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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Isabel

João Gonçalves 31 Mai 15

 

Joana Emídio Marques, no Observador, foi ouvir alguns vivos (e leu alguns mortos) sobre Isabel da Nóbrega e fez este texto digno sobre a autora de Viver com os Outros. «Talvez por sermos um país onde a cultura conta muito pouco, os leitores preferem seguir os amores dos jogadores de futebol e das modelos, dos actores de telenovela, e das apresentadoras de televisão.» Talvez. Estive algumas vezes com Isabel, que completa em breve 90 anos, graças ao Júlio de Magalhães e ao José Manuel dos Santos. Com ela e com Lagoa Henriques, seu amigo enorme. Esses tempos terminaram, como tudo termina na vida, sem aviso, mas Isabel é ainda uma imagem relativamente recente entrevista de uma janela do metro de Lisboa. E o texto de o Observador também é digno por outra razão. Porque ergue Isabel da Nóbrega acima da execrável mitologia nacionaleira criada em torno de um escritor e da sua executora testamentária. Desta, muito adequadamente, nem o nome é referido. Para quê conspurcar os olhos doces de Isabel com tamanho horror?

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O antigo amanuense de Marcelo

João Gonçalves 30 Mai 15

 

Alguém fez uma maldade ao dr. Rio e à coligação. Sugere-se que o primeiro poderá ser candidato presidencial com o apoio da "direcção nacional do PSD" e visto "agradavelmente" pelos "centristas". O antigo secretário-geral do PSD, quando Marcelo Rebelo de Sousa era seu presidente, como já disse por aqui, não passa politicamente da ponte D. Luís. Aliás, seria a primeira vez que um candidato "regional" seria suportado por partidos de raiz nacional. E seria meio caminho andado para ambas as partes se "afogarem" nas águas que passam debaixo da referida ponte. O dr. Costa, de quem Rio é "cúmplice" pela sempre extraordinária via autárquica, agradeceria penhoradamente.

Para quê?

João Gonçalves 28 Mai 15

 

Um trabalho da "fundação pingo-doce" concluiu que o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, foi tomado em alguns departamentos pela robusta turma da "cunha". Para além disso, algum material público terá sido alegadamente "desviado" por funcionários públicos para as suas actividades privadas. O "desvio" inclui, como lhes competia, doentes. Isto teria a ver com amiguismo puro, comadrio vário e pertença a seitas, partidárias e menos conspícuas. Ninguém no seu completo juízo imagina que toda a gente que recorre a um hospital público penetra pelas mesmas portas e segue pelos mesmos corredores. Quem se limita a seguir os "sinais" tem, conforme o assunto, para horas, dias, meses ou anos. Das duas vezes que tive de recorrer às urgências do Santa Maria, de uma fui logo atendido (uma luxação que me matava com dores) e da outra, por causa de uma hérnia, foi-me simpaticamente sugerida a intervenção dois dias depois noutro lado. Ali, a hérnia inguinal arriscava passar da forma de ovo que então tinha a uma melancia. Há sempre dois "mundos" nestas coisas. O de quem "conhece" e o de quem não "conhece". O de quem pode pagar e o de quem não pode. Agora vão "investigar". Para quê?

O candidato artificial

João Gonçalves 27 Mai 15

 

