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portugal dos pequeninos

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A CAIXA DE PANDORA

João Gonçalves 3 Set 10


Passei o dia de costas viradas para este repelente país que é Portugal, numa espreguiçadeira (dela via-se o mar que deixou de se ver da nova língua brasileira que é o português acordográfico) a ler, de fio a pavio e entre mergulhos, a história da Sita Valles. O país que estava atrás de mim - está assim e assim, tudo o indica, ficará para sempre -, antes de dois jogos de bola, abriu, pela mão da chamada justiça, uma caixa de Pandora. O que se passou hoje, na Expo, envergonha até o mau jurista que sou. E devia envergonhar - só não o faz porque eles a perderam ou nunca a chegaram a ter - alguns "jornalistas" portugueses que, mesmo analfabetos funcionais e lambedores compulsivos de diversificados e escolhidos rabos, já tinham "escrito" e mostrado o que foi lido na dita Expo. O ar de general Schwartzkopf da ex-revolucionária Catalina e as lágrimas crocodílicas do dr. Namora foram os únicos momentos cómicos de um dia triste. Triste para aqueles que são as verdadeiras vítimas de um crime chamado pedofilia que não tenho a certeza que tivesse sido julgado, até agora, em Portugal. Abriram uma caixa. Agora sintam o perfume que dela exala.

*foto: a Cuca, da reserva asinina de Trás-os-Montes, uma das poucas portuguesas que merece consideração


Adenda: Louvo o desassombro de Pedro Santana Lopes - que já foi 1º ministro de Portugal e que é um agente político em funções - por escrever isto e por interrogar o "maria-vai-com-as-outras" em vigor que promove e aplaude julgamentos de café: «Será mesmo verdade o que se ouviu nos telejornais? Será possível que vivamos num País em que se leiam sentenças, se anunciem as penas e não se leia a fundamentação nem se distribua o Acórdão donde ela deve constar? Ainda por cima, num processo como este, com o impacto mediático que tem... Já se conhecem as penas e não se conhecem os fundamentos? Se for verdade, é porque vivemos num regime que não é uma Democracia. Cada vez há mais sinais de que assim é.» O advogado Sá Fernandes pôs o dedo na ferida - país de trevas, país culturalmente atrasado onde o iluminismo (ou o racionalismo) nunca chegou a entrar a não ser pela via "estrangeirada" e em que a "comunicação social e cultural" não existe senão enquanto farsa.

Adenda2: Este blogue, relembro, não existe para agradar a ninguém muito menos à bovinidade maldosamente mansa e geral. Mesmo assim, e por muito que custe a juristas como o dr. Namora - que queria tudo norte-coreanamente em "prisão preventiva" depois de lido o acórdão -, até ao trânsito em julgado definitivo toda a gente se presume inocente (na "doutrina" Catalina é justamente o oposto: veja-se o que disse em directo acerca de Paulo Pedroso). Pelo menos foi o que me ensinaram quando ainda havia direito e faculdades dele.

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48 comentários

De Anónimo a 03.09.2010 às 20:49

Que mal lhe fizeram cerca de 5 milhões de portuguesas para não merecerem a sua consideração?

De Ramiro Marques a 03.09.2010 às 20:58

Costumo gostar muito do que o João Gonçalves escreve embora nem sempre concorde consigo. Desta vez, não gostei nem concordo.

De Daniela Major a 03.09.2010 às 21:16

Desculpe João mas não concordo consigo. O facto deste processo ter sido um circo mediático como aliás processos assim o são em vários países, não invalida o facto de que aquelas seis pessoas são culpadas e de que a sentença foi a correcta.

De facto, as pessoas que antes acusavam, a tal opinião pública que julga, não tem todos os factos, ou mesmo quase nenhuns. Mas eu acredito que os juízes tenham ou não?

De João Gonçalves a 03.09.2010 às 21:32

A resposta a estes comentários - e a outros eventuais do mesmo teor - está dada no corpo do post e na adenda. Se não percebem, metam explicador ou leiam coisas mais consensuais.

De APC a 03.09.2010 às 21:39

Sem querer fazer juízo de valor sobre a setença,ela mesma, não queria deixar de comentar a forma patética como o Sr. televisão (ex)continua a pretender controlar e manipular o povo que o aplaudiu e amou durante tantos anos. Só que desta vez, isto não é um concurso ele ainda não se deu conta disso.
E o seu advogado só acredita na Justiça se ela lhe for favorável, senão é o retorno da Idade Média à Justiça !

O Dr. João Gonçalves, julgo não ter escrito hoje e sobre esta matéria, o seu melhor post.

De João Gonçalves a 03.09.2010 às 21:43

APC - nem este acórdão escreveu hoje a melhor justiça. Aliás, já estava escrito noutras estrelas ou o APC nasceu ontem?

De godinho a 03.09.2010 às 22:16

Ao contrário de outros leitores, este é de todos o post em que mais concordo com o autor do blogue. Precisamente por ser crucial.

