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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Quem pede o quê

João Gonçalves 25 Jul 15

 

Na semana que passou ficámos a conhecer os candidatos a deputados pelo PS. Melhor. Ficámos a saber que Costa persiste fiel ao princípio que o determinou a correr com Seguro: incluir excluindo e excluir incluindo. Nos próximos dias segue-se a coligação PSD/CDS. Verdadeiramente só interessa observar o que vai fazer o PSD. Pessoal e politicamente não espero grande coisa. A tendência de quem está no poder é a de "reforçar" o pior do que não presta e não oposto. O mesmo se diga do programa eleitoral. Há muito que foi apresentado: em Bruxelas, junto de quem o valida. Estes "preparados" - do PS e da coligação - provavelmente ditarão uma proximidade no número de mandatos a alcançar por ambas as partes em Outubro. O Doutor Cavaco, com os já longos trinta anos que leva disto, pressentiu esse desfecho na alocução em que marcou a data das eleições. Um bocadinho mais à frente, um bocadinho mais a trás e uma vetusta abstenção valerão tempos interessantes e seguramente mais "políticos" do que os que temos vivido. Mas os partidos não servem só para o recreio infantil dos lugares. Será então altura de mostrar que percebem o que o eleitorado lhes exige. Porque é assim que isto funciona. Não são os partidos que pedem ao "povo" que lhes "dê" algo. É o "povo" que diz aos partidos o quer deles e, sobretudo, o que não quer. 

Os companheiros de Ulisses

João Gonçalves 19 Jul 15

 

 Viúvas políticas, novas e velhas, têm passado o domingo a louvar-se em Sá Carneiro a pretexto do dia do seu aniversário. Que pensaria o fundador da direita democrática se os lesse e ouvisse, alguns deles, como escreveu Vasco Pulido Valente, «criaturas que ele execrava ou desprezava do fundo do coração»? É que a direita democrática que ele fundou em 1979, sublimando-a através da Aliança Democrática (não houve outra, aliás), não tem nada a ver com o que hoje, por aí, passa por tal. Já em 1974, por ocasião da fundação do PPD, «era um líder nato que avançava. Sempre, no entanto, com aquele desprendimento que, mais tarde, o levaria a estar e a romper logo que a consciência o ditasse.» (Marcelo Rebelo de Sousa, A Revolução e o Nascimento do PPD, 2000). Na realidade, «conservador Sá Carneiro não era. Era um revolucionário incapaz de complacência, impaciente com os males do mundo e sem medo da acção. Em Novembro de 1980, quando o governo se ocupava a discutir o orçamento numa atmosfera de puro delírio e os ministros fingiam não se aperceber que o tecto ia cair, ele pensava já em novas aventuras. Não houve novas aventuras. Como se sabe, os companheiros de Ulisses acabaram transformados em porcos.» (VPV, Retratos e Auto-Retratos, 1992)

Só lá para Outubro

João Gonçalves 18 Jul 15

 

Confesso que os mais recentes "desenvolvimentos" europeus, a par com as exibições políticas caseiras por via da pré-campanha legislativa, empurraram-me para uma maior indiferença relativamente ao desfecho das eleições deste ano. Expliquei isso, em parte, no Jornal de Notícias. As sondagens, aliás, vêm confirmando que o "problema" não é apenas meu e que não há princípio da caridade que salve os principais protagonistas. De tal forma que estou propenso a concordar com o chefe da campanha do dr. Costa, Ascenso Simões, quando descortina algumas virtudes numa maioria relativa. Quando o dr. Passos, numa entrevista, afirmou ser-lhe indiferente que a maioria lhe pertença, ou ao dr. Costa, desde que seja absoluta para que o tratado orçamental vigore enquanto programa de governo, então mais vale guardar as bandeirinhas para outras legislativas precoces. Daí as presidenciais poderem ter mais interesse. Pelo menos para mim. Mas só lá para Outubro.

Sem paciência

João Gonçalves 11 Jul 15

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Para escrever tanto por aqui "como soía" (escrever porquê e para quem quando aparecem cada vez mais escrevinhadores e sabedores de tudo e mais alguma coisa?), e mais atraído preguiçosamente pelas "facilidades" proporcionadas pelo Facebook, fica um resumo mais ou menos semanal. No fundo, isto tudo pouco "muda" a não ser a sucessão inevitável dos dias. Mesmo assim, "DDSS", "different day, same shit".

