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portugal dos pequeninos

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«Conselhos de Cavaco»

João Gonçalves 12 Jun 15

 

«Cavaco já provavelmente descobriu que não haverá convergência alguma entre o PS e a coligação e, por isso, resolveu mudar de táctica e passou a dar conselhos professorais ao próximo governo, para que – segundo ele jura – os portugueses possam olhar para o “futuro colectivo com confiança”, “independentemente” do sr. Costa e do sr. Coelho. Isto, vindo de um Presidente da República, é uma inacreditável ingenuidade política ou uma inclassificável mentira. Mas tem de se ver Cavaco como assistente do ISE ou doutorando da universidade de York para o perceber. A receita está no livro a páginas 147 e só quem não a conhece persiste em “fazer um modo de vida da crítica inconsequente”, como o velho do Restelo e outros sócios de má morte, a que a heroicidade indígena não deve dar ouvidos. Cavaco oferece à Pátria quatro conselhos (a prosa é dele). Primeiro: garantir “o equilíbrio das contas do Estado e a sustentabilidade da dívida”. Segundo: garantir “o equilíbrio das contas externas e o controlo do endividamento para com o estrangeiro”. Terceiro: garantir “a competitividade da economia face ao exterior”. E, quarto: estabelecer “um nível de carga fiscal em linha com os nossos principais concorrentes”. Estas recomendações, que parecem uma lista de pecados mortais ou um folheto de 1930 para defender a castidade de meninas púberes, é, no fundo, como o género indica, uma enumeração de impossibilidades. Pior: uma enumeração que revela a profunda ignorância da história económica de Portugal e da Europa (digamos, desde meados do século XVIII) do Prof. Cavaco Silva. Se os conselhos que ele misericordiosamente nos comunicou em Lamego se tivessem seguido nunca Portugal haveria passado por qualquer espécie de crise e os nossos políticos andariam hoje espanejando o Paraíso com as suas asas. Mas não, não sejamos tão impiedosos com o nosso querido Presidente da República. Afinal ele estudou economia e finanças, disciplina irmã da roleta e do poker, e gosta de apostar: na espiral recessiva, na estagnação, na retoma, no que lhe apetecer. Os colegas também apostam e a bicharada dos partidos também. Mas convém que o povo não se exalte e não caia na asneira de acreditar nele. De Lamego que poderia ele comunicar ao país? Caros portugueses, estamos sem um tostão e deste sarilho não nos safamos tão cedo…? Nem o deixavam voltar a Lisboa.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

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