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portugal dos pequeninos

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QUASE

João Gonçalves 14 Dez 06


Numa noite destas, o Mário Crespo deu-lhe para entrevistar longamente um dos "pais da pátria democrática", o dr. Almeida Santos. O dr. Santos colocou este ano nos escaparates as suas "Quase Memórias", em dois volumes, e esse foi o pretexto para a conversa. Não tenciono lê-las porque suponho que não terão qualquer interesse. Almeida Santos jamais poderia ir ao "fim da memória" - que a defunta Castro me perdoe a recorrência - por inteiro. O "quase" do título é, a esse propósito, eloquente. O presidente do PS é das pessoas que mais sabe da vida política e de outras "vidas" de muitos protagonistas contemporâneos, de África à Metrópole, dos anos cinquenta e tal até hoje. E, convenhamos, sempre é um senhor e não propriamente um "alternadeiro". Consta que apesar da sua imensa fortuna e património, é um homem de enorme generosidade. Quando era presidente do Parlamento passava o tempo ao telefone a tratar de coisas que lhe pediam, desde a porteira aos ministros. Nunca mais me esqueço de, noutra encarnação, um ilustre militante do PS - que presidia a uma instituição pública em Lisboa mas que tinha sido anos a fio presidente de uma câmara municipal e que é verdadeiramente um bom homem, Júlio Henriques - me ter revelado uma "máxima" cara a Almeida Santos. "Para os amigos, tudo. Para os inimigos, nada. Para os outros, cumpra-se a lei". Não sei se isto constitui a epígrafe das "memórias". Todavia o "quase" do título está todo aqui.

12 comentários

De Anónimo a 14.12.2006 às 12:37

Quando li o início...assustei-me. Mas depois, acalmei e estou totalmente de acordo comsigo! Não compro, porque não acredito no autor (nunca acreditei..é algo que sinto bem cá dentro, nas entranhas....) e, portanto, também não acredito que ele (possa) contar a VERDADE!!!...
Neste caso, penso que será uma autêntica autobiografia, exactamente porque relatará, com certeza, muita mentira!!!!!!!

De Sérgio de Almeida Correia a 14.12.2006 às 12:59

Olhe que não, olhe que não. Eu não tenho simpatia nenhuma pela personagem, mas comprei e li. Está bem escrito e revela muita coisa desconhecida dos meandros de Abril e da descolonização. O homem ficou com toda a documentação. Não é tempo perdido e desmente a história da fortuna colossal. Seria bom era que os visados (os vivos, obviamente, já que os mortos não podem) se manifestassem.

De Anónimo a 14.12.2006 às 13:38

Acredito que esteja bem escrito, pois, ESCREVER, o autor sabe! Que revele muita coisa desconhecida, também acredtio...não estive lá, não conheço!!!Não me interessa propriamente saber se ele tem fortuna pessoal ou...alheia (neste último caso seria um "caso" de polícia...).Quanto ao visados falarem....talvez AÍ se fizesse um pouco de luz...mas não sei se a suficiente para se saber a VERDADE....Encobrem-se todos uns aos outros.....Sou muito DESCONFIADO(A) nestes assuntos....
Não me apetece mesmo nada dar-lhe dinheiro meu com a aquisição do livro....

De Anónimo a 14.12.2006 às 14:34

Para os meus inimigos, basta que se cumpra a lei.

De Anónimo a 14.12.2006 às 14:49

...desmente a história da fortuna colossal....Então queria que a confirmasse por escrito???!!! Ahhhh

De Anónimo a 14.12.2006 às 14:56

«(...) o meu partido é o mapa de Portugal. (...) fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos dele em traineiras.
A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade.»

(Miguel Torga, citado «minha rica casinha»)

Este é um dos fanfarrões, um dos incapazes e um dos irresponsáveis.
Não podia ser outra coisa senão o Presidente de um partido que dá para todos os lados ... transgender ...

De Anónimo a 14.12.2006 às 15:38

Caro João, essa máxima a que se refere, não é, de todo, exclusiva de Almeida Santos, mas de toda a classe política. Os denominados " homens vão " são tão raros que poucos se dignam, honestamente, a fazer parte da dita. Portugal é assim. Não leu os classicos do século XIX?

Vidal

De lusitânea a 14.12.2006 às 19:20

Pertenço ao grupo a quem se "aplica a lei" e por vezes até nisso com bastante trabalho e chatice da minha parte.
Só lerei o trabalho do homem quando ele andar nos alfarrabistas a preço de saldo, mas que é esperto ninguém duvide...

De Anónimo a 14.12.2006 às 20:46

"(...)desmente a história da fortuna colossal."

Ora, ora. A declaração de bens depositada no Tribunal Constitucional, quando AS era presidente da AR, é inequívoca a esse respeito.
Onde pode, então, haver desmentido?

De Anónimo a 14.12.2006 às 23:10

«(...)Rodeado há 32 anos pela ignorância, hostilidade e espiritozinho de inveja, características tão lusitanas, abstenho-me de falar na África minha que deixei para sempre naquele inesquecível 30 de Agosto de 1974. O Eduardo Pitta tem toda a razão. Não, nós, brancos de Lourenço Marques, não éramos como pinta a tal reportagem da Sábado. Tudo aquilo soa a remoque de quem, vindo da "Metrópole", por lá permanecia apenas durante as semanas ou meses necessários para o carregamento do galeão. Nós éramos portugueses mas, no que me toca, portugueses africanos, com duas, três e quatro gerações nascidas naqueles paragens que amávamos como a nossa pátria portuguesa africana. Não precisávamos de ranchos minhotos, nem fandangos, nem marchas populares, pães de ló de Ovar, presuntos e fumados de Trás-os-Montes ou filigranas para sermos mais portugueses que aqueles que chegavam da metrópole enrolados num despacho ministerial para nos dizerem como governar aquela terra. A verdade, custa-me dizê-lo, é que os maiores erros que ali se produziram foram produto da total arrogância de pessoas que aportavam a Moçambique carregadas de mitos, uns benignos mas perfeitamente absurdos, outros malsãos, produto do aceno da riqueza fácil. À cabeça, coloco o nome de uma vil criatura que ainda há dias lançou um arremedo de "memórias". O dito insigne jurista - que ali se encheu como os velhos soldados práticos de Quinhentos - epitomiza o mais selvagem dessa colonização de costas voltadas para os africanos, pretos, brancos e mulatos. Da minha infância só guardo instantâneos de violência física contra mainatos, perpetrada por recém-chegados; aqui pouco mais que criados de servir, lá déspotas vorazes capazes de todas as ignomínias para mais uns tijolos no casarão na "Metrópole".
Se tivesse prevalecido o bom-senso, se tivessem dado a naturais - pretos, brancos e mulatos - a mínima possibilidade para encontrarem uma solução portuguesa africana para o destino daquela parcela desta nação, não teria havido outra independência que não a NOSSA, não teria havido nem Machel nem a Renamo, campos de concentração, guerra e destruição como a que afogou em sangue, miséria e morte o NOSSO Moçambique».

In «Combustões»

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