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"Os tempos são ligeiros e nós pesados porque nos sobram recordações". Agustina Bessa-Luís
João Gonçalves 30 Set 15
Há um ano, mais coisa menos coisa, o antigo cinema Roma, presentemente a sede da Assembleia Municipal de Lisboa, recebia em euforia o ainda presidente da Câmara. O homem tinha acabado de remover António José Seguro da liderança do PS após vencer as "primárias" abertas a "simpatizantes". Este demitiu-se de tudo e, com a maior dignidade, saiu de cena para que Costa pudesse exibir em paz todo o seu esplendor bonapartista. O novo chefe ignorou-o, e aos três anos precedentes da história do partido, sem um vestígio de consideração ou agradecimento. Seguro, o "poucochinho", sempre tinha arrebatado o poder autárquico para o partido e as "europeias". Mas isso não interessava nada porque só Costa podia redimir as hostes da humilhação de 2011, justamente a partir daquele excitado serão na Avenida de Roma. Na segunda-feira, uma pequenina parte do delirante apostolado juntou-se ao candidato a primeiro-ministro do PS em nome da "cultura" e da soberba "moral" que os justifica. Era, no essencial, a velha guarda cortesã do antigo presidente de Câmara cujas qualidades enquanto relações públicas alguns dos presentes - sempre atentos, venerandos e obrigados - notabilizaram como sempre a pensar no futuro deles. Se evoco estas peripécias é porque elas resumem eloquentemente a deslocação da campanha do PS, e eventualmente do destino próximo do partido, numa direcção incerta que a perdeu. Costa e os seus "estrategas" erraram ao pensar que "isto" era o mesmo que Lisboa. Bastava dominar o "meio", menorizar a outra esquerda e contar com meia dúzia de tresmalhados da "situação" para a coisa funcionar. Não bastava. Pelo contrário, preparou-se mal para o embate com a realidade, não estudou o programa que pediu, convocou o pior jacobinismo para as arengas demagógicas e, sobretudo, não logrou incutir um "poucochinho" de confiança num eleitorado que a coligação acabou, pelos vistos, por reconquistar. António Costa, a desilusão desta campanha como Catarina Martins o apelidou, chega a domingo num caos voluntário e a prometer por ele. Impreparado, inseguro e falaz, Costa dá sinais de ter dividido o PS para muito pouco ou nada. O país não lhe agradecerá a frivolidade do exercício. Passos, para já, ganhou a batalha da estabilidade, da confiança e da moderação "natural" sem precisar dar saltos, falar demasiado alto ou afogar-se num mar de inconsistências e de bem-aventuranças improváveis. É, pelo menos, um voto certo.
Nota: Passei a privilegiar, para já e por preguiça, o Facebook. Lá está, no fundo, tudo o que nao escrevi.
João Gonçalves 27 Set 15
Sob o espectro de uma relativa indiferença, a campanha eleitoral propriamente dita anda por aí. O "meio" - televisões, rádios, jornais e redes sociais - bem se espreme por tornar intrusivo um debate eleitoral que concorre todos os dias, mesmo no da eleição, com a bola. Só os fiéis, e os obrigados por natureza de função, comparecem. As mobilizações populares de 1986 a 1991 desapareceram. Confia-se que a cibernética comunicacional faça o resto. A "rua" talvez venha a ter uma relevância que não tem tido até agora, salvo numa ou outra conversa ou barulho filmados pelas televisões. Como os programas têm de ser suficientemente vagos para não serem demasiado comprometedores, sobram os jogos florais em torno de um ou dois temas "sérios" com manifesta supremacia para os números da segurança social. É, aliás, nesta "base" que os dois candidatos à chefia do governo "dialogam" surdamente um com o outro a partir dos respectivos comícios e refeições partidárias. Todavia há uma diferença que os leigos não terão deixado de notar. O primeiro-ministro Passos Coelho que, por dever de ofício, é obrigado a saber com o que conta, deixou desarmado o candidato do PS ao conseguir surpreendê-lo com o seu próprio programa: percebeu-se que Costa o leu mas não logrou assimilá-lo. Seguiu-se a fuga em frente com uma tão inútil quanto irresponsável "promessa" a juntar às diárias perpetradas a torto e a direito em razão das circunstâncias de modo, tempo e lugar: votar contra um eventual próximo orçamento de Estado preparado pela coligação se esta vencer. Costa provavelmente não se deu conta da rasura que causou na "confiança" e no crédito que pede. As campanhas eleitorais não se medem apenas pelo que as sondagens, as "tracking pools" ou as acções personalizadas contam. Existe um elemento psicológico associado a estes instrumentos de análise que puxa para baixo ou para cima quer os candidatos quer o eleitorado. Neste campo julgo que Passos Coelho está "à frente". O tandem com Portas funciona e a mensagem é parecida com a de Cavaco em 1987: "Portugal não pode parar". Costa errou ao optar, na campanha e nos propósitos, pela imoderação e pela instabilidade. Lembra Fabrizio del Dongo, em A Cartuxa de Parma, depois de ter andado perdido em Waterloo ao lado, julgava ele, de Napoleão. "A carreira militar para Fabrizio é a vida do esquilo na gaiola que anda à roda: muito movimento para nenhum progresso".
