
Houve uma altura em que o prof. Cavaco, referindo-se à administração pública e ao alegado "excesso" de funcionários, encolhia os ombros e desabafava que era preciso "esperar que eles morressem". Por acaso, o mesmo Cavaco não só não precisou de "morrer", como se aposentou como professor do ensino superior público e foi eleito, felizmente, Chefe de Estado. Agora, alguém descobriu que, para além de teimarem em não morrer, os ditos funcionários são a "praga" que anda a dar cabo do país, espalhada por aí à razão de um por cada dezassete portugueses (partindo-se sempre do saudável e democrático princípio que os ditos funcionários mal têm direito à naturalidade portuguesa, uns hominídeos ao pé dos outros). Este "corpo esquisito", para recorrer a Cesariny, incomoda um país que, pelos vistos sem eles, seria dos mais desenvolvidos do mundo. Todavia já tivemos muito menos e não consta que tenhamos alguma vez passado do patamar medíocre de sempre. Isto é o resultado dos disparates de um governo que insiste em meter no mesmo jargão coveiros municipais, professores catedráticos, investigadores, escriturários e médicos, só para dar alguns exemplos de "servidores públicos", para consumo dos "outros" portugueses. Um novo racismo, afinal.
Embora concorde com a parte final na questão de ser um novo racismo, ou até melhor uma nova forma de totalitarismo que consiste em considerar culpados de tudo os funcionários públicos.
E não sou funcionário público.