
À falta de melhor, o Expresso foi ressuscitar dos mortos a sra. D. Maria Elisa. Enche a capa do primeiro dos seus cem "cadernos" com a fotografia da senhora. Lânguida e aparentemente "magoada", a sra. D. Elisa diz que "se sentiu traída pelo PSD". Eu pensava que a lata e o decoro tinham limites, nem que fossem os impostos pelo mais elementar bom-senso. Convém, por isso, deixar aqui uns lembretes. O PSD, num momento mais infeliz, colocou a referida senhora como "cabeça-de-lista", numas eleições legislativas, por Castelo Branco. Quer nos debates em que participou, quer nos votos que arrecadou, a sra. D. Elisa levou invariavelmente valentes sovas do seu directo opositor do PS, o actual primeiro-ministro. Conhecia tão bem Castelo Branco como eu. Depois, andou melancolicamente pelo Parlamento sem que ninguém desse por ela, até que uma mão caridosa - do PSD que a "traíu" - a remeteu para Londres como "conselheira" cultural ou de imprensa, não sei bem. Aí ficou até que Freitas do Amaral, num dos raros momentos de inspiração como MNE, a mandou regressar a penantes. Maria Elisa foi um ícone razoável do jornalismo português pós-Abril. Quando passou pela política - de Pintasilgo a "Freitas 86" e ao PSD - Elisa nunca acertou. Entretanto, passou de moda. Deve ter sido por isso mesmo que o Expresso a foi buscar.
Maria Elisa é uma mulher inteligente, pois consegue pressentir, em cada momento, para que lado sopra a brisa. Então agora que o PS está no poder ela ia agradecer ao PSD a confiança que depositou nela, à qual não soube corresponder. Claro que não! O único erro que cometeu foi ter participado num tempo de antena de Cavaco Silva, diz ela... Ah, e o Prof. Freitas do Amaral é um mal agradecido pois não soube reconhecer os seus apoios passados. É tudo uma questão de trocas. Agora que o homem saiu do MNE, rei morto rei posto. Alguns políticos ao pé de Maria Elisa, e de alguns outros jornalistas do seu jaez, são uns aprendizes de feiticeiros. Aprendam que ela não dura para sempre. Para já regressa em ombros ao Serviço Público de televisão. Ela necessita de ganhar uns tostões, o vencimento de deputada revelou-se insuficiente para cobrir os sues caprichos do quotidiano. Parece que a rapariga gastava três vezes mais, por isso começou a ficar deprimida e endividada... Os jornalistas do Expresso foram apenas solidários com a coleguinha. A cena foi bem montada. Talvez nas próximas legislativas ela seja cabeça de lista pelo PS, num qualquer outro distrito do interior. Seria, talvez, um bom indicador de mudança. Mas o nosso "primeiro" não cairá nessa tentação, já sabe o que a rapariga não vale. Vivam os jornalistas sérios e isentos!