Jornal de Notícias, 23.9.2015
Nota: Alguns leitores amáveis perguntam-me por que é que o blogue "parou". A todos respondo com sinceridade: por falta de paciência. E porque passei a privilegiar, por preguiça, o Facebook. Lá está, no fundo, tudo o que nao escrevi.
João Gonçalves 2 Set 15
A administração da LUSA, pelos vistos no âmbito de uma "reorganização" geral da casa, substituiu o director de informação, Fernando Paula Brito, por Pedro Camacho. Saem os directores adjuntos de Paula Brito mas Camacho já deu a entender que se governará com a "prata da casa". Quando Teresa Marques assumiu a presidência da Lusa, escrevi que se tratava de uma boa escolha. Ora o argumentário com que defendeu estas alterações confirmam essa conclusão. "Apesar do excelente trabalho desta direcção de informação, foi entendido que a Lusa precisava de um director que fosse também um gestor, como já vai acontecendo em muitas empresas privadas", uma decisão tomada "numa altura em que ninguém sabe sequer quem vai ser o próximo Governo". Mais. "No dia em que um Governo diga a este Conselho de Administração que tem de mudar a direcção de informação, o Conselho de Administração demite-se". A avaliar pelas experiências mais recentes no que resta de comunicação social sujeita a tutela técnica e financeira do Estado, parece-me definitivamente um bom princípio.
João Gonçalves 2 Set 15
Agosto, mês de férias, feiras e festas, manteve o país em remanso relativo. Só não foi absoluto por causa das eleições o que obrigou os protagonistas delas a alguma movimentação. O "povo", pareceu-me, absorveu as férias, as feiras e as festas até ao tutano e desprezou os ruídos que, de vez em quando, lhe chegavam do folclore partidário. O que pode ser um sinal interpretável para Outubro: a política não consta "inequivocamente" da lista de prioridades do "povo" como desejam os principais candidatos à pastorícia directa da nação. Mesmo assim houve esforços.
O PS acampou a juventude. O PSD ofereceu-lhe a habitual academia de Castelo de Vide. Apareceu uma candidata presidencial e desapareceu outro que antes de ser já não era. O dr. Passos, por força das circunstâncias, anda mais "social" na retórica mas carrega o Novo Banco às costas. O dr. Costa anda o que for preciso e mesmo assim pode não chegar. O dr. Portas, e como estão perfeitos um para o outro, prepara um talk show com a D. Heloísa Apolónia. Jerónimo espera mais deputados. E o Bloco é a Mariana Mortágua e basta. Não se dá praticamente pelos "novos" que, aliás, não fizeram muito para que se dê por eles. Sucede que fora desta pequenez caseirinha a Europa, a que nós estamos ligados mais pelo tratado orçamental do que por qualquer outra coisa, ficou obrigada a encontrar-se consigo própria (história, "valores", "princípios", economia, etc.) por causa dos chamados migrantes e refugiados.
Durão Barroso, o mais bonzo presidente da Comissão Europeia dos derradeiros tempos, passeou por Castelo de Vide a frivolidade que o tornou internacionalmente famoso. Sobre isto referiu que a Europa terá sempre as portas abertas mas não escancaradas. A Hungria ou a Sérvia - países cujo passado não os recomenda especialmente em matéria de direitos humanos - "aprenderam" mais depressa a "lição" de Barroso do que a rapaziada laranja. Foi preciso Merkel para retomar um olhar europeu, sensato e cosmopolita, sobre esta catástrofe. A Alemanha política e "da indústria" dispõe-se a receber 800 mil pessoas e reprova sem hesitações comportamentos xenófobos. Desafia, com a autoridade de quem pagou o preço elevado da devastação física e moral, a restante Europa, a que cabe na indigência oportunista dos Barrosos de Castelo de Vide. A chanceler, para já, devolveu uma "ideia de Europa" à Europa. E é dos textos que quem salva uma vida salva a humanidade inteira.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...