Por causa de uma prosa que li no Hardblog o mês passado, reproduzida parcialmente aqui, percebi que reinava escândalo na cabeça de "ilustres" figuras da nossa "cultura" e da nossa arquitectura, em particular, por o arquitecto Tomás Taveira ter sido nomeado para o conselho consultivo do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR). O dito escândalo manifestou-se agora sob a forma de "carta aberta", com 150 assinaturas, entregue no ministério da Cultura. Entre outros mimos, as notabilidades consideram um "insulto" e um "ultraje" a presença de Taveira no referido conselho e lembram, quais inquisidores de dedinho espetado, que foi "reformado compulsivamente" da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Se lermos os nomes das notabilidades que se eriçam contra Taveira, encontramos a "nata" do establishment no sector. Ou seja, trata-se de uma reacção corporativa e tipicamente de capela por parte de umas criaturas talentosas - algumas são-no, de facto - que o regime tem protegido e abençoado. Estão lá praticamente todas. Esta gente, como na política, considera-se dona dos costumes e das coisas em que mexem e onde sobrevivem. Fazem parte de um petit comité que se protege mutuamente e que, quase sempre, encontra no poder alguém que se babe para cima deles. Muitos ocuparam anos a fio cargos oficiais e "custa-lhes" - o termo é este - que um "renegado" como Taveira também possa ocupar. Tomás Taveira é um grande nome da nossa arquitectura contemporânea e, para sua infelicidade, não é tão "perfeitinho" como os seus algozes. O seu nome caiu na "boca do mundo" apenas por ser um bom profissional com defeitos humanos. As "virgens ofendidas" da "carta aberta" imaginam-se modelos virtuosos e cumpridores de padrões "morais". São mais uns quantos que estão muito bem uns para os outros.
Naturalmente será um ponto de vista que o senhor JG, típica criação de um "portugal dos pequeninos", espera poder vir a transmitir ao Presidente Cavaco uma vez nomeado seu assessor cultural, cargo a que se candidatou com a conhecida falta de coluna vertebral que lhe é reconhecida.
... será possível o que acabo de ler no ultimo comentário acerca da pessoa de JG? ... quando se perde a noção do que são os "valores" está tudo dito ...
Sobre Tomás Taveira, o seguinte: Infelizmente, como constatamos ao olhar a deploravel paisagem urbana portuguesa, não hexistem lobbys suficientemente fortes de arquitectos qualificados. Haverá decerto privilégios junto de câmaras municipais e outros promotores, onde patos bravos e arquitectos frouxos constroiem coisas inenarráveis. O João Gonçalves tem todo o direito de admirar, endeuzar, ou o que quizer, o arq. Taveira. No entanto os seus argumentos parecem-me, no mínimo, despropositados. É possível que o arq. Taveira não pertença, como ele gostaria, ao lobby dos arquitectos. Mas não pertencerá ele a outros lobbys? Quantos estádios de futebol ele projectou para o Euro? Que pensamento tem o arq. Taveira sobre, por exemplo, a cidade de Lisboa, que ele disse em tempos detestar? Que pensamento tem ele sobre questões de património arquitectónico? Conhece a proposta que Taveira chegou a apresentar após o incêndio do Chiado, prevendo engaiolar as ruas com edifícios desmesurados e grandes coberturas envidraçadas, ali mesmo ao lado da baixa pombalina? Ninguém duvidará que Taveira seja um arquitecto hábil, exuberante e produtivo. Mas as suas propostas não são, do meu ponto de vista, nem arrojadas, nem qualificadas. Pelo contrário, apresentam uma parafrenália de formas e superfícies de complexidade artificiosa, rebuscada, por vezes kitsch, que as tornam um fenómeno de popularidade nesta nossa terra de pequeníssima estima pelas coisas da arte. Quanto ao argumento sobre a vida privada do arquitecto, considero-a lamentavel, e desprimorosa para o próprio Taveira, porque aventuras ou desventuras pessoais só a ele dizem respeito. A contestação à arquitectura de Taveira é muito anterior ao escândalo mediático e por isso este caso não pode vir agora ser utilizado para limitar juízos estético sobre edifícios por ele projectados, ou condicionar uma avaliação objectiva sobre o seu comportamento profissional. Quanto às assinaturas de protesto, ou qualquer outra manifestação de desagrado, talvez signifiquem apenas que ainda há gente que se manifesta em torno daquilo em que acredita. É um direito em democracia, e num país que se demite de posições firmes significa também sentido cívico. A história encarregar-se-á de confirmar se a arquitectura de Taveira é ou não uma extravagância datada, se produziu ou não obras marcantes na escala mas medíocres no conceito. Ver-se-á também o papel reservado áqueles que o contestam.
a maioria dos taveiras e dos outros, os tais da "nata do establishment no sector", não valem nada. à custa dos conhecimentos e das cunhas o país está cada vez mais ignorante, feio, triste e sujo. no meio do desordenamento aparecem modernismos caixotescos que são provavelmente más copias do pior que se faz "lá fora". além disso, a marina de albufeira é horrível.
... e, termina muito bem
"São mais uns quantos que estão muito bem uns para os outros"