
Passei o dia de costas viradas para este repelente país que é Portugal, numa espreguiçadeira (dela via-se o mar que deixou de se ver da nova língua brasileira que é o português acordográfico) a ler, de fio a pavio e entre mergulhos, a história da Sita Valles. O país que estava atrás de mim - está assim e assim, tudo o indica, ficará para sempre -, antes de dois jogos de bola, abriu, pela mão da chamada justiça, uma caixa de Pandora. O que se passou hoje, na Expo, envergonha até o mau jurista que sou. E devia envergonhar - só não o faz porque eles a perderam ou nunca a chegaram a ter -
alguns "jornalistas" portugueses que, mesmo analfabetos funcionais e lambedores compulsivos de diversificados e escolhidos rabos, já tinham "escrito" e mostrado o que foi lido na dita Expo. O ar de general Schwartzkopf da ex-revolucionária Catalina e as lágrimas crocodílicas do dr. Namora foram os únicos momentos cómicos de um dia triste. Triste para aqueles que são as verdadeiras vítimas de um crime chamado pedofilia que não tenho a certeza que tivesse sido julgado, até agora, em Portugal. Abriram uma caixa. Agora sintam o perfume que dela exala.
*foto: a Cuca, da reserva asinina de Trás-os-Montes, uma das poucas portuguesas que merece consideraçãoAdenda: Louvo o desassombro de
Pedro Santana Lopes - que já foi 1º ministro de Portugal e que é um agente político em funções - por escrever isto e por interrogar o "maria-vai-com-as-outras" em vigor que promove e aplaude julgamentos de café: «Será mesmo verdade o que se ouviu nos telejornais? Será possível que vivamos num País em que se leiam sentenças, se anunciem as penas e não se leia a fundamentação nem se distribua o Acórdão donde ela deve constar? Ainda por cima, num processo como este, com o impacto mediático que tem... Já se conhecem as penas e não se conhecem os fundamentos? Se for verdade, é porque vivemos num regime que não é uma Democracia. Cada vez há mais sinais de que assim é.» O advogado Sá Fernandes pôs o dedo na ferida - país de trevas, país culturalmente atrasado onde o iluminismo (ou o racionalismo) nunca chegou a entrar a não ser pela via "estrangeirada" e em que a "comunicação social e cultural" não existe senão enquanto farsa.
Adenda2: Este blogue, relembro, não existe para agradar a ninguém muito menos à bovinidade maldosamente mansa e geral. Mesmo assim, e por muito que custe a juristas como o dr. Namora - que queria tudo norte-coreanamente em "prisão preventiva" depois de lido o acórdão -, até ao trânsito em julgado definitivo toda a gente se presume inocente (na "doutrina" Catalina é justamente o oposto: veja-se o que disse em directo acerca de Paulo Pedroso). Pelo menos foi o que me ensinaram quando ainda havia direito e faculdades dele.