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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

A campanha

João Gonçalves 27 Set 15

 

Sob o espectro de uma relativa indiferença, a campanha eleitoral propriamente dita anda por aí. O "meio" - televisões, rádios, jornais e redes sociais - bem se espreme por tornar intrusivo um debate eleitoral que concorre todos os dias, mesmo no da eleição, com a bola. Só os fiéis, e os obrigados por natureza de função, comparecem. As mobilizações populares de 1986 a 1991 desapareceram. Confia-se que a cibernética comunicacional faça o resto. A "rua" talvez venha a ter uma relevância que não tem tido até agora, salvo numa ou outra conversa ou barulho filmados pelas televisões. Como os programas têm de ser suficientemente vagos para não serem demasiado comprometedores, sobram os jogos florais em torno de um ou dois temas "sérios" com manifesta supremacia para os números da segurança social. É, aliás, nesta "base" que os dois candidatos à chefia do governo "dialogam" surdamente um com o outro a partir dos respectivos comícios e refeições partidárias. Todavia há uma diferença que os leigos não terão deixado de notar. O primeiro-ministro Passos Coelho que, por dever de ofício, é obrigado a saber com o que conta, deixou desarmado o candidato do PS ao conseguir surpreendê-lo com o seu próprio programa: percebeu-se que Costa o leu mas não logrou assimilá-lo. Seguiu-se a fuga em frente com uma tão inútil quanto irresponsável "promessa" a juntar às diárias perpetradas a torto e a direito em razão das circunstâncias de modo, tempo e lugar: votar contra um eventual próximo orçamento de Estado preparado pela coligação se esta vencer. Costa provavelmente não se deu conta da rasura que causou na "confiança" e no crédito que pede. As campanhas eleitorais não se medem apenas pelo que as sondagens, as "tracking pools" ou as acções personalizadas contam. Existe um elemento psicológico associado a estes instrumentos de análise que puxa para baixo ou para cima quer os candidatos quer o eleitorado. Neste campo julgo que Passos Coelho está "à frente". O tandem com Portas funciona e a mensagem é parecida com a de Cavaco em 1987: "Portugal não pode parar". Costa errou ao optar, na campanha e nos propósitos, pela imoderação e pela instabilidade. Lembra Fabrizio del Dongo, em A Cartuxa de Parma, depois de ter andado perdido em Waterloo ao lado, julgava ele, de Napoleão. "A carreira militar para Fabrizio é a vida do esquilo na gaiola que anda à roda: muito movimento para nenhum progresso".

 

Jornal de Notícias, 23.9.2015

 

Nota: Alguns leitores amáveis perguntam-me por que é que o blogue "parou". A todos respondo com sinceridade: por falta de paciência. E porque passei a privilegiar, por preguiça, o Facebook. Lá está, no fundo, tudo o que nao escrevi.

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