
«A degradação a que a nossa classe média chegou não se cura com menos de uma catástrofe», escreve Pulido Valente no Público. Como aperitivo catastrófico, o orçamento para o qual ele tem vindo a recomendar "viabilização", sugerindo sevícias públicas ao dr. Passos e ao prof. Cavaco por não serem mais explicitamente coniventes com Sócrates, serve perfeitamente. Num país com a nossa dimensão material e ética, "público" e "privado" confundem-se amiúde. Salvo uma outra raríssima excepção, o "privado" e a "sociedade civil" sempre floresceram à conta do Estado e da mão estendida. Para não irmos mais longe, veja-se a mais recente procissão banqueira à oposição e ao governo, por esta ordem. "Dissolver" o Estado é fechar o país. Não é que se perdesse grande coisa mas julgo ainda necessário um esforço intelectual para não alinhar com a matilha acéfala que passa a vida a falar da função pública como da lepra medieval. Nunca vi ninguém enriquecer na função pública - não me refiro, como é óbvio, a cargos de nomeação política ou associados. Se, por milagre de coluna de jornal ou de aparição televisiva, o Estado acabasse amanhã, de que viveriam os grilos falantes do regime? Das suas extraordinárias pessoas e feitos? De uma sociedade fictícia, inteiramente "privada", como uma "casa de segredos"? Quando Pulido Valente, nos seus livros, agradece nomeadamente ao Instituto de Ciências Sociais "a situação excepcional" que lhe "permitiu trabalhar em paz" ou que lhe deu "tempo, espaço e liberdade" para escrever, está a agradecer a quem?
A lista de ‘conquistas’ do Estado Social de Sócrates é fastidiosa. Ah, claro, temos também a generosa filosofia redistributiva enunciada pelo seu secretário nacional adjunto, uma espécie de ‘governanta’ da sede do PS, que, para dinamizar a renovação geracional nas listas das federações socialistas, ofereceu um ‘tacho’ com ordenado de 15 mil euros ao deputado Vítor Baptista. Com tanto apego ideológico aos velhos princípios do Estado Social, porque haveríamos de querer mudar!? Francamente...»