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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

As palavras e as coisas

João Gonçalves 9 Mai 15

 

Aquando do debate televisivo entre a saudosa Maria de Lurdes Pintasilgo e Mário Soares, antes da primeira volta das presidenciais de 1986, Pintasilgo desatou a dada altura a debitar "harmonias sociais" sem tom nem som como aquelas que António Nóvoa, 30 anos depois, aprecia igualmente debitar. Soares, com rara delicadeza, explicou-lhe que, por aquele caminho e se ela porventura fosse eleita, não sobraria um castiçal em Portugal. No fundo, Henrique Neto nesta entrevista ao Observador, tira praticamente a mesma conclusão de Soares em 1986: «O discurso do prof. Nóvoa é um discurso que reflecte o currículo dele, a sua vida, o seu passado. É um discurso um pouco lírico, um pouco poético. Nesse plano inquestionavelmente bonito, mas que não se confronta com a realidade dos problemas nacionais. É um discurso feito de palavras, mas discursos de palavras o país já tem anos – o país precisa de acção. Um especialista da palavra não é o que o país precisa neste momento.»

A razão de Paulo Dentinho*

João Gonçalves 9 Mai 15

«Os comentadores que são ao mesmo tempo políticos no “activo” ou esperam voltar à política “activa” dentro de pouco tempo estão hoje em larga maioria na televisão e na imprensa. Já lamentei aqui essa promiscuidade. Mas não deixa de ser bom lembrar alguns factos. Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Santos Silva, Manuela Ferreira Leite, António Lobo Xavier, Jorge Coelho, Francisco Louçã e Francisco de Assis pontificam semanalmente na SIC e na TVI. Nos jornais, tirando o Expresso e o Sol, escrevem Mário Soares, Marques Mendes, Luís Amado e meia dúzia mais. Isto para não falar de entrevistas (que não se pagam) ou debates (que também não se pagam), mas que permitem a certas cabeças da “classe dirigente” uma exposição contínua ao público eleitor. O problema que isto levanta é compreensível: por que valor tomar os comentadores que se comentam a si próprios, comentam os seus presuntivos sócios no partido e têm um interesse pessoal na generalidade das questões que discutem? Não há maneira de julgar o peso e a consequência do que eles dizem e menos do que eles, sem dizer, insinuam. Só que, para lá disso, a presença dos políticos no jornalismo cria uma familiaridade e uma cumplicidade que prejudicam, quando não falsificam, a verdadeira opinião. Quem trabalha no mesmo sítio ou na mesma empresa, se encontra regularmente nos corredores, fala do que se vai passando no país, conta casos da sua vida privada ou partilha o último boato, acaba, pouco a pouco, por revelar o que não deve ou quando não deve. O SMS de António Costa a um jornalista do Expresso mostra muito bem a enorme trapalhada em que se caiu. O jornalista escreveu sobre Costa uma coisa qualquer de que Costa não gostou. Fim de história? Não. Em vez de ficar calado (o secretário-geral do PS não “responde” a jornais), Costa resolveu mandar um SMS ao jornalista em que o tratava mal e o jornalista mandou um SMS “atencioso” a Costa e publicou imediatamente toda esta pouco saborosa troca de mimos. Grande escândalo. Mas ninguém perguntou a evidência: como tinha Costa o número do jornalista? Conhecia o homem de algum lado? Por que razão aquela crítica irritou especialmente o nosso putativo salvador? No submundo em que os dois circulam, existe com certeza uma explicação para o caso. Para nós, não.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

 

*director de informação da RTP que acabou com o "comentário político por político" no canal público generalista, uma medida que devia estender-se aos de "informação" ou  "notícias" que mais parecem jogos amigáveis ou prolongamentos dos pseudo debates da Assembleia da República

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