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portugal dos pequeninos

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O PS perdeu a Fonte Luminosa

João Gonçalves 7 Out 15

 

Para descaso de alguns prosélitos, no meio dos quais se incluem formas de vida moderadamente inteligente, Portugal não é uma democracia popular. A Constituição, por muito que lhes custe, fundou uma democracia representativa. A seguir os partidos - com destaque para o PS, o então PPD e o CDS conforme os primeiros actos eleitorais - ajudaram a "estabilizar" essa democracia representativa. O presidente Eanes também. Mais rapidamente do que se supunha, o Centro-Direita representado na AD de 1979 integrou-se sem mácula no regime. Ficou logo claro que os adeptos da democracia popular não "passavam" no teste das urnas. Assim voltou a acontecer no passado domingo. O "povo" foi votar e ditou o que queria: o dr. Passos como primeiro-ministro e a coligação PSD/CDS a suportar um Governo minoritário no Parlamento. Não quis decididamente maiorias absolutas, muito menos do PS, nem maiorias fictícias alicerçadas na rejeição da democracia representativa. Foi um belo esforço, o das meninas do Bloco e de Jerónimo de Sousa, mas menos de 20 deputados em ambos os casos não é exactamente o mesmo que mais de 100 ou de 80. O PS pagou cara a factura da ambiguidade e do tacticismo. Costa sofreu uma dupla derrota: interna e no país. Alcandorou-se a candidato a primeiro-ministro e a secretário-geral, atropelando uma pessoa e dois sucessos partidários nacionais, para quase nada. Nem sequer conseguiu mais deputados do que o PSD "separado" do CDS. Arranjou um sarilho doméstico que o obriga a disputar a legitimidade da liderança no momento em que as circunstâncias exigem conversa democrática séria e estabilidade. A fractura do PS dá nota de um ponto de chegada sem ponto de partida à vista. Em certo sentido o PS perdeu a Fonte Luminosa e estatelou-se humilhantemente à conta do seu pior adquirido e do lixo acumulado nos derradeiros anos. A situação de maioria relativa estipula um ónus quer para a coligação quer para o PS. A coligação já sinalizou a sua inequívoca percepção da realidade. Costa, não contente com o desastre, persistiu na ambiguidade apesar da recusa de "maiorias negativas". Sucede que o lastro do PS da Fonte Luminosa nunca hesitou entre a democracia representativa e a popular. Enquanto for secretário-geral, Costa tem pelo menos a obrigação moral e política de não desonrar esta história antes que o PS "vire" dois: um para acomodar a tralha e outro para servir o país.

 

Jornal de Notícias

 

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