"Por delicadeza", o governo grego ofereceu a cabeça de Varoufakis. Os mornos são vomitados por Deus mas caem muito bem em reuniões de saia e casaco e fatos escuros. É assim de Bruxelas à mais remota repartição de finanças do mundo. Homens médios só se entendem com homens médios. E não gostam de encontrar profetas desarmados ou figuras de Dante no inferno que criaram especialmente para os outros.E a cabeça do invertebrado socialista holandês? Essa não. A "Europa" não pode prescindir de dois ou três idiotas úteis (acabei de o ver no Eurogrupo que discute o 3º resgate: tão idiota como há uma semana).

O dr. Passos Coelho deve sentir inveja do novo plano austeritário apresentado pelo governo grego.

Pouca gente é versada em história diplomática do país. Ou em história propriamente dita. Porque se fosse não estranharia o comportamento geral das elites perante os desenvolvimentos europeus (digo assim para incluir a Grécia que elas tratam como o "outro"). Entre 1580 e 1640, quando perdemos a soberania na ordem externa, manteve-se a interna dirigida pelas referidas elites que sobraram da ceifa de Alcácer Quibir. Era uma espécie de regime pré- Vichy de colaboracionistas. Deixou marcas.

Sondagem 1. PS cinco pontos à frente da coligação, sem maioria, mas catorze quando se pergunta "quem acha que vai ganhar". Sessenta e qualquer coisa por cento, todavia, acha que a oposição não fez melhor figura. Entre seis ou sete registos, os sondados colocam no fim a preocupação com o défice e a boa figura internacional. Prioridades: emprego, baixar impostos, crescer. Uma larga maioria entende que piorou de vida. Governo preferido sem maioria que os sondados não dão a ninguém? Um "arcão" - PS, PSD, CDS - seguido de perto por uma "maioria de esquerda". Confuso? Não. Vem na literatura sobre a "identidade nacional" e no Séneca: sempre o mesmo querer e não querer o mesmo.

Sondagem 2. Mais coisa menos coisa, conta as mesmas "histórias" das anteriores. Salvo num pormenor. Chama-se Maria de Belém.

O PSD só admite deputados "esterilizados" previamente. Por outro lado o dr. Costa, na escolha dos seus (primeiras linhas), revelou-se melhor do que como candidato a primeiro-ministro. Um persistente "empate técnico".

O que tem graça nesta coisa de transformar o dr. Rio no dr. Nóvoa da "direita", ou seja, num candidato presidencial artificial, é ela ser sobretudo veiculada por "recados" em jornais quando se conhece o "amor" que o dito Rio tem pela liberdade de imprensa.

O José Pacheco Pereira, a sua extraordinária biblioteca e o não menos extraordinário acervo documental, espalhados por um casario variado e interligado na Marmeleira, são o mote da revista Visão. Já lhe dei algumas coisas e outras mais lhe hei-de entregar relativas a algumas "aventuras" políticas em que participei. Ficam em boas mãos.

 

Foi você que pediu esta Europa?

João Gonçalves 8 Jul 15

Por aqui, as circunstâncias eleitorais explicaram parte do desvario jubilatório das esquerdas e da intimidação timorata das direitas. E o "carácter nacional", espalhado em muito comentadorismo, nas redes sociais e em algumas prosas do jornalismo oficioso, o resto: "dureza" e grosseria. Paulo Rangel perguntava ontem, num artigo no Público, "Grécia, Grécia, por que nos abandonaste", presumivelmente na sua recente qualidade de substituto de Alexandra Solnado na interlocução directa com Jesus. E o primeiro-ministro, mais terreno e jurado praticante do tratado orçamental, sugeria que cabia à Grécia escolher. Ou seja, apontou-lhe delicadamente a luz de presença "saída" na lógica, aliás, da aritmética do doutor Cavaco. Ora como preveniu Medeiros Ferreira em Abril de 2012, o Tratado Orçamental foi feito para dividir a Europa e não para a unir. É também isso que revela a tagarelice e a mesquinhice de muitas destas reacções ao transe grego o qual, lá por ser grego, não deixa de ser sobretudo europeu. Os sonsos das "instituições" - com Dijsselbloem à cabeça, Draghi nas mãos, Schulz no tronco e Juncker nos pés -, no lastro de um Conselho Europeu composto por impotentes políticos, activos ou passivos, espelham bem a inexistência de um pensamento sobre o futuro da União. Primeiro, cativa da alacridade dos Tratados desde 1992 e, agora, exclusivamente subordinada ao Tratado Orçamental de 2012 que apenas serviu para aumentar a desconfiança entre estados-membros. O episódio grego decorre fundamentalmente disto e do colapso de décadas de governações falaciosas caídas com estrondo sobre o perplexo e porventura impreparado Tsipras que não hesitou na imolação de Varoufakis. Porque (e volto a pedir emprestadas palavras a Medeiros Ferreira) "neste momento as instituições europeias não funcionam, nem dentro nem fora dos Tratados" dado "o erro inicial da fuga à vontade dos povos e ao escrutínio democrático a nível europeu". Obama e Putin não são meros observadores. Foi você que pediu esta Europa? Eu não.

