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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Não havia necessidade

João Gonçalves 22 Mai 15

 

O Estado, nas pessoas do seu Venerando Chefe e do Senhor Primeiro-Ministro, inaugura hoje uma coisa em forma de imenso trambolho a que se dá piedosamente o nome de Museu dos Coches. Como uma desgraça nunca vem só, a TVI antecipou-a no seu "jornal da noite" de ontem ocorrido lá. E o "jornal" também não escapou ao infortúnio e ao mau gosto. Pelo meio até apareceu o equívoco da Ajuda, Barreto Xavier, para uns rápidos minutinhos de trivialidades à altura dos intervenientes. Terá, porém, escapado ao apresentador que o Museu original foi fundado pela notável mulher do não menos notável Rei D. Carlos? Obcecado em mostrar o transporte onde o Rei circulava  quando o mataram, o apresentador - e o pior interlocutor que Marcelo jamais teve nos cem anos que leva de estúdios de televisão - decidiu terminar o exercício a ler o "testamento do Buiça" não fosse dar-se o caso de esquecermos que vivemos numa República. Apesar de ser republicano, a futilidade do momento "pedagógico" incomodou-me. Não havia necessidade.

Eanes e o "transportador de desassossegos"

João Gonçalves 22 Mai 15

 

Lamento, pela admiração antiquíssima e pela amizade, que o General Ramalho Eanes, estribado em dois ou três lugares-comuns absolutamente pueris, se ligue à candidatura efémera de António Nóvoa. Não imagino o herói militar do 25 de Novembro, e candidato presidencial por uma democracia liberal em 1976, louvar-se em alguém que está para as eleições de 2016 como Otelo esteve para as primeiras presidenciais. Ou Pintasilgo para as de 1986 apesar de ser ainda hoje incomparável o seu legado com esta pura invenção académica e ensimesmada. Não, Senhor Presidente Eanes, Nóvoa não é propriamente um ex voto da "Pátria e dos grandes valores nacionais" e, muito menos, da "sua história,  cultura e ética de inspiração cristã". Depois do que lhe conhecemos, ele próprio deve estar admirado com tamanhos atributos que, apesar do enamoramento pelo que vê ao espelho quando se contempla, não imaginava possuir. Porque, de facto, não os possui. Isto é, o homem apresenta um vazio no lugar da biografia política que, fosse esse o caso, o poderia recomendar para a chefia do Estado. Acho que Maria de Fátima Bonifácio lhe explica isto melhor do que eu. «Nóvoa revolta-se contra “uma austeridade” que fragilizou e empobreceu Portugal e indigna-se com uma “política” incapaz de apresentar “uma única ideia de futuro”. Lê-se e pasma-se: ele próprio não apresenta nem a sombra de metade duma (...). A sua ideia de campanha eleitoral é todo um programa para a Presidência. Informal, basista, feita de “redes animadas pelas pessoas”; sem a “organicidade” que mata a imaginação e coarcta a iniciativa espontânea das “pessoas”. Nóvoa espera delas quase tudo, incluindo as ideias que ele não tem. Resultará? Há “risco”, mas o “transportador de desassossegos” (assim lhe chama Barata Moura) “preferirá sempre morrer ingénuo do que amargurado”. Não lhe ocorre que a ingenuidade na fase adulta da vida ou indica estupidez e imperdoável inexperiência, ou significa que se passou pela vida sem dar por ela, em estado de permanente distracção. Mas grave é apenas a hipocrisia, porque a universidade é um meio humano como qualquer outro: com invejas, raivas, disputas, competições e por aí fora, como na política. E, tal como na política, não se chega a reitor sem muito jogo de cintura. Nóvoa não é puro e virginal (...). Ao cabo de tantos e tantos anos, e de tantos esforços, Nóvoa ainda não assimilou um dado elementar da vida política portuguesa, a saber, que a extrema-esquerda recusa liminarmente todo o “entendimento” com qualquer partido integrante do “insuportável” arco da governação (...). Inquirido, há dias, se se sentia mais próximo do Partido Socialista ou do Partido Comunista, o candidato à Presidência da República respondeu: “Não sei.” Está tudo dito. Politicamente, António Nóvoa não sabe o que é, nem quem é. Sabe que lhe falta o cursus honorum da política, mas acha natural o desígnio de se projectar logo para o topo. De resto, salvo um convívio informal com a LUAR nos seus tempos de juventude, que lhe proporcionou o conhecimento de Zeca Afonso e “os momentos mais importantes da sua vida”, nunca se conspurcou no antro dos partidos. A sua candidatura, que ainda não recebeu o apoio declarado de nenhuma dessas agremiações, é “pessoal”. Esta circunstância confere-lhe uma “independência” “na qual sectores militares se revêem com alguma simpatia”. Eis o que nos deve tranquilizar a todos. Tanto mais que “sempre [foi] muito desalinhado”. “Nunca me filiei.” Não tenhamos dúvidas de que este “transportador”, caso António Costa cometa o erro colossal de o impor ao PS, vai derramar sobre as nossas cabeças (e sobre a dele) uma chuva de “desassossegos”

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