
Grande post do Eduardo Pitta sobre a natureza e não contra ela. Por acaso, adquiri há umas horas - lembrando-me, depois, que tinha a velha edição da defunta
Moraes, "
escritos póstumos" - o recente
Escritos Corsários - Cartas Luteranas - uma antologia, de Pier Paolo Pasolini (
Assírio & Alvim). A maior parte dos textos, de um e outro livro, tem mais de trinta anos. Um amigo italiano dizia-me outro dia que Pasolini escreveu coisas que só agora podem ser compreendidas ou que são (deviam ser) meros lugares-comuns. Por causa delas, Pasolini conheceu o ódio dos "intelectuais orgânicos" do PCI, tão ou mais homofóbicos que a "direita", a repulsa da igreja (era católico e contra o aborto, "uma legalização do homicídio" - v. texto de 19 de Janeiro de 1975, publicado no
Corriere della Sera -"Sou contra o aborto"-, incluído em ambos os livros com o título "o coito, o aborto, a falsa tolerância do poder e o conformismo dos progressistas") e as ameaças constantes e cobardes que culminaram no repulsivo assassinato de Ostia. O funeral, em Roma, foi um momento de hipocrisia colectiva em que, da esquerda à direita, todos procuraram exorcizar o melhor possível os seus públicos e privados demónios. "
O amor homossexual não deixa marcas indeléveis, nem deformações racistas, nem manchas que façam de um homem um intocável: deixam-no perfeitamente tal qual era. E mesmo, talvez o ajude a exprimir totalmente a sua potencialidade sexual "natural", na medida em que não há nenhum homem que não seja também homossexual", escrevia Pasolini em 1974. Chama-se a isto, tão simplesmente, a natureza das coisas.