As ruas de Lisboa, particularmente as dessa Baixa cuja paisagem foi imortalizada pelo mais famoso "morador" da Rua dos Douradores, o pagão Bernardo Soares, encheram-se para saudar Bento XVI. Esses milhares e milhares de pessoas correspondem aos milhares e milhares de caminhos que, tantos como os homens, conduzem a Deus. São caminhos de liberdade e não de servidão como tanto pateta enclausurado na sua frágil "razão" imagina. Ninguém ali estava obrigado ou contrariado. Há, claro, os que têm vergonha e precisam de proclamar publicamente que "gostam muito" ou "é muito bonito" sem sequer saber o que é que estão a dizer. Sócrates parecia desses, com receio de ofender o seu público mais estupidamente fanático. Mas, no meio da multidão, daquela multidão, percebe-se melhor como são pequeninos, irrelevantes e transitórios. Como
esta lama.
O essencial, porém, disse-o limpidamente Ratzinger. «É preciso voltar a anunciar com vigor e alegria o acontecimento da morte e ressurreição de Cristo, coração do cristianismo, fulcro e sustentáculo da nossa fé, alavanca poderosa das nossas certezas, vento impetuoso que varre qualquer medo e indecisão, qualquer dúvida e cálculo humano. A ressurreição de Cristo assegura-nos que nenhuma força adversa poderá jamais destruir a Igreja. Portanto a nossa fé tem fundamento, mas é preciso que esta fé se torne vida em cada um de nós. Assim há um vasto esforço capilar a fazer para que cada cristão se transforme em testemunha capaz de dar conta a todos e sempre da esperança que o anima (cf.
1 Pd 3, 15): só Cristo pode satisfazer plenamente os anseios profundos de cada coração humano e responder às suas questões mais inquietantes acerca do sofrimento, da injustiça e do mal, sobre a morte e a vida do Além.»