoio ás populações mais carentes e colaboração em emergências civis. Perdeu-se uma escola com ensinamentos para a vida, escolheu-se a rua sem lei que incita á delinquência. Foi desperdiçado o mais útil, fértil e menos oneroso, em favor dos preconceitos que nos iludem, dos complexos que nos abatem e dos sofismas que nos desviam. Fica-nos mais caro o combate à marginalidade que em nome de falsas liberdades encorajamos.

De tron a 30.01.2013 às 04:12

Sim, você tem a sua razão e nos tempos presentes, o SMO seria uma escolha para tirar jovens marginais das ruas porque infelizmente o desporto nacional em especial o futebol profissional tem estrangeiros a mais (nada de xenofobia, apena não consigo perceber porque raio benfica e porto chegam a jogar com 11 estrangeiros em campo) e depois ficam em clubes de baixo nível e depois a coisa fica preta como são as agressões sistemáticas a árbitros dos campeonatos distritais e dado que não se dão ao respeito nem num desporto; então façam a tropa ou façam voluntariado no caso do serviço cívico em algum hospital ou instituição de apoio aos doentes e desfavorecidos.

De D. Liberal a 29.01.2013 às 17:11

Não é por acaso que o Ten. Gen. Neves não foi devidamente destacado no momento embarcou na barca de Caronte. A comunada não dorme nem esquece aqueles que de forma democrática e honrada usam da força para conseguir que outros oprimam pela força. Aliás a única lei que os vermelhos conhecem é a da força, para derrotar no intento de transformar Portugal numa ditadura vermelha seja de que molde seja.

Falar de Jaime Neves e da sua intervenção é falar do papel do PCP e dos seus filhos não pródigos que povoaram de "ideas" o panorama da esquerda em Portugal e do que foi o verdadeiro PREC e o que Cunhal queria para Portugal. O Ten. General Neves foi um grande homem em vários momentos e ao contrário de outros que se transformaram em "condotieres" de pacotilha conseguiu sempre estar do lado certo da barricada, ao contrário de outros que se passeiam como detentores da verdade e dos "valores de abril pá".

Não concordo com o autor ao dizer que não há portugueses desta cepa mais. É uma estirpe que se extinguiu com o Império que perdemos e da qual O T.Gen. Neves, Alpoim Calvão, Marcelino da Mata e muitos outros fizeram parte, mas outros se levantam e se distinguem noutros campos que não estes. Os tempos é que são outros.

Seja como for partiu um grande homem com muitos defeitos e muitas qualidades mas sempre um grande militar. O episódio sobre o que sucedeu no Regimento de PM é ilustrativo de que homens como o Ten. Gen. Neves nunca esqueceram que do lado oposto estavam portugueses e compatriotas. Já outros se lograssem nos seus intentos dariam à palavra "gulag" um ressurgimento neste canto da península.

MAMA SUME!

De Marques a 29.01.2013 às 23:28

Excelente e diversificada panóplia de comentadores. Destaque positivo com aplausos para os das 17.05 e 17.11.

De JSP a 30.01.2013 às 09:56

Total concordância com os dois anteriores comentários.
Descanse em paz , senhor General.

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