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"Os tempos são ligeiros e nós pesados porque nos sobram recordações". Agustina Bessa-Luís
João Gonçalves 1 Dez 12

Está a decorrer um congresso do PCP. O PC é um partido previsível pelo que a sua versão dos dias que correm interessa-me pouco. A ocasião, todavia, serve igualmente para abrir as comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal. E isso já me interessa. Cunhal confunde-se com a biografia política do país no século XX, à semelhança de Salazar. Soares é um fenómeno mais tardio e trivial. Há milhares de Soares por esse mundo fora mas apenas um Cunhal e um Salazar. Soares vê a democracia como Proust descreve a nostalgia permanente de uma "madeleine" de infância: está-lhe "na massa". Cunhal "aceitou" a democracia e fez do PC o partido mais respeitador dos seus rituais, das suas normas. Mesmo na rua, o PC é a válvula de segurança das instituições, demarcando-se metodicamente, desde Novembro de 1975, de tudo o que possa perturbar, escandalosa ou violentamente, os "equilíbrios" formais do regime. Aos poucos isolou-se e travou mitologias em seu redor mesmo quando o forçavam a falar de si. O "colectivo" era a sua maneira de dizer "eu" embora, aqui ou ali, sobretudo nas derradeiras aparições em entrevistas, deixasse transparecer o homem, o pai e o avõ. "Despersonalizo, portanto...", diria a Maria João Avillez naquele que é porventura o melhor livro da jornalista e que recolhe as suas "conversas com Álvaro Cunhal". "Eu não adivinho, batalho", "eu não alimento nada, tenho apenas a minha maneira de viver" são afirmações que o balizam. De alguma maneira, Cunhal poderá ter-se tornado incompreensível à luz dos "valores" vigentes. O "modelo político" triunfante um pouco por todo o lado representa tudo o que Cunhal intelectual e intimamente desprezava. Não aludo a questões puramente ideológicas mas a coisas mais profundas que se prendem com a própria "natureza" humana. Cunhal era demasiado elegante para poder suportar a ascensão planetária da vulgaridade pequeno-burguesa sem um sorriso malicioso e, sem dúvida, amargo como revela Avillez. «Era o último encontro, mas eu não sabia. A derradeira vez que eu via aquele homem doente («eu estou a ver muito mal, não vale a pena mostrar-me isso, não vejo, não consigo ver...») que durante quase trinta anos me fez sempre partir com precipitação e os sentidos alerta para um segundo andar da avenida António de Serpa e, depois, para um gabinete descarnado e nu da rua Soeiro Pereira Gomes. Um homem envelhecido que agora sorria mais tristemente, agarrado à sua "convicção" («sim, a cinvicção foi e é, fundamentalmente, o segredo da resistência e dos combates».) E se eu disser a palavra "derrota"?, perguntei-lhe subitamente nesse dia, mas quase a medo, diante do gravador ainda ligado (e detestando-me por selar aquela longa conversa com uma única palavra que, afinal, lhe cabia por inteiro): Uma derrota ... "amarga", Dr. Cunhal? «Amarga é uma palavra muito pequenina para o que foi.»
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...