
Não aprecio muito conversas de mercearia. Acontece que as notícias em torno das remunerações de António Mexia, que preside ao emporio EDP, incomodam. Pelo menos incomodam-me a mim. A EDP supostamente presta um serviço público para além de outras coisas a que mais recentemente se dedicou. E esse serviço público depende do carregar em interruptores, ligar fichas e aparelhos de todo o género e feitio a essas fichas, em suma, é público porque não se pode passar sem a electricidade. Público também é porque é "oferecido" em regime monopolista por essa EDP e porque se parte do princípio que ninguém, de repente, decide "desligar-se" e regressar tranquilamente à noite do mundo. Pelo contrário - e essa é a fortuna espiritual de Mexia e derivados - toda a gente adora estar ligado a qualquer coisa a todo o tempo e desde a mais tenra e estúpida idade. Mexia preside, pois, a isto que é a EDP e isto entende que presidir-lhe vale muito dinheiro. Um país não cresce nivelando-se por baixo mas muito menos cresce - quando nele tanta falta faz que cresça - repetindo actos financeiramente pornográficos de que, por acaso agora Mexia e amanhã outro Mexia qualquer, meia dúzia de pessoas ditas "geniais" são beneficiárias. Na GALP é a mesma coisa e dos bancos nem vale a pena falar a não ser para uma simples perguntinha. Teria sido necessário um PEC visceralmente destruidor da classe média se não fosse o dinheiro que o Estado (dinheiro dos contribuintes) enterrou na falsa salvação de coisas como o BPN e o BPP ou que continua a enterrar na RTP? O "sistema", que é o regime, segura-se porque tem na base um povo manso, tendencialmente cornudo e sexualmente passivo mesmo quando julga que está por cima, que tudo aceita desde que lhe dêem bola fresca todos os dias. A culpa é do Mexia?