
Cheguei a casa e, na televisão, vi Constança Cunha e Sá e Miguel Sousa Tavares. Estavam, por assim dizer, a fazer o "guião" daquilo que Cavaco vai dizer amanhã "à imprensa". E, naturalmente, a ajudar às pompas fúnebres de Ferreira Leite defendendo que Marques Mendes é que era bom. Mesmo assim, o escritor ainda conseguiu dizer uma coisa de jeito sobre o PSD. Só se vê coelhos a saltar da cartola, com um PSD em cada televisão, em cada esquina, a sugerir que "a seguir é ele". O mais óbvio, por causa dos interesses em jogo, é o Coelho de nome que não perdeu tempo em fazer avançar os seus peões de brega (e a sua extraordinária figura) cuja loquacidade política nunca desilude. Pois bem. É preciso fazer frente a este "socratismo" disfarçado, oportunista e negocista, que pulula dentro do PSD. E ao "socratismo" propriamente dito. Por isso decidi regressar ao partido com ficha assinada pelo
José Pacheco Pereira. É a minha maneira de homenagear a decência da dra. Manuela Ferreira Leite numa altura em se aproximam tempos sombrios para o país. E lembrei-me de um texto do
JPP sobre Boécio. «A resposta que a Filosofia dá a Boécio não é em si complexa e a essência que o "consolo" lhe traz é simples: Deus, a Providência e a Sorte não têm os mesmos caminhos terrenos e por isso podem parecer contraditórios na recompensa que dão aos humanos. Por isso, os maus podem parecer ter uma recompensa do seu mal. Mas vai mais longe e diz a Boécio que ele é verdadeiramente livre nos seus actos porque eles são independentes mesmo do prévio conhecimento que Deus tenha deles. Sendo senhor do seu destino, o que lhe estava a acontecer não tinha de necessariamente acontecer se não fosse a sua liberdade de escolher, e era para isso que os seus actos tinham valor para Deus e estavam para além da sua recompensa ou punição terrestre (...). Não sei se na dor da tortura o "consolo" da filosofia serviu de alguma coisa a Boécio. Provavelmente não. Mas o que levou esse homem antigo a, na sua cela, escrever para nós, permanece intacto na sua força e valor para estes tempos de corrupção moral. Por isso, ele é dos nossos.»
Foto: Ephemera