A "biografia" começou, vai para três anos, num 10 de Junho sob o Alto Patrocínio do Senhor Presidente da República. Conseguiu cativar um pequeno núcleo académico que, de repente, o imaginou subtil depois de umas picardias televisivas espúrias contra o "socratismo" educativo. A seguir deu por si empurrado para as "grandoladas" promovidas pela nova "aliança ex-povo-ex-MFA", a saber, o dr. Soares, os seus bonzos, o notável coronel Lourenço e a extrema-esquerda festiva. Falou, debitou poesia e exibiu o cravo da praxe. Guardou-o para o congresso albanês do dr. Costa onde perorou sem ser ouvido. Ora este descendente apolítico de um híbrido improvável - que junta o "otelismo" GDUP de 1976 ao "movimento pelo aprofundamento da democracia (MAD)" da saudosa Lurdes Pintasilgo passando por alguma descendência nobre da ala militar triunfante no "25 de Novembro" e pelo efémero PRD - apresentou anteontem uma "carta de princípios", no Teatro Rivoli (sempre teatros) do Porto, daquilo que concebe como um mandato presidencial protagonizado pela sua magnífica pessoa. Com receio que o termo "presidencialismo" assuste algum PS mais perplexo, António Nóvoa promete não ser "passivo" nem "cerimonial". Prefere aventurar-se por um caudilhismo romântico e basista que alegadamente "respeita" o prevenido na Constituição para o PR. O resto é, sem remédio, o artificialismo Nóvoa. "É preciso unir uma sociedade rasgada, juntando os portugueses, as portuguesas, numa luta comum, sem medo de existir (aqui uma leve "inscrição" José Gil). Não há destinos marcados", um momento anti-Tony de Matos. Com Nóvoa o destino não marca a hora (marca-a ele, como veremos) porque vive "impacientemente" já que a "esperança é hoje". Talvez para os "jovens, rapazes e raparigas", à moda da Mocidade Portuguesa. Todavia, e apesar deste palavreado oco, "as palavras não são só palavras. São pessoas, são vidas, são passado e são futuro". É Gil outra vez: "inscrever um outro conhecimento da vida e do país real, através do encontro e da escuta". Finalmente, a "mensagem". "Esta é, tem que ser, novamente, a nossa hora, a hora de todas as mulheres e homens deste país, a hora de Portugal". É a resposta retórica da eminência Nóvoa a Pessoa quanto este pergunta "Quando é a Hora?", e mais adiante responde: "É a Hora!". A ideia de hordas de espectadores a abandonar teatros, à pressa, para ir cumprir "a hora de Portugal" do prof. Nóvoa é inverosímil. Tanto quanto o candidato que a quer mandar cumprir.

 

 

Jornal de Notícias

 

Adenda: Depois de escrita esta crónica, reparei que o General Ramalho Eanes baptizou António Nóvoa como "um provocador de reflexões". Já antes era tido por um "transportador de desassossego". Fica-se na dúvida a que é que o homem, na realidade, se candidata com tanto engendramento. A algum prémio literário parecido com aquele que Pessoa disputou com Mensagem e que foi arrebatado por A Romaria do Padre Vasco Reis? A Belém de certeza é que não.

Tenham juízo

João Gonçalves 26 Mai 15

Maria Luís Albuquerque até pode ter toda a razão financeira do mundo na questão da segurança social. O dr. Vieira da Silva, o incumbente há quatro anos juntamente com o actual edil de Lisboa, também. Mas aparentemente a matéria é demasiado séria e profunda para ser discutida entre croquetes e coca-colas fornecidos pela "jota". Ou em conferências de imprensa aviadas a correr para animar os jogos florais entre o PSD, o CDS e o PS. Não parece mas há pessoas pelo meio. Tenham juízo.

Incertezas

João Gonçalves 24 Mai 15

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Tem a sua piada ouvir o dr. Costa falar em "incerteza permanente" a propósito de uma fala qualquer da ministra das finanças sobre sustentabilidade da segurança social e das pensões. A "solução" abstrusa que o dr. Costa arranjou, ligando aquela aos "incentivos" ao mercado de arrendamento imobiliário, devia impedi-lo, pela natureza das coisas, de comentar as mais leves diatribes da dra. Maria Luís. Que parece apostada em seguir, com o dr. Passos a apoiá-la entusiasticamente, uma ideia do pragmatista norte-americano William James: primeiro continua-se, depois começa-se. A pré-campanha e a campanha legislativas ameçam, assim, tornar-se num chorrilho insuportável de disparates sobrepostos e de regurgitações parvas em "economês". De política, nada. Depois não se queixem da "incerteza" dos resultados.

