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portugal dos pequeninos

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Biblicamente estúpidos

João Gonçalves 27 Jul 12



«Num jantar com deputados do PSD, com alguns ministros e com a presidente da Assembleia da República, Pedro Passos Coelho disse que não queria saber para nada de eleições (que se "lixem" foi a expressão). Houve logo algumas pessoas biblicamente estúpidas para interpretar a frase de uma maneira que nem a ocasião, nem o contexto permitiam. Uns concluíram que o primeiro-ministro se estava a "lixar" para a democracia. Outros –o que não passa de uma variante - que a opinião dos portugueses não lhe interessava. Quase ninguém percebeu (ou muita gente resolveu fingir que não percebia) o que Passos Coelho claramente comunicou às suas tropas. A saber: que o Governo não mexeria um dedo para ajudar o partido na série de eleições que se aproximam (Açores, câmaras, Parlamento Europeu). É preciso ter andado a dormir durante trinta anos para não perceber, apesar da crise, ou por causa disso mesmo, que as clientelas do PSD não pensam noutra coisa. Antes de Passos Coelho o PSD, longe do poder, era uma federação de câmaras, que se aliavam ou guerreavam, para fazer e desfazer as direcções nacionais. Muita gente com algum talento ou sem talento nenhum desapareceu politicamente naquele insuportável circo. E a vida do militante comum acabou por se reduzir à intriga e às clientelas com mais força ou habilidade. O primeiro-ministro veio agora dizer que esse tempo acabou e que daqui em diante subordinará o partido ao interesse nacional, como ele o entende. A este acto de inteligência e coragem o público informado respondeu com comentários rasteiros, que envergonham um morto. Para começar, como já expliquei, a história inteiramente idiota de que Passos Coelho desprezava a democracia. Segundo, o protesto hipócrita e pequeno-burguês por ele se atrever a usar, numa espécie de comício, a terrível palavra "lixem". Isto que, em formas bem mais duras, se tornou habitual na imprensa inglesa ou americana ainda ofende o ouvido de certas damas da academia e da sociedade, que por aí despejam opiniões sem sentido. Vale a pena insistir numa atitude tão ridícula? Vale porque ela mostra bem a que ponto chega a má-fé e a obnubilação da esquerda. O PS e arredores preferiam com certeza que o primeiro ministro se envolvesse nos sarilhos correntes do PSD e que, em nome deles, distorcesse a política geral do país, que eles no fundo não se importam que se lixe. E, afinal de contas, sempre iam ganhando uns lugarzitos para a malta em dificuldades. Nada de melhor ou de mais lúcido.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

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14 comentários

De malcomparado a 27.07.2012 às 12:50

A reacção do PS é previsível: o PS, cada vez que encontra um estadista, prefere um vigarista...

De Lm a 27.07.2012 às 13:20

Em 2014 veremos! Isto se sobreviverem até lá (o que eu duvido)

De José Santos a 27.07.2012 às 13:37

Contudo, o maior lider da oposição não é Seguro, que como todos os seus antecessores, tem os dias contados, mas sim Pacheco Pereira, que relembrou Churchill ao ouvir as palavras do PM. Excelente texto, parabéns VPV!

De A.Lopes a 27.07.2012 às 16:00

É o artigo mais lúcido que eu já li sobre este assunto e que desmascara a "elite"política e os zurrinhos que se puseram a asnear sobre este caso!Parabéns também ao dr.Marques Mendes que,perante aquele indescritível entrevistador que devia ter-se metido num buraco perante a análise lúcida do M.Mendes!
E já agora,dr.Pulidoo Valente:veja lá se põe a Constança a ler alguma coisa de jeito,porque a mulher,de tão esganiçada e tão atirada contra o PSD,já se viu que sonha com o querido líder,o filósofo sócrates,ídolo a quem entrevistou com tão boas maneiras,que mais parecia uma homenagem à corrupção e trafulhice!
E já não falo do cassete Pacheco Pereira,essa luminária ressabiada por ter levado um pontapé no traseiro,quando ainda sonhava que o dr.Passos Coelho o chamaria para dar "conselhos"!
Parabéns e obrigado,dr.João pela possibilidade que me dá de dizer o que sinto!

De eirinhas a 27.07.2012 às 16:58

Não serão já vezes a mais que alguém tem de vir compor o ramalhete acerca do que o 1º ministro diz? Como diz o outro,tenha tento na língua.Como burro que sou,também fiz uma interpretação de cansaço.Isto é,lixo-me para as eleições,desejoso que os outros voltem a ocupar o lugar que deixaram.Mesmo com o País direito,como diz,traria issso alguma vantagem? Teremos de ser mais claros,apontar para os queremos apontar,para que todos compreendamos.

De Joaquim Simões a 27.07.2012 às 17:25

http://ab-logando.blogspot.pt/2012/07/das-biblicas-estupidez-e-ma-fe_27.html

De observador a 28.07.2012 às 00:55

Tudinho certo, a não ser um senão:

Uma coisa chamada Constituição coloca a Soberania no POVO, expressa através de Eleições votando.

Sendo assim nenhum político se pode considerar legitimado senão for eleito pelo Povo, pelo que não pode estar-se a lixar para as Eleições.

(Os homens providências estão, espera-se, fora de moda)

Sendo assim o que ele devia ter dito era:"Pelo mandato que me foi dado, governarei tendo em vista o melhor para Portugal, no meu estender, mesmo que isso me leve a não ser eleito nas próximas Eleições e o partido reduza os seus eleitos!"

OK! É mui mais cumprida e chata, mas será que teria um aplauso tão entusiasta no tal Comício?

De Marão a 28.07.2012 às 18:34

IMBECILIDADE
Se Zorrinho não percebeu o que o 1º Ministro quis significar é asno, se percebeu está a querer manobrar e fazer de nós burros.

De Daniel Gonçalves a 29.07.2012 às 00:08

A interpretação de Vasco Pulido Valente parece-me errada, Pedro Passos Coelho ao afirmar "Estou-me a lixar para as eleições" não estava a dirigir-se aos caciques do PSD, nem a frase era um aviso implícito aos sectores internos do Partido, a intenção do Primeiro-Ministro era expressar a ideia de que não se preocupa com o que pensam os eleitores e os portugueses em geral sobre a política seguido pelo actual Governo. Reflexo de que Passos Coelho julga ser dono da razão, portador da "verdade" e de que o Governo, e só ele, está do "lado certo" da História.
Que a Passos Coelho não interesse saber o que os outros pensam da política do Governo por ele liderado é sinal de um "egocentrismo" intelectual, de um fanatismo sectário dos que se julgam possuidores da "verdade" e do rumo certo, levando a uma prepotência que será típica do vanguardismo leninista mas que não está nas raízes ideológicas do PSD. Penso que esta atitude mental de Pedro Passos Coelho é fruto da formação académica que o mesmo possui, já a frase "Biblicamente estúpidos" não sei se se encaixa melhor na ala "coelhista" do PSD.

De Nuno Castelo-Branco a 30.07.2012 às 09:44

Por dizer isso mesmo no meu blog, isto deu-me o direito a uma guerra "das antigas". or cá, muita gente entende que ao fim de pouco mais de um ano o trabalho já devia estar todo feito, impecável, sem dívidas, de superavit na pança e de preferências, com o império ultramarino reconstruído sem disparar um tiro. Nada a fazer...

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