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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

"Espírito de convergência e afecto"

João Gonçalves 10 Out 15

 

Há uns meses imaginei que Henrique Neto pudesse protagonizar uma candidatura presidencial por uma Nova República. Com uma biografia respeitável, Neto parecia estar em condições de mobilizar algumas elites do centro-esquerda ao centro-direita, sem apoucar a função partidária, e de chamar a elas correntes da opinião pública não completamente confortáveis com a "situação" e com a "oposição". A sua declaração de Março era inovadora e potenciava um papel diferente ao PR. Mas rapidamente Neto triturou esse potencial com uma obsessão ensimesmada, não pela ponderação desse papel, mas antes por um hipotético "programa de governo" que nenhum PR, nos pressupostos constitucionais em vigor, pode dirigir. Neto ficou assim capturado pela sua vaidade e limitado como candidato necessário a Belém. Na realidade tem dado permanentes sinais de que preferia candidatar-se a um cargo executivo e num sector específico. Em suma, "encalhou" no Porto de Sines e nunca mais de lá saiu. Ontem à tarde, todavia, chegou o Presidente. Se existissem dúvidas, o notável discurso de apresentação da sua candidatura presidencial cessaram com elas. Marcelo, como sempre previ contra a opinião do meu saudoso Amigo Medeiros Ferreira, "saiu" do estúdio para o país. «Conheço muito bem a Cconstituição que nos rege. Sei qual é nela o papel do Presidente da República. Estou consciente de como o estado do mundo e da Europa não deixam antever anos fáceis e de como Portugal tem de sair claramente de um clima de crise financeira, económica e social, pesada e injusta, que já durou tempo de mais. Para isso considero essencial que haja, como nas democracias mais avançadas, convergências alargadas sobre aspectos fundamentais de regime. Considero ainda que não há desenvolvimento, nem justiça, nem mais igualdade com governos a durarem seis meses ou um ano, com ingovernabilidade crónica e sem um horizonte que permita aos governados perceberem aquilo com que podem contar no quadro da composição parlamentar resultante daquilo que votam. Mas a estabilidade e a governabilidade têm de estar ao serviço do fim maior e o fim maior na política é o combate à pobreza, é a luta contra as desigualdades, é a afirmação da justiça social.» É isto: «uma caminhada feita por Portugal, com independência, com sentido nacional, com espírito de convergência e com afecto.»

Força

João Gonçalves 10 Out 15

 

No dia 23 de Janeiro de 1983 o então Presidente Eanes dissolveu a AR e convocou eleições para 25 de Abril. Estava em funções o VIII Governo Constitucional, chefiado por Pinto Balsemão, e a AD, maioritária no parlamento, desagregava-se. Naquelas eleições, o PS ganhou sem maioria e foram encetadas negociações para a constituição do chamado "bloco central" com o PSD de Mota Pinto. O governo subjacente a este acordo tomou posse a 9 de Junho de 1983, ou seja, praticamente seis meses depois da dissolução parlamentar. E o governo de Pinto Balsemão esteve praticamente outro tanto em gestão. O caos até agora calmo que se instalou no regime por causa dos resultados do passado domingo - com o principal derrotado à chefia do próximo governo e a a sua fiel oligarquia partidária entregues a jogos florais irresponsáveis com a desculpa que é preciso "conversar" com tudo e todos sobre tudo e todos como se o sufrágio pudesse ser lido de cima para baixo e de baixo para cima exactamente da mesma maneira - pode ter como desfecho uma situação parecida com a que descrevi. Nada impede o XIX Governo Constitucional de permanecer em funções de gestão política do Estado até estarem criadas as condições jurídico-políticas para o novo Presidente poder dissolver o parlamento votado há uma semana. É tão verosímil como os "cenários" que correm por aí, um dos quais tem Jerónimo de Sousa como maior entusiasta na sua qualidade de líder da quinta força partidária mais votada. Querem tempo para "falar"? Têm seis meses pela frente. Força.

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