 

Jornal de Notícias

 

 

 

A uma vetusta notabilidade do PSD, o dr. Balsemão, venerando empresário de comunicação social desde o século passado, ocorreu que "milhões" de portugueses (palavra de honra) anseiam pela candidatura presidencial do dr. Rui Rio. Como tal, convidou-o a montar "o cavalo do poder" que raramente passa à porta de quem, como o dito Rio, terá tão nobre vocação político-tauromáquica. Ora segundo o sempre bem informado dr. Marques Mendes, Rio estará a selar o referido "cavalo" já para a segunda quinzena do mês corrente. Como o que vou dizer a seguir é mais do que do tempo e presença do dr. Balsemão, cuja prestação como 1º ministro persiste inolvidável em cabeças tão insuspeitas como a do Doutor Cavaco saison 1981-1985, talvez conviesse ao "número um" do PSD atentar em duas ou três coisas todas ligadas pela mesma funesta consequência política. Em 1980, precisamente nos idos de Julho, a então Aliança Democrática foi ao Rossio fazer um comício para apresentar o seu candidato presidencial: o general Soares Carneiro. Em Outubro, nas eleições legislativas, a AD renovou a maioria absoluta e, numa conferência de imprensa, anunciou-se essa vitória como a "primeira volta das presidenciais". Em Dezembro, após uma campanha tão dramática quanto trágica, o incumbente Eanes ficava. Cinco anos depois, já Cavaco presidia ao PSD e com eleições legislativas igualmente em Outubro, Freitas do Amaral recebeu o apoio do presidente do PSD para Belém num encontro na sua sede de candidatura. Cavaco ganhou as legislativas, sem maioria, mas, mesmo 1º ministro, empenhou-se de norte a sul na campanha de Freitas até Fevereiro de 1986. Soares ganhou na 2ª volta. Finalmente, vai para dez anos,  o mesmo Soares "impôs-se" ao PS maioritário de Sócrates como candidato a um terceiro mandato contra um Cavaco ainda por vir. Foi em Agosto, no Hotel Altis, diante da euforia de centenas de pessoas e das televisões. Citou-se até Pessoa por causa das finanças e das bibliotecas. Mas foi Cavaco, o último a aparecer, quem venceu e à 1ª volta. É evidente que em 2015 a situação é distinta. Nenhum dos principais contendores das legislativas declarou apoios presidencias. E nem sequer é previsível que o façam antes delas embora algumas "aparições" acabem por os obrigar a pronunciar-se como tem acontecido ao pobre dr. Costa vezes sem conta. O que não beneficia qualquer das partes a menos que haja algo assumido previamente, à semelhança das histórias que contei, o que, porém, não ressume a menor garantia de um desfecho feliz. Embora estime o candidato Henrique Neto, e mesmo com a eventualidade de um ensimesmado Rio presente nos próximos tempos, creio que o próximo PR ainda está para chegar às eleições presidenciais. E podem tirar o cavalinho (do poder) da chuva que ele não chegará seguramente antes de Outubro

A "dramática ilustração"

João Gonçalves 5 Jul 15

 

O dr. Costa - que preside à gloriosa agremiação que nos conduziu alegremente até ao resgate da Primavera de 2011- sugeriu, sem se rir, que há que dar graças pela circunstância de haver um PS (o dele) sem o qual seríamos uma outra Grécia. Ou seja, esta seria a "dramática ilustração" de um Portugal desprovido do concurso, salvífico e tonificador, da sua magnífica pessoa. Porquê? Porque o dr. Costa imagina-se a charneira entre aquilo a que apelida delicadamente de "esquerda radical" (cujos votos, aliás, não revela o menor pejo em catar) e a "direita" não menos "radical" que apenas jura pela austeridade. Na realidade, e com estes oxímoros permanentes, o que o dr. Costa anda a fazer ao PS é transformá-lo num caminho de ninguém, sem ideias fortes (más ou boas) ou um desígnio claro por mais curto que seja. Ele é, por consequência, a "dramática ilustração" de tudo o que o país agora menos precisa.

Strauss-Kahn um dia destes no Twitter. Uma forma de vida inteligente para variar.

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