«A catástrofe»

João Gonçalves 24 Mai 15

 

«O sentimento de catástrofe política voltou: no final do PREC e, pouco a pouco, volta agora, à medida que a sociedade se dissolve, o discurso público se torna radicalmente absurdo e cresce a impotência do regime. Nenhum partido, à esquerda e à direita, tem a força e clareza de ideias para nos devolver destino. Sucede que muitos pedem “confiança” ou “prudência”, mas não existe “confiança” ou “prudência”, quando de lado a lado as promessas se tornaram, de facto, em “apostas”, quase sempre insensatas, que por si bastavam para arruinar a República. O sr. Cavaco Silva devaneia, enquanto vai enfraquecendo e restringindo o seu próprio poder. O primeiro-ministro apura a sua própria personagem para consumo eleitoral. O chefe da oposição anda perdido num pequenos caos de planos, de propostas, de medidas, que perturba toda a gente e não esclarece ninguém. E o cidadão comum, se não desistiu já de se interessar, espera com inquietação que Portugal estoire sem aviso e sem remédio. Um dia ouviremos na televisão que a desgraça já está em marcha e nesse dia ninguém nos virá salvar.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

Não havia necessidade

João Gonçalves 22 Mai 15

 

O Estado, nas pessoas do seu Venerando Chefe e do Senhor Primeiro-Ministro, inaugura hoje uma coisa em forma de imenso trambolho a que se dá piedosamente o nome de Museu dos Coches. Como uma desgraça nunca vem só, a TVI antecipou-a no seu "jornal da noite" de ontem ocorrido lá. E o "jornal" também não escapou ao infortúnio e ao mau gosto. Pelo meio até apareceu o equívoco da Ajuda, Barreto Xavier, para uns rápidos minutinhos de trivialidades à altura dos intervenientes. Terá, porém, escapado ao apresentador que o Museu original foi fundado pela notável mulher do não menos notável Rei D. Carlos? Obcecado em mostrar o transporte onde o Rei circulava  quando o mataram, o apresentador - e o pior interlocutor que Marcelo jamais teve nos cem anos que leva de estúdios de televisão - decidiu terminar o exercício a ler o "testamento do Buiça" não fosse dar-se o caso de esquecermos que vivemos numa República. Apesar de ser republicano, a futilidade do momento "pedagógico" incomodou-me. Não havia necessidade.

Eanes e o "transportador de desassossegos"

João Gonçalves 22 Mai 15

 