Faz sentido que este caso, por ser o caso mais típico da relação complicada entre os media e os tribunais - e que mais necessitava de uma explicitação inteira e completa daquilo que se entende por "verdade dos factos" fosse sentenciado por resumos ou excertos por conveniência mediática?

Estamos aqui num ponto de completo absurdo: Um tribunal lê excertos de um Acordão para que as televisões se despachem.

Há limites. Ou pelos vistos, não há.

De Anónimo a 03.09.2010 às 22:19

Fernando Rosas, num exercício de facciosismo e de hipocrisia fenomenais, "comenta" (o mais correcto seria dizer "sentencía como um Torquemada") neste momento o caso Casa Pia no incontornável programa do jornalista-crespo. Além do mais, por estar fisicamente em estúdio, e ser Paulo Motta-Pinto o seu contendor no debate (em Coimbra), permite-se - abusando - dizer sem oposição tudo o que vai na sua desonesta e revolucionária cabeça. Para este brilhante historiador-jurista-deputado, expôr a pedofilia dos pobres é bom; expôr a pedofilia dos políticos e poderosos é mau, sendo o garantismo sabotador dos ricos uma coisa boa; porque "ele" Rosas "viveu demasiado tempo sem garantias para querer abrir mão delas (SIC)". Isto tudo depois de ter admitido (ao menos isso...) que ser pobre e não poder pagar advogado famoso por 8 anos de processo "é mau". A Rosas - e não só a ele - ainda arrepia que um político possa ser pedófilo (já um padre, ele até aprecia); deve tê-lo arrepiado também ver o menino-maravilha do PS, Pedroso (tão querido de Ferro) ser levado para a grelha. Tudo isto se passou demasiado próximo da sua pessoa física; e o homem da liberdade e da justiça embezerrou. Nitidamente, porcarias processuais à parte, à sensibilidade esquerdil ainda faz muita "impressão" e "espécie" ver poderosos da política ir para a prisão. A prisão, na sua mente, ainda devia estar só reservada aos pobres. Assim está-se mais tranquilo e tem-se assunto para protestar e pedir justiça (em nome dos pobres).
TODA A GENTE, seja velha, seja nova, seja política, seja pobre, seja rica, seja gay ou seja heterosexual DEVIA CONSIDERAR A PEDOFILIA UM CRIME. Em tribunal logo se falará de atenuantes, se for disso o caso. Muita gente, neste país de vergonha, se sente desconfortável com todo o barulha à volta disto do "sexo com meninos e meninas". Aprendam. Já não estamos na Idade Média e no tempo das infantas casadoiras com 12 anos, ou dos jóvens efêbos-objectos sexuais. Pelo menos não se deveria estar.

Ass.: Besta Imunda

De Anónimo a 03.09.2010 às 22:31

Percebo um pouco de leis e percebo um pouco de jornalismo, ambos estudei e em certo medida, os dois continuo a "praticar", que mais não seja em consciência... Aquilo que posso dizer é que os dois universos continuam a portar-se de forma tonta. Mas hoje, creio que a Justiça esteve, apesar de tudo, melhor. Caberá ao colectivo de juízes explicar a opção por uma "sintese" na questão da falta de fundamentação. Durasse as horas que durasse, os dias que fossem necessários, mas não se pode nunca declarar a ou b culpado sem que lhes atribua, com rigor, e alguma exaustão, as razões de tal decisão. Quanto ao jornalismo, esse sim, continua mais próximo das práticas das peixeiras das lotas do que dos ensinamentos dos manuais de deontologia, aliás como não raras vezes aconteceu durante os 6/8 anos do caso. Hoje, a título de exemplo -e só faltavam as sete saias da Nazaré - bastava ver os directos da varina, perdão, jornalista Rita Marrafa de Carvalho/RTP. Por fim, de forma alguma ponho em causa a insenção dos juizes em ceder à pressão mediática querendo crucificar na praça pública meia dúzia de arguidos, num caso que a opinião pública clamava por sangue... Não seria isso que iria credibilizar um sistema já por si ferido - e pensemos nas razões que ilibaram o único arguido deste caso - e, aí, o responsável foi o legislador. Aos antigos casapianos, a minha mais sincera homenagem pela sua coragem. "O melhor do mundo são as crianças"(F. Pessoa). E eles foram o melhor de todo este processo. mf

De Eduardo a 03.09.2010 às 22:43

"Se não percebem, metam explicador ou leiam coisas mais consensuais" responde o Dr. João Gonçalves aos comentadores a quem lhes desagradou o seu texto.
Não lhe parece um bocadinho para o arrogante e soberba?
Não será verdade que o acordão conterá todas as justificações e esclarecerá quem tem de ser esclarecido e a seu tempo os que não são parte no processo?
Desta vez não estou de acordo consigo. Quanto à adenda: acredita mesmo que não existe justificação no acordão para o que foi sentenciado?

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