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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Somos o mundo, somos as crianças

João Gonçalves 7 Fev 15

 

Se não tivesse visto, na televisão, não acreditava nesta palhaçada (vale a pena ver o clip). O texto do jornal, aliás, resume-a perfeitamente. «Batem com as mãos nas pernas, no peito, agitam os braços, fazem a onda, gingam as ancas e gritam “Aicep go go go”, às ordens de três figuras no palco. Os 300 jovens do programa de estágios Inov Contacto completam assim – com uma equipa motivacional - o segundo dia de formação antes de partirem para um estágio no estrangeiro. A imagem é desconcertante: Não parece, mas pouco passa das nove da manhã e espera-se pelo vice-primeiro-ministro num circunspecto auditório da faculdade de Economia da Universidade Nova. Paulo Portas viria a dar uma espécie de aula de economia, também ela motivacional, mas já com a sala em silêncio. Os mais de 40 minutos de sessão motivacional, com muita linguagem corporal, acabaram com uma selfie improvável (tirada do palco para o auditório e uma moldura kitch de luzes verdes e vermelhas intermitentes) tirada pela equipa de animação contratada, ao som de All You Need Is Love e muitas palmas da plateia. Minutos de descontração que fazem arrancar o segundo dia de formação destes jovens – a média de idades é de 25 anos – que só ao final desta sexta-feira vão saber qual o seu país de destino do estágio proporcionado pelo programa apoiado pelo Aicep (Agência de Investimento e Comércio Externo de Portugal). Pode ser Estados Unidos, Brasil ou Moçambique. Mas levam algumas lições de Paulo Portas que conseguiu calar o ânimo da sala, depois de entrar ao som de um êxito de Anselmo Ralph: ‘Agora não me tocas…’.» A propósito deste misto de carnaval propagandístico com gravitas de opereta, lembrei-me de Heidegger, num pequeno livrinho, "Serenidade" ("Gelassenheit"): «a ausência de pensamentos é um hóspede sinistro que, no mundo actual, entra e sai em toda a parte». E também de Alain Finkielkraut, em "A derrota do pensamento", reflectindo sobre a emergência dos mega concertos rock e citando Paul Yonnet, "L' esthétique rock": «Face ao resto do mundo, o povo jovem não defendia apenas gostos e valores especí­ficos. Mobilizava igualmente, diz-nos o seu grande turiferário "outras zonas cerebrais para além das da expressão linguística. Conflito de gerações, mas também conflito de hemisférios diferenciados do cérebro (o reconhecimento não verbal contra a verbalização), hemisférios durante muito tempo cegos, neste caso um para o outro". A batalha foi dura, mas o que chamamos hoje comunicação, atesta-o: o hemisfério não verbal acabou por vencê-la, o clip triunfou sobre a conversa, a sociedade "tornou-se por fim adolescente", encontrou o seu hino internacional: we are the world, we are the children. Somos o mundo, somos as crianças.»

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