Lamento, pela admiração antiquíssima e pela amizade, que o General Ramalho Eanes, estribado em dois ou três lugares-comuns absolutamente pueris, se ligue à candidatura efémera de António Nóvoa. Não imagino o herói militar do 25 de Novembro, e candidato presidencial por uma democracia liberal em 1976, louvar-se em alguém que está para as eleições de 2016 como Otelo esteve para as primeiras presidenciais. Ou Pintasilgo para as de 1986 apesar de ser ainda hoje incomparável o seu legado com esta pura invenção académica e ensimesmada. Não, Senhor Presidente Eanes, Nóvoa não é propriamente um ex voto da "Pátria e dos grandes valores nacionais" e, muito menos, da "sua história,  cultura e ética de inspiração cristã". Depois do que lhe conhecemos, ele próprio deve estar admirado com tamanhos atributos que, apesar do enamoramento pelo que vê ao espelho quando se contempla, não imaginava possuir. Porque, de facto, não os possui. Isto é, o homem apresenta um vazio no lugar da biografia política que, fosse esse o caso, o poderia recomendar para a chefia do Estado. Acho que Maria de Fátima Bonifácio lhe explica isto melhor do que eu. «Nóvoa revolta-se contra “uma austeridade” que fragilizou e empobreceu Portugal e indigna-se com uma “política” incapaz de apresentar “uma única ideia de futuro”. Lê-se e pasma-se: ele próprio não apresenta nem a sombra de metade duma (...). A sua ideia de campanha eleitoral é todo um programa para a Presidência. Informal, basista, feita de “redes animadas pelas pessoas”; sem a “organicidade” que mata a imaginação e coarcta a iniciativa espontânea das “pessoas”. Nóvoa espera delas quase tudo, incluindo as ideias que ele não tem. Resultará? Há “risco”, mas o “transportador de desassossegos” (assim lhe chama Barata Moura) “preferirá sempre morrer ingénuo do que amargurado”. Não lhe ocorre que a ingenuidade na fase adulta da vida ou indica estupidez e imperdoável inexperiência, ou significa que se passou pela vida sem dar por ela, em estado de permanente distracção. Mas grave é apenas a hipocrisia, porque a universidade é um meio humano como qualquer outro: com invejas, raivas, disputas, competições e por aí fora, como na política. E, tal como na política, não se chega a reitor sem muito jogo de cintura. Nóvoa não é puro e virginal (...). Ao cabo de tantos e tantos anos, e de tantos esforços, Nóvoa ainda não assimilou um dado elementar da vida política portuguesa, a saber, que a extrema-esquerda recusa liminarmente todo o “entendimento” com qualquer partido integrante do “insuportável” arco da governação (...). Inquirido, há dias, se se sentia mais próximo do Partido Socialista ou do Partido Comunista, o candidato à Presidência da República respondeu: “Não sei.” Está tudo dito. Politicamente, António Nóvoa não sabe o que é, nem quem é. Sabe que lhe falta o cursus honorum da política, mas acha natural o desígnio de se projectar logo para o topo. De resto, salvo um convívio informal com a LUAR nos seus tempos de juventude, que lhe proporcionou o conhecimento de Zeca Afonso e “os momentos mais importantes da sua vida”, nunca se conspurcou no antro dos partidos. A sua candidatura, que ainda não recebeu o apoio declarado de nenhuma dessas agremiações, é “pessoal”. Esta circunstância confere-lhe uma “independência” “na qual sectores militares se revêem com alguma simpatia”. Eis o que nos deve tranquilizar a todos. Tanto mais que “sempre [foi] muito desalinhado”. “Nunca me filiei.” Não tenhamos dúvidas de que este “transportador”, caso António Costa cometa o erro colossal de o impor ao PS, vai derramar sobre as nossas cabeças (e sobre a dele) uma chuva de “desassossegos”

O rosto e as máscaras

João Gonçalves 21 Mai 15

Passam seis meses sobre a detenção de José Sócrates. Primeiro para interrogatório e a seguir a título de medida de coacção máxima. Ainda há quatro anos este homem era o primeiro-ministro de Portugal. Dirigira entretanto um dos maiores partidos políticos portugueses. Foi deputado, secretário de Estado e ministro. O livro de Fernando Esteves é, até agora, a sua única biografia política. Não me refiro, claro, às primeiras páginas em torno do processo que o mantém detido. Sócrates não está acusado nem "arquivado". Persiste num limbo carcerário que, segundo um companheiro de infortúnio, o mata em vida (o livro termina com esta frase enigmática: "está morto em vida".) Todavia o livro não revela uma personagem susceptível, seja em que circunstância for, de poder "estar morto em vida". O autor optou por sujeitar a ordem cronológica dos "factos" à relevância dos temas. Tratou-se de uma opção inteligente que permite traçar algumas constantes na vida política do biografado desde cedo. E juntá-las. Ambição com intimidação, auto-estima com megalomania, determinação com teimosia, inteligência com esperteza, complexos com excessos, controlo com insegurança, ambiguidade com firmeza, manipulação com imagem. O que sobretudo me impressionou foi a clara ausência de densidade democrática no homem político que a persona Sócrates forjou. António Barreto escreveu uma vez que não sabia se Sócrates era fascista. Prefiro, depois de ter lido o livro, a perplexidade de não ter a certeza se Sócrates é um democrata respeitador das liberdades públicas. Espero que um dia, livre e "vivo em vida" como o concebo, me possa esclarecer.

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